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Zagreb – Agradável surpresa em cenário de contos natalinos

Foto por istock/ xbrchx

A Croácia com suas lindas praias espalhadas ao longo de mais de 1.778 quilômetros de costa e 1.185 ilhas que pontilham o mar de águas cristalinas e tonalidades entre o verde e o azul-turquesa é uma velha conhecida dos turistas do mundo todo. Principalmente durante o verão, quando o foco quase sempre são Dubrovnik e Split. A capital Zagreb nem sempre inclui os roteiros pelo país. E quem deixa a cidade de lado não sabe o que está perdendo. Cosmopolita como outros centros da Europa Ocidental e com o charme típico do Leste Europeu, possui avenidas largas, muitas áreas verdes e impressionantes construções do Império austro-húngaro. Tem também uma vibrante cena cultural com mais de 20 museus, 10 teatros, 350 bibliotecas e gastronomia refinada nos muitos e bons bares e restaurantes.

Foto por ISTOCK.COM / DEYMOS

No dia em que cheguei a Zagreb, uma sexta-feira gelada com temperatura alguns graus abaixo de zero, quase véspera de Natal, tive vontade de não sair do hotel. Mas sexta-feira é dia sair, comer, beber, circular. Além do mais, teria apenas dois dias na cidade e não poderia perder tempo. O guia turístico Damjan Beusan, um croata politizado e que fala muito bem o português não me deu trégua e logo após o almoço saímos para começar o tour pela Cidade Alta (Gornji Grad), a parte mais antiga que remonta aos tempos medievais.

Para chegar até lá, atravessamos a Porta de Pedra (Kamenita Vrata), um portão medieval atualmente transformado em santuário. A construção do século 13 servia como uma das entradas principais de Zagreb, além de importante equipamento de defesa da cidade. Outra opção de acesso é utilizar o antigo funicular (século 17), que percorre um curto trajeto de apenas 66 metros.

Em seguida atravessamos um bonito caminho arborizado chamado Strossmayer Promenade, que acompanha as muralhas medievais da cidade. O lugar tem um mirante com ótima vista da Cidade Baixa (Donji Grad), parte moderna com os edifícios dos tempos socialistas. No verão, o lugar costuma ser bem agitado com muitas atividades ao ar livre.

Nosso roteiro começou com visita à Igreja de São Marcos, construída no século 13, que ostenta um mosaico de azulejos no telhado que formam o desenho de brasões. Um deles lembra a curiosa camisa da seleção da Croácia. O xadrez alvirrubro é o brasão de armas do país desde o século 16. O outro representa a kuna, que em português significa marta, o animal que dá nome à moeda croata – sua pele era muito valiosa na antiguidade. No interior da igreja estão obras de Ivan Meštrović, escultor mais famoso do país, e afrescos de Jozo Kljaković, outro artista croata também muito importante.

Foto por ISTOCK.COM / DREAMER4787

Bem próximo está um museu muito interessante, o de Relacionamentos Terminados (Museum of Broken Relationships). Trata-se de uma exposição simplesmente inusitada, que tem como tema central a dor de um coração partido. Contam por lá que tudo teve início quando um casal que estava se separando resolveu exibir ao público diversos objetos pessoais com o objetivo de “encerrar” a relação. Em pouco tempo muitas outras pessoas do mundo inteiro, que viviam ou tinham passado por experiências semelhantes, passaram a enviar pertences que lembravam seus antigos amores. Há de tudo um pouco nas dependências do museu. Cada item está acompanhado por legendas explicativas. Entre os mais curiosos que achei por lá está um anão de jardim que a esposa jogou sobre o carro novo do marido. Há histórias engraçadas e outras bem tristes. Mas vale a visita.

Ainda na Cidade Alta fomos até a Torre Lotrscak – erguida no século 13 -, uma visita imperdível. Medieval, ela proporciona uma das melhores vistas da região em seu ponto mais alto, que é alcançado após a subida dos mais de trezentos degraus. O guia Damjan contou sobre um ritual que se repete diariamente ao meio-dia, quando um velho canhão do século 19 é disparado para anunciar a hora aos moradores da cidade e relembrar que Zagreb não foi tomada pelos turcos e permaneceu católica. Voltei lá no dia seguinte para ver. Tape os ouvidos porque o estrondo é bem forte.

