O Pantanal é um destino para quem quer esquecer do relógio. O tempo por lá tem outro ritmo. Chegando ao aeroporto de Campo Grande, meu primeiro destino foi Nhecolândia, distrito de Aquidauana rumo ao Hotel Fazenda Baía das Pedras. São aproximadamente quatro horas e meia de estrada em 4×4, e aí começa a paixão pelo Pantanal. Pássaros de todos os tamanhos e cores cruzam o céu em algazarra.
Chegar à Baía das Pedras e ser recebida pela Rita, proprietária, é como chegar à casa de uma amiga. Acolhimento pantaneiro! O Hotel Fazenda tem apenas cinco quartos, que vivem lotados de americanos e europeus. A Fazenda é colaboradora em projetos de pesquisa e conservação do IBAMA e de ONGs, inclusive internacionais, que tem como foco a anta e o tatu canastra. Este último mais parece saído das páginas de livros da pré-história, com seu tamanho que chega até três metros, carapaça estranha e imensas unhas.
No dia seguinte, depois do farto café da manhã pantaneiro, é hora de continuar na estrada, de volta para a BR-262, que corta o estado do Mato Grosso do Sul. Parada obrigatória é o Boteco de Dona Maria do Black, na beira da estrada. No fundo do bar de madeira pintada, com uma tosca varanda coberta, jacarés pretos que chegam a dois metros de comprimento aproveitam o sol de quase 40°C, imóveis, como se fossem os únicos seres do planeta. Dona Maria os alimenta diariamente na boca, o que lhe garantiu uma reportagem especial do Globo Repórter há tempos atrás. Depois de muitas fotos desses gigantes, que também parecem jurássicos, vale a pena experimentar a Funada em garrafa, tubaína local.
Seguindo viagem para Miranda para visita e “pouso” na Fazenda Baía Grande, de Alexandre Marques. Terceira geração de uma família criadora de gado, abriu as portas da fazenda para receber turistas do mundo inteiro. Com cinco quartos, piscina e muito conforto, é possível se sentir um pouco “fazendeira”, não só porque a gente se sente em casa, como também é possível sair na “lida” com os peões para “apartar” o gado ou cavalgar em meio às áreas alagadiças do Pantanal. Sopa Paraguaia (que não é uma sopa, mas um tipo de bolo), peixe, carne e a “contação de causos” no pé da fogueira encerram o dia.
O sol parece aparecer mais cedo no Pantanal. Cinco horas da manhã e o céu já é riscado com cores que vão do vermelho ao alaranjado. Estrada de terra e asfalto pela frente até chegar à região do Passo da Lontra, município de Corumbá. Hospedagem no Pantanal Jungle Lodge, que parece mesmo um hotel de selva. Todo construído em madeira sobre palafitas, com detalhes que dão a ele um charme especial com seus dezenove apartamentos, com varandas que nos reportam aos filmes de pesquisadores ingleses na África. Na frente dos quartos, o Rio Miranda corre volumoso, dando uma incrível sensação de paz.
No final da tarde, subir por duas horas o rio, até o encontro com o Rio Vermelho para um acampamento radical, na tentativa de ver a famosa onça pintada do Pantanal. Barracas montadas, fogueira acessa e o jantar fica por conta da generosidade do rio, com seus cardumes de piranhas. De madrugada, o céu é mágico com um sem número de estrelas que se refletem no rio. Capivaras visitam o acampamento, mas nada da pintada.
De manhã, a família de macacos bugio serve como despertador. No descer do rio, tuiuiús, martim pescadores, garças e uma infinidade de outros pássaros cruzam nosso caminho. É possível avistar os jacarés nas margens impávidos, iguanas e macacos nas copas das árvores que colorem as margens do rio, principalmente os ipês roxos (também chamados de piúva) e os cambarás. A última tentativa de ver “a moça”, saída para o que chamam de focagem, é no finalzinho da tarde.
Às cinco e meia, já começa a escurecer. O escuro da noite cai de repente, como se jogassem um grande manto negro no céu. O barqueiro passeia com a luz da lanterna entre uma margem e outra. Avistar os jacarés na água é incrível. Depois de uma hora de navegação o barco “corta” o motor e ficamos no meio do Rio Miranda, sob um céu maravilhosamente estrelado e apenas o barulho dos animais noturnos. A sensação de paz é indescritível. Hora de voltar, sem avistar a onça.
Antes da volta para Campo Grande, uma parada na Pousada da Lontra, exclusiva para pescadores. Vamos tentar a sorte nas quatro horas que ainda restam. Rio acima por uma hora e parada total. O silêncio é a grande isca. Uma hora e meia depois, um pintado de quase 2 kg e meia dúzia de piranhas douradas. Hora de voltar e preparar o almoço. A Pousada oferece toda a estrutura para os pescadores, inclusive um verdadeiro “chef” que prepara o que foi pescado.
O sol, mesmo sendo inverno, castiga um pouco, mas é hora de voltar e trazer no coração a lição de que tudo faz parte de um todo e que a integração homem/natureza é o que pode haver de mais sagrado e perfeito. E fica a dica… Se você não conhece o Pantanal, conheça!
Texto por: Patricia de Campos
Foto destaque por: iStock / filipefrazao