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Um convite para redescobrir Campos do Jordão

23 de fevereiro de 2024

No alto da Serra da Mantiqueira, Campos do Jordão conseguiu consolidar sua vocação turística como poucas cidades no Brasil. Hoje mais conhecida como um charmoso destino de inverno, está no caminho de se reinventar mais uma vez, tendo a natureza como grande protagonista.

Foto por Patrícia Chemin

Se hoje Campos do Jordão é tão lembrada por ter construções de inspiração europeia, a história era bem diferente há algumas décadas. A partir do fim do século XIX, essa região passou a ser indicada para o tratamento de doenças respiratórias, como a tuberculose, por ter um clima propício e um ar mais rarefeito – Campos é o município mais alto do Brasil, com sua sede a 1.628 metros acima do nível do mar.

A cidade ganhou fama como a “cura da tuberculose” e recebeu então o apelido usado até hoje: o de “Suíça brasileira”. A comparação veio por um motivo simples: o país europeu também era um lugar conhecido para o tratamento desse tipo de doença. Nas primeiras décadas do século XX, foram construídos mais de 20 sanatórios em Campos do Jordão.

Foto por Patrícia Chemin

A partir dos anos 50, com o avanço da medicina, a tuberculose deixou de ser uma preocupação tão grande no país, e o movimento em Campos do Jordão caiu. Ali estava a oportunidade de mudar o foco da cidade para o turismo, pois já existia uma boa estrutura para receber visitantes. Nos anos 70, foram erguidas as primeiras construções em estilo enxaimel, para Campos parecer um pedacinho da Europa e agradar a elite brasileira da época, tornando-se assim um destino chique de inverno.

Já em anos mais recentes, empresários da cidade decidiram mudar esse conceito e lideram um novo movimento que busca redirecionar o turismo e colocar mais uma vez como protagonista o que Campos do Jordão sempre teve de mais autêntico: a natureza. Para isso, foram criadas rotas turísticas em bairros mais afastados do centro, mostrando que as atrações de Campos não estão restritas ao Capivari.

Foto por Patrícia Chemin

Hoje, o destino prova que tem muito mais a oferecer do que aquela badalação típica da alta temporada de inverno. O foco agora é o turismo de experiência, para resgatar as origens de Campos do Jordão, da culinária à contemplação da natureza.

Alto Lajeado

Além do tradicional Hotel Toriba, o circuito do Alto Lajeado inclui diversos parques integrados à natureza, cada um com seu encanto próprio. A começar pelo Amantikir, cujos jardins temáticos reúnem mais de 700 espécies de plantas em 60 mil m². O parque não é só um cenário para fotos (apesar que oportunidades perfeitas para isso não faltam), mas sim uma experiência de contato com a natureza em suas formas mais belas. É um presente aos sentidos.

Foto por Patrícia Chemin

A ideia do Amantikir sempre foi aclamar aquilo que é autêntico de Campos do Jordão, livre de estrangeirismos, o que inclui o próprio nome do parque. Assim era originalmente chamada a serra pelos povos indígenas nativos da região – em tupi, significa “montanha que chora”, devido à abundância de água em rios, fontes e cachoeiras. De Amantikir, virou Mantiqueira na pronúncia dos portugueses.

Foto por Patrícia Chemin

Os jardins do Amantikir estão cheios de simbolismos e representam uma homenagem à história do paisagismo. Alguns dos pontos mais deslumbrantes incluem o labirinto clássico (maior do tipo no Brasil), o mirante para o Vale do Lajeado (que marca a divisa entre Campos, Santo Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí) e o labirinto de grama, cartão-postal do parque. É um desenho em baixo relevo cujos traços levam sempre ao centro.

Foto por Patrícia Chemin

O Amantikir é simplesmente impecável, dos gramados verdinhos às plantas em destaque, e o cuidado com os detalhes é evidente. Para saber mais histórias e curiosidades, opte por uma visita guiada, disponível sem necessidade de agendamento nem custo adicional. O parque fica ainda mais bonito logo cedo e ao fim da tarde, e também na baixa temporada, entre a primavera e o verão. Evite ir aos sábados, que é o dia mais cheio.

Foto por Patrícia Chemin

Uma das mais novas atrações de Campos do Jordão, inaugurada em julho de 2023, o Parque Bambuí também propõe uma imersão na natureza, longe de qualquer preocupação da vida urbana. Propriedade do Hotel Toriba aberta ao público, o local conta com 336 mil m², todo cercado por árvores centenárias e três lagos. O passeio é mais contemplativo e começa com o embarque na maria-fumaça, uma locomotiva a vapor restaurada que data de 1920.

