A badalada praia de Pipa, localizada no litoral sul do estado do Rio Grande do Norte, é uma das atrações mais disputadas do Nordeste e, talvez, a que traga maior número de turistas para o litoral potiguar. Porém, com a Covid-19, os turistas menos baladeiros e mais ligados a contemplar a plenitude de lindas paisagens, começam a visitar locais com pouca gente, menos trânsito, onde a natureza é mais pura e mais viva.
Uma dica para quem procura esse lado B do turismo no Rio Grande do Norte é explorar as belezas de Barra do Cunhaú, praia do município de Canguaretama. Para chegar nessa preciosidade, gasta-se menos de 30 minutos, atravessando de balsa o rio Catú por Sibaúma, para quem está em Pipa. É como mudar a rotação de um disco. Você sai da rotação 78 para cair na rotação 33, mais clara, mais suave, mar de cores esverdeadas, ventos constantes e paisagens indescritíveis.
Cunhaú é uma região de praias de águas calmas e tranquilas, sem a multidão que assola os vizinhos mais famosos . É onde três rios de água doce encontram o mar e adquirem uma coloração caribenha. No caminho até Cunhaú, avista-se viveiros de camarões – hoje, ao lado do turismo, a principal atividade do distrito.
É também em Canguaretama que o novo roteiro dos Santos Martirés, criado e conduzido pelo turismólogo Sidnésio Moura, ganha seus primeiros contornos.”O Caminho dos Mártires é um roteiro turístico inovador que se une aos demais atrativos de cada cidade, leva as pessoas a ter momentos de oração ou de maior experiência com Deus”, afirma.
Ao longo da peregrinação estão capelas, igrejas, catedrais, santuários, ruínas, mas também os atrativos de cada localidade.
O trajeto tem início no Engenho de Cunhaú, em Canguaretama, onde está a Capela de Nossa Senhora das Candeias – local do primeiro massacre – e o Santuário Chama do Amor. Ali, os peregrinos são acolhidos por sacerdotes, ocasião para conhecer um pouco mais da história dos Santos Mártires e receber uma bênção.
Um resumo histórico sobre os Santos Mártires
No ano de 1645, os holandeses invadem o estado do Rio Grande do Norte vindos de Pernambuco. E aí aconteceram os dois massacres. O primeiro acontece no dia 16 de julho de 1645, durante a celebração da Santa Missa dominical, na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú, no atual município de Canguaretama.
De acordo com os relatos históricos, após o padre André de Soveral realizar a elevação da hóstia e do cálice, erguendo o Corpo do Senhor para adoração dos presentes, Jacó Rabe trancou as portas da Capela e com a tropa de índios Tapuias e soldados ordenou a matança de todos os fiéis. Em Uruaçu, o segundo massacre aconteceu três meses depois, no dia 3 de outubro – hoje parte do município de São Gonçalo do Amarante.
Com as notícias sobre o ocorrido em Cunhaú, alguns católicos buscaram refúgio na Fortaleza dos Reis Magos, em uma fortificação construída no pequeno povoado de Potengi, que ficava próximo da fortaleza, mas foram atacados pelas tropas de Rabe. Eles resistiram, mas acabaram se rendendo e foram massacrados às margens do rio Uruaçu. Entre os mortos estava o padre Ambrósio Francisco Ferro e o camponês Mateus Moreira. De acordo com os relatos históricos, os invasores holandeses ofereceram aos fiéis católicos a opção de conversão ao calvinismo, mas eles escolheram o martírio resistindo à conversão.
Camarão e passeios de barco
O Rio Grande do Norte, atualmente, é o maior produtor de camarão do país. No trecho compreendido entre Natal e Cunhaú está a maioria das fazendas de cultivo de camarão em cativeiro e os maiores laboratórios de larvas de camarão do país.
Depois de atravessar o município de Canguaretama, chega-se a Barra do Cunhaú, vilarejo com uma sequência de quatro belíssimas praias – Barrinha, Boca da Barra, do Pontal e Braço do Mar. Antes da travessia de catamarã para a ilha da Restinga.
Caranguejo: o rei da região
Desce-se do barco, percorre-se uma trilha de barro no mangue (descalço, é claro) e começa-se a cavar o solo em busca do crustáceo. A atividade é uma curiosidade que serve para relaxar os visitantes. De volta ao Catamarã Sambaqui, o piloto ensina as diferenças entre as espécies de caranguejo e o sistema reprodutivo, convidando também aos turistas para conhecer as três opções de mangues da região.
Esse catamarã desliza suavemente pelas águas tranquilas e esverdeadas do Rio Cunhaú, desde a sua foz, adentra ao manguezal até o Meral – encontro dos rios Curimatau e Rio da Penha que deságuam no Rio Garatuba – um roteiro com lindas paisagens e de puro relaxamento. O caranguejo pode ser o símbolo maior da gastronomia local, em função de ter o mangue mais preservado do litoral nordestino, e abundância dessa iguaria na culinária de Barra de Cunhaú.
Além do Catamarã Sambaqui, fazem os roteiros mais duas empresas: a Natureza Tour e o Passeio Ecológico Cunhaú. As saídas acontecem entre 9h30 e 10h30 da manhã, com preços médios de R$ 70,00 por pessoa, num roteiro de aproximadamente 3 horas de duração.
De um lado, o vilarejo rústico e praiano; do outro, a menos de dez minutos, um rio com uma prainha de areia brancas, barraquinhas bem rústicas, redes e mesinhas de madeira dentro d’água, onde pode deliciar-se com petiscos, bebericando drinques de frutas exóticas, tomando banhos refrescantes ou praticando esportes como stand up paddle e caiaque.
