Ancorada por uma imponente estátua do escritor alemão Friedrich Engels e de um templo da Igreja Ortodoxa Russa coberta por cúpulas de ouro, a Avenida Ostozhenka (conhecida como Golden Mile), no centro de Moscou, capital russa, está em uma das áreas residenciais mais caras do mundo.
Segundo a consultoria de inteligência de fundos Wealth-X, é ali que se encontra o oitavo metro quadrado mais valioso do planeta, à frente da Quinta Avenida, em Nova Iorque, e da Avenida Montaigne, em Paris.
No coração da cidade, a Ostozhenka é adjacente ao rio Moscou, que corta a cidade, e possui duas estações de metrô, um parque e várias conexões com as principais avenidas da capital russa. No começo da avenida, na estação Kropotkinskaya, a estátua de Engels, o co-autor do “Manifesto Comunista”, ao lado de Karl Marx, dá um tom irônico ao luxo e ao preço da região.
Erguida nos anos 1970 pelo Partido Comunista, foi colocada ali justamente porque está na metade do caminho entre o monumento a Marx no Bolshoi Theatre e o local onde está o corpo embalsamado de Vladimir Lênin. “As fundações ideológicas do marxismo-leninismo estão próximas no mapa, disponíveis em uma única caminhada”, diz o texto de uma agência de viagens russa.
Os apartamentos começam a ser vendidos por aproximadamente US$ 800 mil (R$ 2,8 milhões), com um grande número de propriedades encontradas nos programas para imobiliárias internacionais negociadas por até US$ 7 milhões (R$ 25,1 milhões). Na Rússia, apesar das relações complexas com os EUA, o mercado imobiliário é cotado em dólares estadunidenses.
“A prática de avaliações em rublos, a moeda russa, é algo relativamente novo no mercado, mas está se tornando mais comum desde o colapso do rublo em 2014”, disse Vitaly Bobkov à revista estadunidense Forbes.
A avenida conta a história de uma Moscou de tempos antigos por meio de sua arquitetura detalhada: uma mistura de estruturas edificações clássicas e modernas, complexos neogóticos, prédios ornados em art nouveau e outras construções contemporâneas luxuosas com visões panorâmicas do rio – parte do horizonte da cidade. Além de embaixadas e sedes diplomáticas, é onde estão situados os grandes apartamentos de luxo.
De acordo com Bobkov, as principais vantagens de morar na Ostozhenka é a exclusividade. “É um bairro histórico que permite caminhar até a Catedral de Cristo Salvador e ao Kremlin, assim como em lugares tais como o Boulevard Ring e a rua Arbat (todos cartões-postais e atrações turísticas de Moscou). Vários edifícios diplomáticos estão localizados aqui, como os do Egito, da Croácia, da Suíça e de Madagascar. Portanto, tem um status”, afirmou ele.
Apesar da história que a Ostozhenka guarda em seus prédios, hoje ela não vive apenas do passado: é um destino muito popular por causa da sua proximidade com outros pontos importantes de Moscou e pela construção de novos prédios modernos durante os anos 1990, quando a Rússia precisava mostrar ao mundo algum sinal de “modernização” dentro do capitalismo pós-queda do Muro de Berlim.
Segundo a revista estadunidense Mansion Global, especializada em endereços luxuosos, a Ostozhenka é um lugar em que as pessoas vão para “verem e serem vistas”. Ali, estão restaurantes prestigiados da Rússia, da Geórgia e do Japão e uma das maiores piscinas ao livre aberta ao público do país, construída na época da URSS. Curiosamente, não há colégios privados na avenida, mas uma série de pequenas e prestigiadas escolas públicas.
É na Ostozhenka também que estão galerias de arte famosas mundialmente, como a RuArts, a Our Artists e a In Artibus Foundation. Joalherias, no entanto, como são comuns em endereços de luxo, estão localizadas em outras áreas da cidade, como as avenidas Nikolskaya e Tretyakovskaya.
Debaixo do regime soviético, a avenida permaneceu sendo uma das regiões mais preservadas de Moscou: o governo jamais ergueu seus tradicionais prédios monoblocos ao longo da rua e, ao contrário, assistiu o crescimento da arquitetura art nouveau do final do século XIX e começo do XX. Sob o capitalismo, a área se valorizou quando uma recém-criada aristocracia voltou a ocupar os seus prédios.
Segundo Bobkov, os proprietários dos imóveis da avenida são administradores de negócios, celebridades e oficiais do Estado que “prezam pela privacidade”. Os compradores são em sua maioria os locais por causa das leis russas: investimento real imobiliário para não-residentes é fortemente taxado na Rússia, o que faz com que haja poucos estrangeiros dispostos a comprar propriedades no mercado de Moscou agora.
Vários nomes conhecidos mundialmente da Rússia moraram na Ostozhenka, como o escritor Mikhail Bulgakov (1891-1940), autor de “O Mestre e a Margarida” (livro que, aliás, foi escrito baseado em um romance que aconteceu na avenida), o poeta soviético Vladimir Mayakovsky (1893-1930) e o cantor de ópera Feodor Chaliapin (1873-1938). Os atuais moradores, ao contrário, não gostam de se expor, de acordo com Bobkov. “É seguro dizer que há muitos empresários vivendo na região hoje em dia”, revelou à Forbes.
Texto por: Agência com edição
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