Há uma mudança em curso na pequena cidade de São José do Barreiro. A cidade de quatro mil habitantes pode ter o maior número de turistas do Vale Histórico no próximo ano.
A pequena São José do Barreiro, situada na região vale histórico, sofreu em 1930 com o fim ciclo do café e, não bastasse, na década de 70, se viu ainda menor com a saída de moradores da Serra da Bocaina, transformada em Parque Nacional. Nessa mesma década, a parte baixa da cidade foi inundada pela represa do Funil.
Mas o problema vivido no passado virou solução para o presente. A cidade cresceu em número de turistas em busca da exuberante beleza de sua reserva natural. Até mesmo a represa se tornou atrativo para pousadas locais. Pesquisa feita pelo Sebrae quatro anos atrás indicava São José do Barreiro em sexto lugar, das sete cidades do Vale histórico mais visitadas. Atualmente, já está em segundo. “Vai ser a primeira no próximo ano”, aposta o prefeito da cidade, José Milton Serafim, já no seu último mandato. São José do Barreiro tem 36 pousadas com capacidade para cerca de 600 hóspedes. A maior parte dos turistas quer fazer trekking no Parque Nacional. Em geral, eles chegam na sexta-feira à noite, optam por passeios mais longos aos sábados e mais curtos aos domingos. 10% são de estrangeiros.
Parque Nacional da Serra da Bocaina
A longa estrada de terra serpenteia as montanhas da serra da Bocaina até a entrada do Parque Nacional. Protegido pelo ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), o parque é o único a englobar montanha e mar em seu território.
À beira de 1,5 quilômetro de caminhada na estrada, acompanhada por um rio de águas cristalinas, uma trilha conduz à bela Cachoeira de Santo Izidro.Em poucos minutos de caminhada, o som da queda d’água já chega aos ouvidos. O pequeno rio começa a se precipitar por entre imensas rochas e a trilha entra em desvario montanha abaixo. São degraus atrás de degraus, parecido com escadas giratórias, feitas de terra, pedra e raiz.
Durante a descida, de uma área rente às pedras da cachoeira, se avista a queda d’água em seu vertiginoso mergulho de 90 metros ribanceira abaixo. Por fim, o rio segue seu curso mata adentro. A quem fica, cabe relaxar.
O Parque Nacional guarda outras lindas cachoeiras, em especial, a dos Veados – considerada a mais bela da serra da Bocaina. Suas quedas são de quase 200 metros de altura. Neste caso, a distância é 20 quilômetros da entrada do parque, em geral feitos com dois dias de caminhada. Há uma pousada próxima ao km 18, onde normalmente se faz o primeiro pernoite. Ou, algum lugar selvagem para acampar.
Mas nem tudo são cachoeiras. Há também duas grandes atrações no Parque Nacional: o Pico da Bacia (2.050 m de altitude) e o do Tira o Chapéu (2.088 m de altitude) – o ponto mais alto da Serra da Bocaina, a 2.100 metros de altitude, de onde se avistam as cidades de Cunha, no estado de São Paulo, e Parati, litoral sul do Rio de Janeiro. Em ambos os casos, são percursos também acima de 20 quilômetros.
O Parque nasceu em 71, tem 110 mil hectares. Se trata da maior área preservada de Mata Atlântica original do país e uma das maiores biodiversidades do planeta. Dentro dele, 73 quilômetros do trecho final da Trilha do Ouro levam até praia de Mambucaba, litoral do Rio de Janeiro.
Para um programa mais familiar, vale conhecer a “Cachoeira do Paredão” e a “Cascata da Onça”, bem próximas uma da outra. Em ambas, as quedas são bem pequenas, a distancia da cidade é pouca e dá pra chegar de automóvel. A enorme área gramada ao redor é apropriada para crianças e piquenique. Há passeios para todos os gostos e idades.
Entre a serra e a represa, a comerciante Sandra Luzia Torino da Costa deseja que o turismo no município não dependa somente do Parque Nacional. “Está faltando conversar mais, inteirar mais os grupos, os comerciantes, divulgar mais a cidade. Muita gente vai muito mais pra Bocaina e esquece do pessoal aqui de baixo”, reclama comerciante. A cidade tem criado programas de incentivos aos pequenos produtores. A mãe de Sandra, por exemplo, tem uma pequena produção de queijo artesanal, doces e geleias numa pequena lojinha da fazenda onde mora.
Contato: (12) 99726-7976 (whatsapp)
www.pousadarecantodafloresta.com.br
Cafeteria Mavic (biscoitos, doces e geleias)
Contato: (12) 3117-1294
Fazenda São Francisco: nem tão comum
Entre as montanhas da serra da Bocaina, São José do Barreiro faz uso sua beleza natural, repleta de vastos horizontes, cachoeiras e trilhas, para atrair mais visitantes.
O Vale Histórico – conjunto de cidades localizado quase na metade da rodovia presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, brotou para o país junto às primeiras mudas de café no século XVIII. Sua força econômica levou Dom Pedro I a mudar de trajeto dias antes da proclamação da independência do Brasil.