A tarde caía e a temperatura também. Passamos rapidamente pela Praça Kaptol, famosa por abrigara Catedral da Assunção da Virgem Maria, construída em 1899. Suas torres podem ser vistas de todas as partes. Dentro dela chama a atenção o corpo embalsamado de um controvertido cardeal croatachamado Alojzije Stepinac.

Na saída, percorremos a charmosa Tkalciceva, rua com muitos bares, cafés e restaurantes com mesas ao ar livre. No passado, no local ficava a fronteira entre as cidades muradas de Kaptol e Gradec, que após guerrearem por muito tempo se uniram e deram origem a Zagreb. Meu guia zagrebiano garantiu que essa rua é muito concorrida nos dias quentes e nos finais de semana de verão, além de ser um dos melhores points da noite da cidade.

Não foi o que eu vi por causa da tarde fria. Mas deu para perceber que as ruelas da Cidade Alta são muito interessantes.

Já com a noite chegando assistimos a uma apresentação de um Presépio Vivo em frente à catedral. Os “atores” são pessoas ex-moradoras de rua que conseguiram sair dessa condição e, em agradecimento, querem transmitir uma mensagem de esperança a todos.

No caminho de volta ao hotel fiquei impressionado com a beleza dos enfeites e iluminação preparada para os festejos natalinos.

Mercado tradicional e muitas áreas verdes 

O sábado em Zagreb começou como a sexta-feira terminou: com frio, muito frio! Damjan chegou ao hotel onde eu estava hospedado dizendo que não podíamos perder tempo porque tínhamos muita coisa para ver. Tal como no dia anterior, todo o roteiro seria percorrido a pé. Não se assuste porque os atrativos turísticos não ficam distantes uns dos outros.

Foto por ISTOCK.COM / IASCIC

A caminho do Mercado Dolac atravessamos a Praça Ban Josip Jelacic, considerada o coração de Zagreb. Toda enfeitada para o Natal, ela está cercada por bares, restaurantes e grandes lojas. Também é o ponto inicial do Green Horseshoe Promenade – Ferradura Verde em livre tradução -, um conjunto de praças e parques onde estão o Jardim Botânico, o Teatro Nacional e o Museu Mimara, que guarda um acerco com 3 mil peças.

Você percebe que está chegando ao mercado pelo burburinho e também pelo cheiro das frutas e flores. Desde 1930, o Dolac é uma tradição em Zagreb. Local onde todas as manhãs os produtores locais armam suas barracas protegidas por grandes e chamativos guarda-sóis vermelhos. Além das frutas e flores eles também comercializam verduras, embutidos, laticínios, mel, carnes, peixes frescos e até artesanato. Bom local para provar a típica culinária croata.

A cidade tem muitas áreas verdes distribuídas entre praças e parques. Apesar do sábado frio, havia muita gente nas ruas e nas áreas de lazer. Claro que os croatas estão acostumados e dois ou três graus abaixo de zero não impedem de sair e passear. Entre as opções estão o Parque Zrinjevac, uma grande área arborizada que tem a Academia Croata de Ciências e Arte bem no centro e prédios importantes como o Museu de Arqueologia e a Suprema Corte nos arredores; o Parque Kralja Tomislava, onde está o Pavilhão de Arte: e o Jarun, parque em torno de um lago e opção de lazer e entretenimento.

Foto por ROBERTO MAIA

Eu não fui por falta de tempo, mas o cemitério da cidade, o Mirogoj é considerado uma verdadeira obra de arte com a assinatura do arquiteto franco-alemão Hermann Bollé. Desde os anos 1870 ele recebe “hóspedes” de todas as raças e credos, ricos e pobres. Chama a atenção os túmulos e mausoléus colossais, ornados com estátuas e outros monumentos.

 Mercados de Natal: luzes e emoção 

Foi bem corrido mas deu para conhecer os principais pontos de atração de Zagreb. A noite de sábado chegou e com ela um espetáculo de luzes e atrações espalhado pelo centro da cidade, os Mercados de Natal – Advento em Zagreb. Eu nunca havia estado em um antes e fiquei encantado e emocionado. O espírito natalino se apresenta com toda força e beleza. A começar pela iluminação e enfeites.