Barra do Cunhaú é um refúgio de tranquilidade no litoral Sul do Rio Grande do Norte, que ainda é desconhecido dos turistas. A pesca artesanal do caranguejo no mangue é uma das atividades mais populares da região.
Gastronomia
Barraca do Tonho é referência para gastronomia de excelência
Ex-militar, Antonio Manoel de Oliveira, o Tonho, abriu seu primeiro quiosque de palha na praia da Barra há 29 anos em cima de uma duna. Na época, lembra ele, não tinha energia nem estrada em Cunhaú. Por esse motivo, só servia aos turistas – estrangeiros que vinham a passeio de Pipa – cachaça, conhaque e um tira-gosto, a tainha.
A cerveja veio depois, trazida de Baía Formosa de canoa, além das caixas de gelo. Hoje, o quiosque é um restaurante rústico bem ao lado do rio Catu, parada obrigatória para o turista se refrescar na praia e experimentar as especialidades locais – o mixtão com filé de peixe, camarão e lagosta, a R$ 200, a peixada com camarão, e a paçoca de carne de sol desfiada e batida no pilão, pratos que servem muito bem duas pessoas.
Restaurante Canoas Grill, do outro lado da rua. O cardápio é o mesmo: refeições que variam entre R$ 72 e R$ 200, petiscos, caldos e coquetéis. Ainda na beira do rio, ele instalou a Pousada Áurea, com dez quartos simples e diárias a partir de R$ 120, com apartamentos para até seis pessoas.
Quatro praias com peculiaridades e povoado histórico
Há quem diga que Barra do Cunhaú tem uma só praia, não é bem assim. Apesar de sequenciais e de parecerem uma única, as praias do vilarejo revelam novos cenários. De Boca da Barra a Barrinha, onde deságua o rio Catu, na divisa com o vilarejo de Sibaúma, elas adquirem peculiaridades. Uma caminhada é o jeito indicado de conhecer as diferenças.
Logo na entrada do vilarejo, vê-se uma faixa de água que adentra a Mata Atlântica de um lado e forma um mangue do outro. Os desavisados acreditam se tratar de um rio, mas, na verdade, é um braço de mar que se encontra com três rios – Cunhaú, Guaratuba e Curimataú –, misturando água doce e salgada. O banho de lama do mangue é uma tradição local.
Restinga
Boca da Barra é o ponto de partida dos barcos para as praias da ilha da restinga. Antes do encontro do rio Curimataú com o mar, águas calmas e tranquilas; depois, ondas fortes como chamariz para surfistas. Maior em extensão, a praia do Pontal é onde se concentra a maioria das barracas de praia, restaurantes, hotéis, pousadas e casas de veraneio.
No final do vilarejo, onde se encontra a barraca do Tonho, a praia de Barrinha proporciona um banco de areia na maré baixa. É também onde o rio Catu se encontra com o mar. Na maré baixa, rochas formam uma banheira de hidromassagem natural, e, na divisa com Sibaúma, uma ponta de areia proporciona um lugar aprazível para banhos. Quem der sorte pode ver tartarugas-marinhas.
Vila Flor é destaque para turismo contemplativo
Para fugir do programa praia, recomenda-se um passeio à Vila Flor, um dos primeiros núcleos de colonização portuguesa no Rio Grande do Norte, batizada inicialmente como Aldeia Gramació, ainda nos idos de 1700. Tombada pelo patrimônio nacional, a vila tem a Casa da Câmara e Cadeia, a Igreja de Nossa Senhora do Desterro e a fortificação dos Sete Buracos.
Em 2003, pesquisadores do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) descobriram um túnel durante a construção das paredes de criadouros de camarão. Supõe-se que essas galerias teriam sido utilizadas na obtenção de minério de ferro para os engenhos da região, no século XVII. Hoje, elas fazem parte de um sítio arqueológico.
Na cidade, experimente as deliciosas cozinhas da Glória, mais conhecida como Lola. Ele faz salgados deliciosos todos os dias, com massa de batata especial e uma clientela que vem de longe encomendar seus quitutes.
Vila Flor é um oásis de tranquilidade, mas deveria ser mais divulgada. Por lá seria interessante uma atenção maior do governo do estado, tentando edificá-la como munícipio de interesse histórico e turístico. Um lugar único escondido de rara beleza.
SERVIÇO
Como chegar
Para chegar a Barra do Cunhaú a partir de Natal, pegue a BR–101, entre no município de Canguaretama e depois siga 13 km pela RN–269 até o litoral.
Onde comer
Restaurante Barraca Miramar do Dedé – Experimente os excelentes pratos a base de fritos do mar, além de bangalôs espalhados a margem do rio, e de cara para as piscinas naturais.
Canoas Grill- na orlinha do rio, um lugar com cardápio descolado e excelente musica ao vivo aos finais de semana. Vale conferir. Abre só a noitinha.
Onde ficar
Pousada Vila da Barra. Diária casal a partir de R$ 200 com café da manhã, fica na melhor praia de Barra de Cunhaú, bem na cara do gol. Tem excelentes apartamentos, piscina adulto e infantil, e apartamentos de frente ao mar, consulte – @pousadaviladabarra
Pousada Áurea. Diária casal a partir de R$ 220 com café da manhã. Crianças até 10 anos não pagam. facebook.com/Pousada-Aurea.
Mais informações sobre o Roteiro dos Santos Mártires – (084) 998310358
Consulte sobre o turismo de Canguaretama e Barra do Cunhaú – canguaretama.rn.gov.br
Texto e fotos por: Cláudio Lacerda Oliva