Foto por Patrícia Chemin

O trem faz um curto trajeto até o restaurante Casa Bambuí, cujo cardápio é assinado pela chef Anouk Migotto, também à frente do restaurante Donna Pinha, na vizinha Santo Antônio do Pinhal. Ali, o conceito é de comida afetiva, com o uso de ingredientes da Mantiqueira. Os salões aconchegantes se abrem para um extenso gramado bem cuidado, em meio a pinheiros, araucárias e um rico paisagismo. Ao caminhar pelo parque, você verá surgir a cada canto um novo cenário encantador. Um pouco mais à frente está a segunda unidade da microcervejaria GÅRD, original de Campos do Jordão. Ainda no Bambuí, é possível passear de barco a remo ou fazer trilhas.

Foto por Divulgação

Outra dica de passeio no Alto Lajeado é o Tarundu, parque com mais de 30 atrações de lazer. Criado para valorizar as experiências em família junto à natureza, tem um nome que reflete bem a atmosfera local – em tupi, significa “estado de graça”. As tirolesas estão entre as atividades mais populares, além do boia cross (descida de 100 metros de extensão sobre uma boia, que termina em uma piscina de bolinhas), bungee trampolim, arvorismo, paintball, passeio a cavalo, patinação no gelo e muito mais. Há ainda um restaurante no local, o Tainá-Kan, com uma culinária bem variada e saborosa.

Já o Parque da Cerveja, casa da Cerveja Campos do Jordão, oferece diversas experiências, como visita à fábrica, piquenique cervejeiro, o restaurante Alto da Brasa e o Mirante Mantiqueira, com vista de 180º para as montanhas.

Campos das Araucárias

Foto por Patrícia Chemin

Neste circuito turístico, a principal atração é o Parque Estadual Campos do Jordão (PECJ), mais conhecido como Horto Florestal. Em 2019, a parte do parque aberta ao público foi concedida à administração privada por um período de 30 anos. Desde então, o local passou por uma série de melhorias e está agora bem mais estruturado.

Foto por Patrícia Chemin

O PECJ ocupa cerca de 30% do município e é uma Unidade de Conservação voltada para a preservação de espécies animais e vegetais, entre trechos remanescentes de Mata Atlântica, araucárias centenárias, campos de altitude e mata nebular. A área que pode ser visitada é pequena se comparada à extensão total do parque, mas há muitas atividades disponíveis. Existem cinco trilhas de diferentes níveis de dificuldade, além de arvorismo, aluguel de bicicletas, pedalinho, tirolesa, arco e flecha, trenzinho e espaços para piquenique (as atividades terceirizadas são pagas à parte). No chamado Bosque Vermelho, árvores exóticas ficam com as folhas avermelhadas no outono, criando um tapete natural colorido durante essa estação.

Foto por Patrícia Chemin

Quem quer uma imersão ainda maior na natureza pode ficar hospedado dentro do próprio parque estadual. Essa experiência única é proporcionada pelo Aventoriba Lodge, inaugurado em 2021. Com poucas unidades em diferentes tamanhos e configurações, os lodges foram instalados em chalés de madeira históricos, construídos há pelo menos 80 anos para abrigar os primeiros funcionários do parque. As casas foram reformadas e decoradas em um estilo rústico e aconchegante, com o uso de materiais naturais e mobiliário artesanal. Algumas possuem até sala e cozinha ou mais de um quarto.

Foto por Patrícia Chemin

Com amplas janelas e varandas, a ideia é ficar bem próximo da natureza e longe das telas de TV e smartphones, com o Horto Florestal como seu quintal. Quem se hospeda no Aventoriba Lodge tem entrada livre no parque mesmo fora dos horários normais de visitação e ainda pode reservar o jantar ali mesmo, servido na Hospedaria Café, assim não é necessário sair do local à noite.

Foto por Patrícia Chemin

O PECJ também passou a ter atrativos gastronômicos, com o simpático Café do Parque, um food truck e os restaurantes Bonanza Parrilla, Prato da Floresta e Dona Chica. Sob a sombra das araucárias e com mesas ao ar livre, o restaurante Dona Chica tem a proposta de resgatar os ingredientes que são de fato da Mantiqueira, provenientes de produtores locais, em receitas que contam um pouco sobre a região e a verdadeira origem jordanense.