A população local curte muito as festividades natalinas. Muita gente vem de diversas partes do país para passar um final de semana em Zagreb somente para aproveitar os Mercados de Natal. Os croatas cultivam as tradições católicas e o nascimento de Jesus é muito comemorado.

Foto por ISTOCK.COM / MAPICS

Os Mercados de Natal da capital acontecem em sua maioria entre o final de novembro e até o dia 24 de dezembro. Alguns seguem até o início de janeiro. Durante esse período, uma multidão de pessoas encapotadas perambulam alegres, quase que nem se importando com a congelante temperatura. Frio que é amenizado por generosos copos de vinho quente (mulled wine), chás e chocolate quentes acompanhados por saborosos donuts de canela ou bolos e biscoitos de gengibre em forma de coração – o símbolo de Zagreb. Uma infinidade de barraquinhas vende bebidas, comidas típicas – como as deliciosas e tradicionais salsichas croatas -, doces, artesanatos e muitas outras coisas relacionadas ao Natal.

Na Praça do Rei Tomislav, uma pista de patinação no gelo reúne adultos e crianças, enquanto no palco montado na Praça Jelacic, músicos e corais se apresentam e entoam cânticos natalinos. Na fonte da praça são colocadas velas e uma grande árvore de natal iluminada convida para fotos e selfies. As ruas próximas também ficam tomadas por barraquinhas e os bares e restaurantes ficam lotados.

Verdadeiro cenário de contos de Natal, o Parque Zrinjevac tem suas grandes árvores centenárias decoradas e iluminadas. Pequenas casinhas brancas de madeira vendem delícias gastronômicas como o krpice sa zeljem (macarrão com repolho), zapecene strukle (pastel com queijo no forno) e bolinhos de maçã; bebidas, enfeites natalinos e artesanato local. Um clássico coreto é montado e dá boas-vindas aos visitantes com shows de música e luzes. As apresentações acontecem das 12h às 23h. Para completar o cenário mágico, uma carruagem puxada por cavalos leva os turistas para passeios pelas imediações.

A Rua Tomićeva, onde está o funicular, também fica repleta de barraquinhas natalinas e abriga um pequeno museu interativo que revive a Zagreb dos anos 1930.

Foto por ROBERTO MAIA

Diversos outros pontos também realizam atividades relacionadas aos Mercados de Natal. É o caso da Praça Britanac, onde o Papai Noel e seus auxiliares – duendes e fadas – desfilam em um bonde elétrico para delírio das crianças e seus pais. Além das atrações descritas há, também, concertos nas principais praças e igrejas, visitas guiadas aos monumentos, entre outras.

Em 2015, uma pesquisa realizada pela internet elegeu o Mercado de Natal de Zagreb entre os dez melhores do continente. Mais de cem mil turistas de 176 países votaram. E não estavam errados.

Como chegar

Não há voos diretos do Brasil para a Croácia. A opção é voar até um outro destino europeu e fazer a conexão. A Qual Viagem voou até Istambul com a Turkish Airlines, onde realizou conexão até Zagreb.

Compras

A cidade tem diversos shoppings, sendo o mais frequentado o Kaptol Center, que reúne muitas lojas, inclusive de grifes internacionais. Vale à pena visitar a Natura Croatica (Petar Preradovic), loja especializada em produtos típicos do país.

Onde ficar

ESPLANADE ZAGREB HOTEL– fundado em 1925, é o mais clássico e tradicional da cidade. Padrão 5 estrelas, está localizado na Cidade Baixa ao lado do Jardim Botânico e bem próximo do Teatro Nacional e dos principais parques.

HOTEL JAGERHORN

SHERATON ZAGREB HOTEL

Onde comer

A gastronomia croata é rica e variada. Em Zagreb, recebeu influência húngara, turca e austríaca. Há muitos e bons restaurantes. Confira alguns que provamos:

LE BISTRO

VINODOL

FAJN

POD GRICKIM TOPOM

Texto por: Roberto Maia. O jornalista viajou a convite da Turkish Airlines, Zagreb Tourist Board & Convention Bureau e com a proteção do seguro-viagem GTA – Global Travel Assistance.

Foto destaque por istock/ xbrchx

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