No alto dos seus 80 anos, Walton Ferreira Leite, pediatra no Rio de Janeiro, se acomoda em sua poltrona na sala da Fazenda São Francisco e começa a contar histórias desse período.
Sua propriedade, construída em 1813, quando o Brasil ainda era colônia de Portugal, a torna única na região de São José do Barreiro. A Fazenda dispõe de 25 cavalos para cavalgadas de quatro horas ou passeios mais curtos, até a represa do Funil – local de lindas paisagens, onde se pode nadar e pescar. Ao retorno de cada passeio há sempre boa caipirinha à mesa para aliviar o calor, seguida de ótimo almoço caseiro.
O pai de Walton adquiriu a fazenda em 1946, como compensação pela desapropriação de sua antiga propriedade, onde a rodovia Presidente Dutra deixou seu asfalto.O médico ganhou a sede como parte da herança 35 anos atrás. A descoberta do patrimônio histórico levou à restauração e pequenas adaptações, como banheiro. “A gente não reconstruiu nada. As bordas da casa, que já haviam caído, deixamos como estava e só se restaurou o que estava de pé. Começou em 81 e vai continuar. Vai ser um legado para a humanidade”, aposta.
A documentação da histórica fazenda colonial está na “Sala de Memórias” – uma pequena área da propriedade onde se encontram objetos antigos doados por amigos.
São diversos documentos históricos, um falso oratório (por ser maçônico), objetos dos índios Puris – dizimados da região, livros, partituras musicais de Chiquinha Gonzaga e até artefatos da revolução de 32 e até uma fronha de travesseiro usada em 1872 pela Princesa Isabel em sua hospedagem na casa da família Sampaio, na vizinha cidade de Areias, além de uma carta da princesa. Há também outros dois espaços: o de quadros e documentos da vida do pintor acadêmico Armando Vianna e uma biblioteca.
Nas paredes da sala, bem como em todos os outros cômodos da fazenda, cerca de 150 quadros de artistas brasileiros ( 60, de Armando Vianna) se somam a móveis de estilos colonial, lustres antigos, cantoneiras, cristaleiras e art nouveau, entre outros. Há até um conjunto de móveis franceses na sala de jantar, de madeira de merisier. “Não existem aqui no Brasil. É um mobiliário completo e vem gente até do exterior para fotografar”, afirma. O casal também ganhou um belo piano que pertenceu ao cardeal Arco-Verde. O instrumento é usado por concertistas em eventos na Fazenda.
A proposta de hospedagem surgiu em 1990 com o objetivo de levar o turista a vivenciar o dia a dia de uma fazenda comum. “Não é um hotel fazenda, com monitor e cerveja. A gente oferece uma fazenda diferenciada, com saída para montanhismo, cavalgada etc. A nossa meta é pra realmente vivenciar uma fazenda típica, com acréscimo do museu, ordenha, pesca e a parte ecológica”, enumera.
A Fazenda São Francisco fica a apenas seis quilômetros da cidade e a estrada de terra é bem cuidada. São seis quartos, sem nenhuma TV para encobrir o silêncio revestido da natureza. Um local inspirador, onde o visitante irá plantar novas histórias na memória e cultivar lindas recordações.
www.fazendasaofrancisco.com.br
e-mail: fazendasaofrancisco@fazendasaofrancisco.com.br
Contato: (21) 2286-9763 / 99971-7223
Fazenda da Barra – a sobrevida do turismo
No final da década de 80, Paulo Regis de Matos e a esposa planejavam criar gado e cultivar horta orgânica para oferecer aos turistas de São José do Barreiro. Era a última tentativa para evitar a venda da fazenda da Barra, adquirida pelo bisavô de sua esposa na década de 20, devido ao custo de sua manutenção.
A Fazenda da Barra foi construída em 1850 e precisava de muitas reformas. A propriedade, assim como muitas do país, foi inspirada num livro escrito por um francês chamado Laborie. As construções eram erguidas em forma de “quadrilátero funcional”: ao redor do terreiro de café havia a Casa Grande, a senzala, os engenhos, as tulhas, o paiol, os armazéns, as estrebarias e os chiqueiros. “Se eu cavar, eu encontro uma calçada. 20 anos atrás passamos uma enxada no terreiro e era bem firme. Eles passavam uma massa com óleo de baleia e calcário. Ficou áspero por causa da ação do tempo”, conta Paulo.
O enorme terreiro conduz a imaginação a um reencontro com o passado. A área de moinho, usado para moer o milho e fazer fubá, alimentação básica dos escravos, se foi com as águas que o moviam. Só ficou o tanque, que agora serve de piscina.
O restante da casa do feitor e a senzala dividem a área dos fundos do quintal. “Tinha escada, assoalho de madeira. A água passava em frente . A força da água e dos escravos moviam a fazenda. A calçada foi encontrada há seis meses”, conta Matos. Agora só restam pedras sobre o passado, juntamente com o verde. A mata ciliar está bem próxima à casa. Palmeiras e árvores centenárias recepcionam a entrada junto ao canto de jacus, juritis, entre outros pássaros. O som das águas do rio e convida a esquecer o estresse do barulho de buzinas, carros e gritarias.
