Nataly é mestre em Jornalismo pela Universidade do Porto, em Portugal. Ao longo de sua carreira em marketing digital e vida fora do Brasil, tem desenvolvido projetos sobre turismo e intercâmbio, como o site “Já Fez as Malas” e seu canal no YouTube.
Desde que criei o site Já Fez as Malas?, recebo inúmeras dúvidas de pessoas que querem morar no exterior ou fazer viagens internacionais. No entanto, uma pergunta tem se tornado frequente e precisamos falar dela.
“De onde você tira dinheiro para viajar tanto?”
Pensando que apenas conseguem viajar com frequência aqueles que nasceram em famílias abastadas ou os que possuem um ótimo salário, muitas pessoas se iludem ao acreditar que viagem está estritamente associada ao fato de ser rico. Estas pessoas veem o ato de viajar frequentemente como se este fosse um legado ou uma herança que se recebe de berço e que não se pode conquistar ao longo da vida sem uma conta bancária com muitos zeros à direita.
Vou me tomar como exemplo: nasci em família nordestina, retirante, que se instalou e fez a vida em São Paulo. Meus pais não puderam ir além do Ensino Médio e sempre ganharam o suficiente para nos manter com dignidade, mas sem luxos. Já eu, por meio de muito esforço e apoio, consegui me formar em comunicação na PUC-SP com uma bolsa integral. Neste meio tempo fiz minha primeira viagem internacional para Portugal, que por sinal, foi também a primeira de avião. Por lá fiquei seis meses, em um intercâmbio.
Este foi como que um start na minha vida de viajante. Foi como saber que aquilo dava trabalho, não era de graça, mas que não era impossível. Voltei a morar fora do Brasil no ano seguinte para fazer um mestrado, também em Portugal. Nesse período não tive nenhuma ideia extraordinária para enriquecer, mas veja só, continuei viajando: Brasil, Bélgica, Croácia, Espanha, Holanda, Portugal, Irlanda, Irlanda do Norte e por aí vai.
Mas como então eu consegui dinheiro para fazer todas essas viagens? Simples: abrindo mão daquilo que me faz gastar mais do que realmente preciso. O que é básico fica mais difícil economizar: aluguel, alimentação, saúde e transporte. Mas e o cinema? E os jantares e saídas? E a roupa/sapato/celular/carro novo? Sem esses ninguém morre.
Prioridades
Pois bem, assim finalmente chego a minha resposta. Como todas as escolhas na vida, viajar também é uma questão de prioridade. Não tenho carro. Meu celular é dos piores e nunca tive um muito decente. Da mesma forma, me privo de gastar com lazer e outros itens para poder fazer as viagens que desejo. Quanto mais caro o roteiro, mais dinheiro e por mais tempo tenho que juntar. Aliás, é quando tenho esses planos que aceito mais trabalhos extras (e fico com menos tempo livre), para assim poder alcançar meus objetivos logo.
Por isso, se você é daqueles que pensava que viajar frequentemente é só para alguns, saiba que é para todos, desde que se esforcem e corram atrás. Para ajudar existe o CouchSurfing, o Work Exchange, os Hostels, a bicicleta, a carona, o “posso ir te visitar mês que vem” para um amigo ou parente que more em outro local, o “vamos viajar em grupo para rachar as despesas” e por aí vai.
Quando a grana para viajar é curta, a vontade tem que ser grande.