São considerados patrimônio histórico os bens materiais (prédios e construções, por exemplo) ou imateriais (hábitos, expressões e costumes, danças, etc) do passado, valiosos a um povo, sociedade, região ou comunidade, a serem preservados para manter viva, e conhecida, a herança histórica e cultural. No mês em que se comemora o Dia Patrimônio Histórico Nacional, 17 de agosto, a Estância Hidromineral de Socorro – cidade turística referência em atividades de aventura e ecoturismo localizada no Circuito das Águas Paulista – destaca os respectivos patrimônios que fortalecem o Turismo Cultural, já que também são importantes pontos turísticos do município.
“O turismo tem se qualificado. É cada vez mais comum turistas, que preferem experiências, interessados na cultura”, diz Eduardo Bovi, presidente da Associação de Turismo da Estância de Socorro (ASTUR). “Os nossos principais atrativos são as atividades de aventura, a natureza e o patrimônio histórico. Os turistas ficam encantados como nossos prédios antigos são bem preservados e ainda podem ser conhecidos por passeios no centro histórico ou guiado por profissional que explica as edificações”, afirma Guilherme Salles de Campos, designer e fundador do Conselho de Defesa do Patrimônio Arquitetônico Cultural e Natural de Socorro (CONDEPACNAS).
Algumas edificações de Socorro são tombadas, como as que abrigam o museu, a prefeitura e a lojas CEM; a escola Cel. Olímpio Gonçalves dos Reis, tem tombamento estadual. Vale lembrar que o raio de 300 metros a partir de um bem tombado, a chamada área envoltória – que inclui paisagens ou imóveis -, pela lei são complementares ao bem tombado. “Então, praticamente em todo o centro histórico, as construções antigas têm algum tipo de proteção. Não são todas tombadas, mas são listadas e precisam ser preservadas, em graus diferentes”, explica Campos.
“Temos diversos estilos e características do tempo, nestas construções. Tem o colonial, que é o museu municipal e o casarão do café, na praça, que são os únicos exemplares que sobraram do período pré- imigração italiana, com taipas, bem rústicos. Depois vêm exemplares neoclássico, toscanos, que são influência dos italianos, chegada do tijolo e vai tendo a evolução para o estilo art nouveau, art déco, que é anos 40, como o cinema, com linhas mais retas; até chegar no modernismo, com o Fórum, do mesmo arquiteto que fez o Conjunto Nacional, em São Paulo, David Libeskind”, conta o designer.
A maioria desses imóveis localizam-se no centro histórico, chamado de “museu ao ar livre”, e sugere um passeio pelas ruas para conhecer um pouco da trajetória de Socorro e dos habitantes.
Onde fica o Museu Municipal, é o primeiro sobrado da cidade, concluído em 1881 em estilo colonial em taipa de pilão no térreo e pau-a-pique no andar superior. Já acolheu a prefeitura, delegacia, fórum e câmara dos vereadores. O casarão Antônio Pereira Pinto, de 1900, construído para residência depois foi instalado o 1º Cartório Civil de Socorro. Em 1925 voltou a ser residência de outra família e foi restaurado em 2002.
Existe o palacete Hermelino de Souza Araújo e o Casarão Luiz Panontim, ambos de 1922; o casarão Sebastião Andreucci, de 1910; o casarão José Batista Pereira de Araújo, de 1839, que já foi escola infantil e hoje é um restaurante e o palacete Cap. Procópio Isidoro, de 1919, que em 2001 foi restaurado para abrigar flats para o turismo na parte superior e, na parte térrea, tem estabelecimentos comerciais.
Concluído em 1914, o Calafiori é de estilo neoclássico, tem paredes de barrote (tábuas e barro). A parte superior era moradia da família do fazendeiro italiano José Angelo Calafiori e a parte térrea serviu às instalações dos cines Bijou e Odeon. Foi a primeira residência da cidade projetada com banheiro interno. Restaurado em 1994, hoje o piso inferior é ocupado pelo comércio.
Compõem as emblemáticas construções, o Casarão José Paulino Franco, Casarão professor Alcindo de Oliveira Santos, Deolindo Dantas Vasconcelos e o Brasilino Vaz de Lima.
No centro também está a antiga cadeia, que hoje é delegacia: a primeira parte é de 1905 e a segunda de 1908. E, a escola Estadual Cel. Olímpio Gonçalves dos Reis, a primeira escola da cidade, em um casarão construído em 1892, para residência do Sr. Anacleto Olinto de Camargo, estilo neo-clássico. Em 1934, sua fachada foi modificada pelo escultor José Reginato (Pepe) que introduziu naquele e em outros prédios, aplicações art nouveau, nas paredes externas da frente. Depois, foi vendido para o saudoso Professor Alcindo de Oliveira Santos por 30 contos de réis (moeda vigente na época dessa transação).
No início do século XX, por volta de 1910, ainda na pujança do café, o imigrante português José Maria de Oliveira Santos, nos moldes da arquitetura art nouveau, construiu um belíssimo casarão localizado à rua Campos Salles. Em 1941, Alfredo de Oliveira Santos Jr adquiriu a propriedade, que em 2019 se tornou um hotel.
O cinema de rua Cine Cavaliere Orlandi faz parte dos locais com história: é localizado em uma edificação charmosa, com 81 anos. Assim como a primeira capela erguida em homenagem à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em 1829, onde hoje está a Igreja Matriz, concluída em 1924.
A antiga Estação Ferroviária passou por uma profunda reforma para receber o Centro Cultural Movimento. Com estilo ferroviário inglês, o prédio histórico, que data de 1909, foi construído pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e inaugurado pelo então presidente do Estado de São Paulo, Manuel Joaquim de Albuquerque Lins. Na reforma, as estruturas originais do prédio foram mantidas, incluindo as grossas paredes de alvenaria e o antigo madeiramento do telhado.
Socorro é o portal de entrada do Circuito das Águas Paulista e o marco físico, e de boas-vindas, são os dois lindos portais. O inaugurado em 1985, Lions, fica para quem chega de Lindóia à cidade. Já o construído em 2022, o Colonial, é para quem vem de Bragança Paulista. Ambos são considerados cartões postais da cidade e patrimônio histórico.
“Estas construções compõem a evolução urbana e arquitetônica do município. É o DNA da cidade, está impressa a história, as origens, as tradições; são a prova viva da materialização da cultura”, ressalta Campos.
Outro ponto turístico é a Maria Fumaça 208, que transitou na região até meados dos anos 60 e foi instalada pela Companhia Mogiana, com a função de escoar todo café produzido.
O nhanduti (significa “teia de aranha” em tupi guarani) é um patrimônio cultural do município. Nas décadas de 1950 e 1960 a nhanduti era uma importante fonte de recursos para as famílias, mas com o passar do tempo diminuiu, o Espaço do Artesanato é um constante incentivador da técnica. Há uma lenda indígena que o noivo desapareceu no dia do casamento. A jovem índia encontrou o amado morto por uma onça e passou a noite ao seu lado. Percebeu, então, que o corpo estava envolto por um belo manto de teia de aranha. A índia tece a mortalha do falecido noivo copiando o trabalho da aranha. Assim teria surgido o nhanduti.
O conhecimento e preservação do patrimônio ajuda na formação da identidade coletiva e a pessoa cria um sentimento natural de pertencimento ao local onde nasceu ou vive. “Preservar nossos patrimônios é preservar nossa memória e homenagear e honrar nossos antepassados”, ressalta Bovi.
Mais informações: socorro.tur.br
Texto por: Agência com edição de Cláudia Costa
Foto destaque por: VGCOM – ASTUR – Shane Glen