Em abril deste ano, uma grande agência de viagens australiana realizou, em São Paulo, seu primeiro workshop sobre turismo no país oceânico, reunindo cerca de 100 operadoras de intercâmbio brasileiras que atuam promovendo relações entre os dois lugares. No evento, expositores de 14 regiões da Austrália apresentaram seus destinos, produtos, oportunidades e serviços turísticos. A expectativa é de realizar outros eventos do mesmo porte nos próximos anos.
A presença constante de brasileiros em solo australiano é o principal motivo para que uma conferência dessa dimensão seja feita em São Paulo. Em média, o país recebe 700 mil visitantes de várias partes do mundo mensalmente. Apesar de boa parte (cerca de 100 mil) deles serem da vizinha Nova Zelândia, é significativa a presença de pessoas de Singapura (34 mil), da Grã-Bretanha (57 mil) e dos Estados Unidos (64 mil), além dos chineses (cerca de 100 mil). Da América do Sul, o único país que possui remessa considerável de indivíduos para a Austrália é o Brasil.
Em abril de 2017, entraram no país oceânico 4,2 mil brasileiros, um aumento de 27% em relação ao mesmo mês do ano anterior, quando 3,3 mil cidadãos do Brasil viajaram para a Austrália. Em março, foram 5 mil brasileiros, um aumento de 28% em relação a 2016. No geral, estima-se que cerca de 50 mil viajantes saíram do nosso país rumo à Oceania no ano passado – a imensa maioria para fazer intercâmbio em universidades e escolas de inglês australianas, mas que aproveitam as folgas nos estudos para fazer turismo nas várias esferas naturais da região.
“Nosso contraste de destinos, com desertos, neve, barreiras de corais e belas praias, e a sofisticação e a gastronomia de nossas cidades fazem da Austrália um país extremamente atrativo para o cliente, e o crescimento de vendas no ano passado mostrou isso”, explicou Craig Bavinton, um dos promotores do workshop em São Paulo.
Quanto mais brasileiros na Austrália, mais destinos são conhecidos e indicados para os que pretendem ou estão em vias de viajar para lá. Por isso, Qual Viagem selecionou cinco destinos preferidos – e não tão óbvios como Sydney, Camberra e Melbourne – para os próximos viajantes daqui:
Albany
Durante os dez meses em que morou em Perth, a maior cidade da costa oeste da Austrália, a estudante Thaís Yamashita, de São Paulo, aproveitou para desbravar as várias dimensões naturais do país: passou por praias paradisíacas, cidades movimentadas, regiões desérticas e áreas verdes. No entanto, a viagem que mais lhe marcou foi a Albany, município portuário também na costa oeste, a cerca de 400 quilômetros de Perth.
“O que me encantou lá, além da beleza do Oceano Pacífico, que tinha uma cor azul incrível de se contemplar, foi o aspecto rústico que eles mantiveram e que se vê nas ruas, nos prédios, nos bares. Me parece algo autêntico, que lembra a história deles e que tem até uma coisa meio boêmia”, conta.
De fato, a grande atração de Albany são as praias: existem pontos de observação de baleias, áreas de mergulho e um serviço destinado à pesca – tudo que remete ao passado aborígene da Austrália, cujos indivíduos eram exímios marinheiros e baleeiros. Um dos pontos mais visitados pelos turistas é Stony Hill, uma montanha próxima ao município e que permite uma vista da zona urbana e do mar. Ela fica dentro do Parque Stirling Range, que também abriga formações rochosas castigadas pelo vento e que se tornaram imensos penhascos.
A cidade, enfim, é repleta de pequenos mercados abastecidos por produtores locais e restaurantes. “Viajei a Albany de carro com alguns amigos, algo recomendável pelas grandes dimensões da costa”, afirma Thaís. “E, claro, como na maioria dos lugares na Austrália, é sempre interessante viver a pluralidade de culturas que se reúne ali. Eu conheci pessoas da República Tcheca, da Polônia e de Taiwan em Albany”, completa.
