Que tal se hospedar no mesmo local onde já dormiram reis, príncipes e até mesmo São Francisco de Assis? Mais do que a experiência do conhecer, a emoção de conviver com o passado está presente nos Paradores – hotéis sofisticados que, séculos atrás, foram antigos palácios e castelos medievais.
A memória de palácios e castelos continua impressa em paredes e escadarias dos Paradores espanhóis. Pouco conhecido no Brasil, a “Junta de Paradores y Hosterías del Reino” foi criada na Espanha em 1928 pelo rei Afonso XIII, com o propósito de aproveitamento turístico dos esplêndidos monumentos históricos e artísticos do país. Desde então, a atual “Paradores de Turismo de España, S.A.” administra 93 paradores adquiridos pelo governo espanhol e gerenciados por diferentes instituições, de privadas a parcerias entre Igreja e Estado ou até mesmo associações.
Misticismo, religiosidade, história, cultura – nos paradores todos os acontecimentos do passado ganham certa aura mística, capaz de provocar a imaginação de todos os hóspedes. Além disso, os aposentos são utilizados para exposição de acervos, em muitos casos, de valor incalculável.
Em todos eles a sofisticação se une ao grosso de suas paredes: quartos com camas decoradas em estilo medieval, TVs a cabo, calefação e todos os recursos que combinam o conforto de nossa época com o glamour de outra mais distante. Ao visitante, resta a noite de sonho dos nobres, reis e santos.
Parador de Argomaniz – paz e tranquilidade
Entre uma e outra lenda, conta-se que na comarca de Argomaniz, a oito quilômetros de Vitoria-Gaistez, um agricultor chamado San Martinico, ou Martintxiki, teria conseguido dos pássaros o segredo do cultivo do trigo.
O parador de Argomaniz, um vistoso castelo renascentista, era a antiga propriedade da família Larrea, cuja fortuna brotou de terras da extensa planície de Álava, bem de frente para sua morada.
Napoleão Bonaparte descansou nesse nesse edifício antes de atacar a cidade de Vitoria-Gasteiz, durante as guerras peninsulares. Como se pode ver abaixo, a reforma de suas dependências respeitou alguns espaços e até mesmo algumas madeiras antigas para manter o telhado. São cinquenta e três quartos de fácil acesso, todos com TV a cabo, Wi-Fi, telefone, mini-bar e cofre.
O parador de Argomaniz é local de muito silêncio e tranqüilidade, de onde se pode desfrutar da ótima gastronomia basca, inclusive com a opção de alimentos sem glúten e, claro, dos excelentes vinhos da região. Além da bela planície contemplativa de campos de cereais, cujos pássaros, diz a lenda, ensinaram semear.
Parador Del Imperador
O parador “Del Imperador”, em Hondarribia, era um castelo do século X. O hotel luxuoso é cheio de histórias e lendas. Conta se que na época, D. Sancho Abarca, Rei de Navarra, utilizou parte dele como quartel, onde dormiam 850 soldados. Atualmente, essa mesma área está finamente decorada com amplas mesas, excelente opção para a realização de jantares cerimoniais ou reuniões.
Situado no ponto mais alto de Hondarribia, toda a vila ao redor do castelo foi fortificada por D. Sancho VII, “El Fuerte”, a fim de resguardar a cidadela dos perigos que vinham do mar ao longo do século XV. Mas foi o imperador Carlos V quem deu o ar de poesia ao construir sua linda fachada e transformar o castelo em palácio real.
Destruído por tropas francesas em 1794, as ruínas resgatam sua história ao lado de escadarias, que compõem harmonicamente o ambiente, conduzem a imaginação de seus visitantes à era medieval.
O Parador Del imperador guarda em seu interior, além do conforto de um hotel quatro estrelas, muitas lendas arrepiantes. Conta-se que os prisioneiros do castelo teriam morrido por afogamento em sua masmorra, que se enche de acordo com a maré do mar. Muitas almas perambulam à noite pelas ruas e ao redor do castelo.
Lendas à parte, a preciosidade de seus objetos decorativos é outro tesouro exposto aos seus hóspedes, alguns de valor tão incalculável quanto a beleza do lugar.
Parador de Santo Domingo e de Frei Bernardo de Fresneda
Nem mesmo São Francisco de Assis tem tanta fama na região quanto o santo que deu nome à cidade, Santo Domingo de la Calzada. No século XII, Santo Domingo construiu um hospital para ajudar os peregrinos que faziam o caminho de Santiago de Compostela. Nele teria dormido São Francisco de Assis, santo católico de origem italiana, durante um período em que ajudou Santo Domingo em sua empreitada.
Assim, o hóspede que ocupa o Parador de Santo Domingo irá se surpreender com o luxo e o requinte de um local quem em nada lembra a maior virtude do santo, a simplicidade. Mais tarde, o hospital foi adquirido pelo Rei de Navarra, que o transformou em um palácio real e até ser comprado pelo Estado espanhol e virar Parador.
O hotel quatro estrelas está situado ao lado da catedral de Santo Domingo, dentro da cidadela medieval cercada por muros de pedra. Na cidade, ele ainda ganha a companhia de outro Parador, o de São Bernardo de Fresneda, onde antes era o convento São Francisco.
Não tão histórico quanto o Parador de Santo Domingo, o Parador de São Bernardo de Fresneda oferece aposentos de igual comodidade e ainda áreas maiores para a realização de eventos sociais e empresariais.
Em ambos os paradores as acomodações são extremamente bem cuidadas em todos os detalhes: TV a cabo, hi-fi e confortos de causar inveja a reis e santos. Com todo o respeito.
Paradores de Olite
Quem tem medo de assombração? Em Olite, um palácio reerguido em 1517 pelo Rei Carlos, o Bom, tem uma história assombrosa. Conta-se que seu neto teria se rebelado duas vezes na tentativa de tomar o trono. Nas duas perdeu a batalha e o perfeito juízo.
Uma pintura que retrata a figura do neto rebelde foi pendurado bem de frente a uma pequena sala que dá para seu claustro. Com o tempo, a umidade da parede tomou a parte central do quadro e formou uma figura humana. Há quem diga se tratar da verdadeira imagem do príncipe.
Seus quartos surpreendem pelos cuidados tomados em detalhes. Um deles fica bem de frente ao local onde o rei despachava com seus conselheiros. Tão bom quanto se hospedar no parador de Olite é poder visitar também o incrível castelo, muito bem preservado em todas as suas características: torres, jardins, escadarias e do alto, a bela vista panorâmica de toda a região. Um lugar onde não se vê o tempo passar.