Uma visita à quinta de San Pedro Alejandrino, a fazenda onde morreu o “libertador da América”.
Quando o jornalista Guilherme Silva visitou Santa Marta, conheceu um guia de turismo que lhe disse que, se ele não tinha visitado a Quinta de San Pedro Alejandrino, não tinha visto nada. “É uma parada obrigatória”, advertiu o “samário”, como são chamado os jovens guias da cidade. Era a primeira de Guilherme na Colômbia, depois de aproveitar uma promoção de passagem aérea da companhia que opera voos diários entre São Paulo e a costa colombiana.
Diante da proposta do guia, ele e um grupo de outros brasileiros decidiram ir a San Pedro Alejandrino, uma estância colonial transformada em museu, altar da pátria e monumento histórico nacional próxima a Taganga, um vilarejo de pescadores próximo do centro de Santa Marta. Ali Simón Bolívar, o “Libertador” da Colômbia e máximo herói do país passou seus últimos dias.
O prócer tinha chegado de passagem, em uma escala prévia à viagem que pensava fazer à Europa. Já estava doente quando foi convidado pelo espanhol Joaquín de Mier, proprietário da fazenda onde cultivava açúcar, para passar alguns dias hospedado ali. Onze dias depois de sua chegada, em 17 de dezembro de 1830, o “Pai da Pátria” exalava seu último suspiro naquela pequena casa de paredes cor de ocre e teto com telhas comuns.
A devoção a uma figura quase divina na Colômbia – que dá nome à principal praça do país, a Plaza Bolívar, onde ficam a sede do governo e a máxima corte colombiana, além de cidades, rios, vilarejos e bairros ao redor do território colombiano – se choca com os dados se que conhecem durante a visita ao local: um Bolívar débil e doente que morreu de cirrose hepática, tuberculose, sífilis e malária com apenas 47 anos e pesando 35 quilos.
O ex-presidente venezuelano Hugo Chávez sustentava que ele havia sido envenenado com arsênico pela “oligarquia colombiana” e chegou a pedir a exumação do cadáver para confirmar sua suspeita.
O que se sabe, no entanto, é que Bolívar agonizou durante dias em uma pequena cama que se conserva intacta até hoje ao lado de uma escupideira de porcelana e o relógio que marca a hora da sua morte: uma da tarde, três minutos e 55 segundos. Segundo a lenda, na hora da morte o general Mariano Montilla desembainhou sua espada e arrancou o cordão do pêndulo que marcava a hora, porque o relógio “não devia andar mais se o coração do libertador não se movia”.
E assim está hoje, com as agulhas cravadas na hora fatídica, ao lado do lugar onde Bolívar disse sua última e famosa frase: “Colombianos, haveis presenciado meus esforços para plantar a liberdade onde antes reinava a tirania. Vou tranquilo para o sepulcro”.
Nas austeras instalações da fazenda se pode ver alguns móveis de Luís XV, espelhos em cristal de rocha e algumas curiosidades, como o banheiro com bidê que ele usou, uma sala para fumantes distante do quarto dele para que não inalasse a fumaça e uma foto em daguerreótipo de um jovem Bolívar, com 19 anos, em seu casamento com María Teresa Rodríguez del Toro (ela morreria um ano depois de febre amarela, fazendo com que o Libertador não tivesse filhos porque, de tanto andar a cavalo, acabou ficando estéril).
Fora da quinta, há um parque com árvores centenárias (entre elas, os tamarindos originais que sombrearam um agonizante Bolívar), iguanas sonolentas e um grande jardim botânico que conduzem os turistas ao “Altar de la Patria”. A simplicidade da casa principal contrasta com o imponente monumento de estilo neoclássico construído em mármore de Carrara em 1930. “Parece um monumento desses que a gente vê em Pyongyang”, diz Guilherme, se referindo ao estilo monumental da arquitetura da capital norte-coreana.
No alto do monumento, se alça um Bolívar vestido com seu uniforme, uma espada e uma capa. Ainda que o libertador medisse apenas 1,64 metro, segundo seus biógrafos, a estátua alcança 2,64 metros.
A quinta
A Quinta de San Pedro Alejandrino foi fundada em 2 de fevereiro de 1608 pelo canônico espanhol Francisco de Godoy y Cortesía, da Catedral de Santa Marta, com o nome de “La Florida San Pedro Alejandrino”, em memória do mártir espanhol Pedro Godoy. Segundo o Museu Bolivariano, o local mudou de proprietário por 15 vezes até chegar ao espanhol Joaquín de Mier, homem de negócios que ajudou a intensificar o cultivo de cana na região.
Após a morte de Bolívar, ele vendeu a fazenda ao governo do departamento de Magdalena, cuja Santa Marta é capital, que no mesmo ano de 1891 declarou o local “Monumento Histórico Nacional”. Hoje, a quinta é administrada pela Fundación Museo Bolivariano de Arte Contemporáneo.
Do centro da cidade, é possível chegar à fazenda de carro (táxi) em 15 minutos. A entrada no parque custa $ 21.000 pesos colombianos (R$ 23) para estrangeiros adultos e $ 13.000 para crianças (R$ 15). Na temporada baixa, a fazenda fica aberta todos os dias das 9h às 16h30, e se estendem até 17h30 na temporada alta. Há ainda uma cafeteria no local que funciona no mesmo horário.
Texto por: Agência com edição
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