Foto por Patrícia Chemin

São pratos como a paella da montanha (feita com trutas, arroz preto Piagüí, cogumelos, pinhão e tomate de árvore) e o brigadeiro de capim-santo com sorvete de cumaru. Quem comanda a casa é o chef Anderson Oliveira, que faz questão de circular pelas mesas e bater um bom papo com cada cliente.

Foto por Patrícia Chemin

No caminho para o Horto, há outros lugares para visitar. A cervejaria Caras de Malte tem uma identidade visual única e divertida, que brinca com os temas de espaço, astronautas e alienígenas. Ali, você pode fazer a degustação dos principais rótulos da marca e aproveitar os deliciosos pratos do restaurante. Bem ao lado, a Danguá Cachaçaria tem uma proposta parecida, combinando gastronomia com as cachaças produzidas na casa. Inaugurada em julho do ano passado, esta é a primeira cachaçaria da Serra da Mantiqueira.

Alto do Capivari

Foto por Patrícia Chemin

Assim como o Horto Florestal, o Parque do Itapeva também ganhou uma cara nova nos últimos anos. Famoso por abrigar o Pico do Itapeva, um dos mais altos do estado de São Paulo, a 2.030 metros acima do nível do mar, o local agora se tornou um produto turístico com boa estrutura.

Foto por Patrícia Chemin

O mirante fica um pouco abaixo do ponto mais elevado do Itapeva – ainda assim, a 1.750 metros, é considerado o mirante mais alto do Brasil. A vista lá de cima é deslumbrante de todos os ângulos. Quase na borda da Serra da Mantiqueira, é possível ver boa parte do Vale do Paraíba e a imensidão do horizonte. Aliás, o Parque do Itapeva pertence à cidade de Pindamonhangaba, mas o acesso por estrada é através de Campos do Jordão.

Foto por Patrícia Chemin

O entorno do mirante é cercado por decks e grades de madeira, além de um perfumado e extenso campo de lavandas. Você pode caminhar entre as flores ou sentar em um dos bancos para aproveitar a vista. Mesmo em dias mais quentes, vale levar um casaco, pois é um lugar onde pode ventar bastante. Ali mesmo existe um café, mas outras novidades já estão nos planos, como restaurante, lojas e até um borboletário.

Foto por Patrícia Chemin

Próximo ao Pico do Itapeva está o Prana Park, com uma combinação de aventura e espaços contemplativos a mais de 1.900 metros de altitude. Prepare a câmera do celular, porque ali você vai fazer algumas das melhores fotos da sua viagem. Muitas atrações já estão inclusas no ingresso, como o mega balanço infinito, cuja estrutura tem 15 metros de altura. Ele garante uma certa adrenalina, já que fica na beira do morro, mas com uma linda vista para o mar de montanhas da Mantiqueira – dá até para ver a Pedra do Baú. Outros ótimos pontos para fotos são o Mirante das Oliveiras, a mega vassoura e os redários.

Foto por Patrícia Chemin

Para quem não tem medo de altura, a bike aérea é a atividade certa. Única do tipo no estado, vai te dar a oportunidade de pedalar a 60 metros do chão. São duas bicicletas especiais lado a lado, que deslizam por cabos de aço. Os corajosos usam equipamentos semelhantes aos de uma tirolesa, também conectados aos cabos, e podem escolher entre pedalar ou acionar o motor da bicicleta, controlando a velocidade ao longo de 350 metros.

Foto por Patrícia Chemin

O Prana Park também tem a maior tirolesa de Campos do Jordão, com um quilômetro de extensão e a possibilidade de descer em dupla. A bike aérea, a tirolesa e o passeio a cavalo são atividades pagas à parte. Ainda na mesma propriedade você encontra o restaurante Prana Gourmet.

Foto por Patrícia Chemin

Ao fim da tarde, a dica é seguir para o Prana Pôr do Sol, localizado na mesma fazenda. Funciona como um café, com um cardápio que conta com petiscos para dividir, caldos e sopas, cafés especiais e uma grande carta de vinhos, cervejas e coquetéis. O amplo deck com mesas ao ar livre tem uma vista perfeita para as montanhas e o pôr do sol, que colore o céu com tons do rosa ao avermelhado. Há ainda alguns pontos para fotos, como a “mão de Deus” e balanços.

Alto da Boa Vista

Foto por Patrícia Chemin

No Alto da Boa Vista, o roteiro ganha um aspecto mais cultural, mas sem sair de perto da natureza. É em meio a uma área de mata com 35 mil m² e repleta de araucárias que está o Museu Felícia Leirner, um dos poucos museus no Brasil dedicados à obra de uma só pessoa.