Originalmente a Fazenda da Barra tinha quase mil metros quadrados. A ação do tempo e fez a área habitável diminuir para 700. A partir de 92, o local passou a oferecer hospedagem aos turistas. São nove quartos muito bem instalados.
O maior tesouro mesmo para o casal foi conseguir vencer o grande desafio de ativar a área para hospedagem e torná-la confortável. “O turismo salvou, senão a gente já teria ido embora”, finaliza.
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Contato: (12)3117 -2338 (24) 99823 -1154
e-mail: fazendadabarra@fazendadabarra.com.br
Pousada Encanto da Bocaina: um lugar para se amar
Entre as montanhas da Serra da Bocaina, três chalés da pousada Encanto da Bocaina convidam casais a viver um intenso clima de romance e sedução.
A princípio, a proposta de chalé da Pousada Encanto da Bocaina é permitir ao casal desfrutar de momentos intensos sem o menor receio de constrangimentos. O lavabo, por exemplo, se localiza entre o sanitário e o chuveiro. A ampla área de banho, com vidraça de frente para a cama, pode despertar fantasias provocativas. Uma lareira, talvez, um vinho. Os chalés, distantes um do outro, silenciam os sussurros inefáveis de ouvidos alheios.
A pousada era o sonho do casal do Rio de Janeiro, Wilson Martins Filho e Luciana Azevedo Martins, já desde o início do namoro, há 16 anos. “A ideia era que fosse num local distante, nesse ambiente, nesse clima de serra, de contemplação. A gente viu que aqui em São José do Barreiro era o lugar mais adequado, diante daquilo que a gente já tinha conhecido e estudado para fazer essa pousada “, justifica Wilson.
Luciana chegou primeiro, para viabilizar e concluir a obra. Wilson, largou o emprego em seguida e assumiu o restaurante – o Pirilampo Bistrô. Aos 52 anos de idade, diante do desafio de elaborar pratos mais sofisticados, resolveu se aperfeiçoar. ” Recentemente, a gente fez uma viagem pro exterior, fizemos cursos, intercambio em outro hotel que fazia trabalho com preparo de comida e foi muito enriquecedor, inclusive adequando-o”, afirma.
A pousada Encanto da Bocaina funciona há cinco anos e tem três unidades habitacionais, com direito a café da manhã. O cardápio, bastante variado, não tem carne vermelha.
Conceito “Pet friendly”
Por ainda ser novidade no Brasil, Luciana e Wilson procuraram se profissionalizar em medidas que garantam aos hóspedes o máximo de harmonia durante a estadia: a limpeza e a higienização dos quartos são feitas com produtos veterinários, devido aos cheiros.
William e Luciana também possuem dois cães. Já na chegada, todos os animais são apresentados de forma que passem a se relacionar juntos, sem o uso de guias. Há saquinhos e lixeira para os dejetos tanto no bistrô quanto no chalé, água fresca o tempo todo, kit de primeiros socorros e até soro antiofídico, por estar num lugar de mata. A triagem é feita dias antes, por meio de questionário. O pré-estudo do cão permite aos proprietários da pousada identificar o perfil e o comportamento do animal e assim se prepararem para recebê-los de forma adequada. Em geral, a restrição se dá pela potencia mandibular do cão. “Na medida em que a gente consegue identificar que esse cachorro não seja tão sociável, tanto com seres humanos quanto com outros cachorros, a gente não recebe”, afirma.
Luciana lembra, no entanto, que a pousada não é para cachorros, mas para casais que tenham esse membro na família e não querem ficar sem a sua companhia. “Ele não vai interferir nesse momento de amor do casal, muito pelo contrário, ele ilustra, ele adorna esse momento”, lembra.
www.encantodabocaina.com.br
Contato:(12) 99707-1180/ 55 – 21 – 99915-3435
e-mail: contato@encantodabocaina.com.br
Fazenda São Benedito: variedades
A fazenda São Benedito foi adquirida em 1990, mas só passou a funcionar como pousada em 99. A proprietária, Vanda Maia Pimentel, professora aposentada, tem dado preferência a hospedagem de grupos. No amplo local, cheio de árvores frutíferas, quartos rústicos caracterizam a antiga fazenda. A capacidade é de até 19 pessoas e serve café da manhã. De acordo com a proprietária, muitos se hospedam na Fazenda em períodos específicos como carnaval, réveillon, Páscoa etc.
Mas o diferencial da fazenda São Benedito, são as cachaças “Segredo de São Benedito” (amarela e branca) e a “Mas será o Benedito?”, com sabores de frutas, aniz, canela e também mel. O canavial foi cultivado nas terras da própria fazenda e a produção alcança 1.500 litros por ano. “Nem tudo sai, mas vende bem. Tem bastante estoque nos barris”, conta Pimentel. tudo é vendido na lojinha, onde se vende também peças de artesanato da filha e cerveja artesanal feita pelo outro filho. “Estou satisfeita, é uma coisa pra eu ter o que fazer. Eu gosto, gosto muito daqui”, conclui Vanda.