Yulara
No centro da ilha da Austrália, distante das praias (mas não do calor), no deserto do país, está o Uluru, um monolito de 318 metros de altura e dez quilômetros de circunferência localizado no meio da planície seca. Abaixo da terra, a rocha ainda possui uma dimensão de 2,5 quilômetros.
Porém, mais incrível que as medidas são as cores que ele pode refletir durante um único dia. Quem descreve é o estudante Gabriel Bonfim, de 22 anos, que acabou de voltar de um intercâmbio de seis meses no país oceânico: “No fim da tarde, quando o sol se põe, parece uma massa que ainda não foi ao forno, mas que tem aquela textura e aquele brilho dos ingredientes. No início do dia, quando o sol nasce, parece um bolo pronto e ainda brilhando por causa do fogo”, diz.
A cidade mais próxima ao monolito é Yulara, que tem 3 mil habitantes e foi construída para atender à demanda turística, mas que conviveu com problemas de demanda durante boa parte dos anos 1990. Hoje, existem até resorts na região. O local mais estruturado próximo ao monolito é Alice Springs, com 27 mil habitantes, a 330 quilômetros e que possui uma vasta história sobre os aborígenes que ali viviam antes da colonização britânica.
“Apesar de ser um pouco mais longe do Uluru, a viagem pode ter esses dois aspectos: primeiro você vai para Alice para conhecer um pouco dos povos que viviam no deserto e, depois, conhece a pedra, que era um lugar sagrado para eles”, explica Gabriel.
Até o final dos anos 1980, o monolito desértico era pouco visitado pelos turistas devido à grande distância das principais cidades do país, mas quando a Unesco o declarou Patrimônio Mundial da Humanidade, em 1987, a demanda aumentou consideravelmente. Dados dos últimos anos, no entanto, indicam uma queda nas visitas à pedra: em 2005, segundo o governo australiano, pouco menos de 350 mil visitantes estiveram diante do Uluru. Em 2015, esse número era de 279 mil – uma queda de 20%.
Snowy Mountains
Ao contrário do calor de Yulara e das praias de Albany, o que o estudante de inglês em Sydney Ricardo Jadih mais gostou na Austrália foi a neve. “Não sei se foi por causa do período em que viajei, no inverno australiano, ou se foi porque eu nunca tinha visto nevar em nenhum lugar, mas eu só queria ir para lá. Foi engraçado, porque enquanto meus amigos brasileiros só queriam saber de corpo bronzeado, surfar, mar etc., eu estava ansioso para chegar julho e eu poder esquiar nas montanhas”, revela.
A região fria, por outra dessas contradições interessantes do país oceânico, fica em New South Wales, mesma província das praias lotadas de Sydney – a principal cidade da Oceania. Conhecida como “The Snowies”, é lá que está o maior pico da Austrália, o Kosciuszko, de 2.228 metros acima do nível do mar, e também as estações de esqui que ficam lotadas nos meses de junho, julho e agosto. Algumas das cidades próximas às montanhas são Kiandra, Cooma e Adaminaby, todas com pequenas estruturas para turistas e, no caso da última, até um centro histórico que conta boa parte da colonização do país.
“O bacana dessas cidadezinhas é que elas são as mais antigas da Austrália. Você entra em contato com todo o processo de interação entre os europeus e os aborígenes a partir das coisas que elas preservam”, conta Ricardo. “Sem contar que também tem neve pelas ruas”, completa. Durante o inverno, as frentes frias e tempestades vindas do oceano levam temperaturas abaixo de zero e neve para muitas regiões austrais, lotando estações como as de Thredbo, Perisher, Selwyn Snowfields e Charlotte Pass. Além dos esportes, o inverno australiano também é marcado pelo “aparecimento” de alguns animais nativos, como gambás, cangurus e cavalos selvagens, que podem ser vistos ocasionalmente nos bosques nevados.
Texto por: Agência com edição Eliria Buso
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