Foto por Patrícia Chemin

Criado em 1979, reúne mais de 80 esculturas da artista polonesa radicada no Brasil e que morou em Campos do Jordão a partir da década de 1960. Feitas em bronze, granito, cimento e gesso, as obras estão todas dispostas ao ar livre, formando um percurso que funciona como uma linha do tempo através das diversas fases da artista.

Foto por Patrícia Chemin

Depois de doar suas esculturas ao estado de São Paulo, a própria Felícia foi a curadora do museu, e suas obras ainda estão exatamente onde ela escolheu colocá-las. Do figurativo ao mais abstrato, cada escultura é como um livro aberto, com diversas interpretações possíveis. A ideia da artista era essa mesmo: incentivar as pessoas a imaginar e brincar com as obras. Para saber mais sobre todas essas histórias, além de descobrir alguns segredos pelo caminho, vale fazer uma visita guiada, que pode ser agendada sem custo extra.

Foto por Patrícia Chemin

O Museu Felícia Leirner divide a propriedade com o Auditório Claudio Santoro, principal palco do Festival de Inverno de Campos do Jordão, o maior evento de música erudita da América Latina. Inclusive, foi construído para receber o evento, com uma acústica adequada para uma orquestra. Inaugurado em 1979, é uma obra-prima da arquitetura, na qual a parte da plateia aproveita o declive natural do terreno e grandes janelas permitem a integração do ambiente interno com a natureza ao redor.

Foto por Patrícia Chemin

Nas proximidades está o Palácio Boa Vista, inaugurado em 1964 como residência oficial de inverno do governador de São Paulo. Ainda recebe visitas oficiais, mas, desde 1970, é também aberto ao público e funciona como um museu, que abriga um grande acervo de arte pertencente ao governo estadual. Na visita, que é sempre guiada, é possível conhecer boa parte do palácio, que conta com um total de 105 aposentos. Há mais de 1.800 obras de arte, incluindo pinturas de Tarsila do Amaral e Candido Portinari, além de mobiliário, tapeçarias, louças, cerâmicas, lustres e muito mais. A fachada, em estilo Tudor, assim como o pátio interno, também são destaques.

Foto por Patrícia Chemin

Para fechar o passeio, vá à Baden Baden, a primeira cervejaria de Campos do Jordão. Fundada em 1999 por um grupo de quatro amigos, a marca cresceu e, hoje, pertence à gigante Heineken, mas ainda mantém a fábrica em sua cidade natal. No tour guiado, além de conhecer sobre o processo de produção da bebida, os visitantes participam de uma aula com degustação dos principais rótulos da marca, harmonizando cada cerveja com queijos, castanhas, embutidos e frutas secas. O local conta ainda com loja e bar.

SERVIÇOS

Como chegar

A partir de São Paulo, siga pela Dutra ou pelo sistema Ayrton Senna-Carvalho Pinto até Taubaté e, depois, pela Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, que leva até Campos do Jordão.

Onde ficar

Pousada Figueira da Serra – figueiradaserra.com.br

Aventoriba Lodge – toriba.com.br/aventoriba-lodge

Hotel Toriba – toriba.com.br

Pousada das Hortênsias – dashortensias.com.br

Chateau La Villette – chateaulavillette.com.br

Hotel Quebra-Noz – quebranoz.com.br

Onde comer

Dona Chica – @donachicarestaurante

Mercearia Campos – @merceariacampos

Harry Pisek – restauranteharrypisek.com.br

Le Foyer – @restaurante_le_foyer

Toribinha Bar & Fondue – @toribinha

Passeios

Aguiatur – @aguiatur_camposdojordao

Dib Tur – @dibtur

Amantikir – parqueamantikir.com.br

Bambuí – parquebambui.com.br

Tarundu – tarundu.com.br

Parque Estadual Campos do Jordão – parquecamposdojordao.com.br

Caras de Malte – carasdemalte.com.br

Danguá Cachaçaria – @danguacachacaria

Prana Park – pranapark.com.br

Museu Felícia Leirner – museufelicialeirner.org.br

Palácio Boa Vista – saopaulo.sp.gov.br/palacioboavista

Baden Baden – badenbaden.com.br

Mais informações em: destinocamposdojordao.sp.gov.br

Texto por: Patrícia Chemin. A jornalista viajou com apoio da Prefeitura de Campos do Jordão, do Conselho Municipal de Turismo de Campos do Jordão e da Associação Comercial e Empresarial de Campos do Jordão.

Foto destaque por: Patrícia Chemin

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