Viajar sem abrir mão do isolamento foi uma forte característica verificada em 2020 e que terá impactos no turismo pós-pandemia. Por questões de segurança, as pessoas deixaram de priorizar viagens para conhecer as principais atrações turísticas, museus e restaurantes famosos. Elas queriam apenas sair de casa, abrandar de forma segura e controlada o isolamento social, em locais sem aglomeração. Ou seja, passaram a viajar sem o intuito de “tirar férias”.
Em vez de conhecer lugares novos e badalados, o foco passou a ser explorar acomodações interessantes e adequadas para continuar o isolamento durante a pandemia. Essas viagens também serviram para estreitar os vínculos familiares, pois foram oportunidades de reencontros e convivência próximas, não somente com parentes, mas também com amigos próximos que ficaram afastados por causa da quarentena.
Estas foram algumas das conclusões do estudo recente feito pelas agências Somos e Novelo, a partir de uma solicitação do Airbnb, que analisou as principais mudanças na forma como os brasileiros estão viajando e como pretendem viajar em um cenário pós-pandemia.
A pesquisa combina aspectos qualitativos e quantitativos. Foram realizadas entrevistas com 24 brasileiros entre 25 e 50 anos, das classes AB, residentes de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife, que viajaram durante a quarentena. Também foram processadas e analisadas informações de mais de vinte bancos de dados para levantar movimentações, mudanças e tendências de viagens e comportamento dos turistas.
Sobre a escolha do destino, a familiaridade com o local virou sinônimo de conforto. A prioridade foi, e deve se manter desta forma, por cidades e regiões já conhecidas. Em São Paulo, entre os locais preferidos para viagens estavam cidades do interior como Piracicaba e Holambra, além de Santos, São Vicente e outras do Litoral Sul paulista.
A pesquisa realizada pela Somos e pela Novelo também constatou que o transporte ao destino sofreu alterações profundas. A principal delas é a queda drástica no uso do transporte aéreo, o que impacta diretamente na escolha do destino. No pior momento da pandemia, a malha viária brasileira carregou apenas 9,6 mil passageiros em um dia, volume quase 40 vezes menor que sua média dos meses anteriores.
A partir de abril, no entanto, observou-se um crescimento no número de voos nacionais. O estudo descobriu dois movimentos relevantes no setor ao analisar os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). O primeiro foi um recorte dos dez trechos que mais ganharam relevância após o começo da pandemia, sendo que oito envolvem o corredor Sudeste-Norte/Nordeste, principalmente Recife/Rio de Janeiro. O segundo diz respeito ao aumento da relevância de voos saindo de cidades do interior para a capital dos estados. No Ceará, por exemplo, os trajetos com maior aumento conectavam Sobral, Iguatú e Jericoacoara à Fortaleza.
Quanto à escolha da acomodação, foi observada a preferência por prestadores de serviços domésticos, como faxineiras ou quem pudesse fazer compras e entregas de refeições já prontas no imóvel.
Desde maio, o Airbnb, maior empresa global de compartilhamento de lares e experiências em viagens, registrou aumento na procura por casas inteiras, no campo e em cidades menores de praia, que se localizam a até 300 km dos centros urbanos. São percursos que podem ser feitos de carro e tipos de acomodação nos quais é possível manter o isolamento. Em muitos casos, são pessoas em busca de um refúgio fora da cidade grande, mais perto da natureza, e, ao mesmo tempo, com boa infraestrutura (como conexão à internet, por exemplo), para conciliar convívio com a família e trabalho remoto.
Entrevistados que alugaram casas de condomínio afirmaram que, ainda que o condomínio oferecesse áreas comuns, como parques infantis, eles preferiram não utilizá-las para evitar a possibilidade de contágio de COVID-19. Além do Wi-Fi e das cozinhas equipadas e camas confortáveis, o interesse por imóveis que disponham de área privada de lazer, como piscina e churrasqueira, também aumentou.
O estudo indica, ainda, que algumas das mudanças deverão se manter mesmo com 100% da população brasileira vacinada, como, por exemplo, o conceito de “viagem produtiva”: a possibilidade de trabalhar e estudar à distância viabilizou o transplante da rotina da casa para outro imóvel.
Texto por: Agência com edição Eliria Buso
Foto por Istock/ Francesco Ricca Iacomino