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Os tours urbanos em que os clientes pagam “quanto querem”

Foto por Istock/ pcruciatti

O conceito de um city tour onde não há preço fixo e os turistas “pagam quanto querem” está se tornando popular nas grandes capitais europeias, resultado do aumento da consciência dos custos de uma viagem, de operadores de turismo alternativos e das facilidades possibilitadas pela internet — onde é possível até encontrar roteiros exclusivos.

Para o turista, o esquema é simples: basta encontrar um tour entre os vários disponíveis em sites e aplicativos, como o CouchSurfing e o Airbnb, e ir até o local combinado no dia estabelecido. Então, é só seguir o guia turístico durante o roteiro e, ao final, deixar uma espécie de gorjeta a ele — sabendo que a palavra “free” ou “grátis” é apenas uma tática de marketing empregada, já que se espera que o cliente pague algum valor.

Para o operador, pode ser surpreendentemente lucrativo em dias bons ou se ele possuir boas referências nos rankings dos sites. No caso de Londres, o mais famosos é o Bowl of Chalk’s pay-what-you-like e, em Paris, a brasileira Zildinha Figueiredo também já acompanhou grupos de turistas brasileiros pelos museus da capital francesa (ela é historiadora) por meio da modalidade. No entanto, o jornal britânico Telegraph listou iniciativas semelhantes em cidades como Sofia, na Bulgária e Madrid, na Espanha.

Os tours são parecidos com os famosos “bares honestos” de Berlim, na Alemanha, em que os clientes pagam o quanto acham que a comida valeu. Muitos dos novos roteiros são criados por empreendedores solitários, mas uma série deles fizeram sucesso como coletivos multi-situados. É o caso da Sandemans, que inventou o modelo em 2004 e hoje administra city tours como esse em 18 cidades da Europa — a empresa foi criticada recentemente por exigir que seus guias paguem uma pequena taxa por cada turista presente.

Algumas empresas, porém, são mais cautelosas do que outras: elas evitam a palavra “grátis” nos anúncios ou estabelecem que pequenos pagamentos são obrigatórios e, em outros casos, são até certificadas como “negócios”. Nos últimos anos, com o advento de redes sociais como Instagram e Pinterest, companhias aéreas como a Tam e Air France, além de hotéis e restaurantes passaram a patrocinar contas de empreendedores turísticos para atrair turistas que decidem seus roteiros pelas cidades por meio do celular.

O jornal Clarín publicou recentemente uma reportagem contando sobre o trabalho de Jonathan Evans, um britânico que vive em Buenos Aires como guia turístico — e que adotou a modalidade há dois anos. “Eu me sentia muito desconfortável sugerindo o quanto as pessoas deveriam pagar, porque eu dizia antes que era de graça. Se quando acabava o passeio eu dizia que os visitantes precisavam pagar algo, não era grátis. Várias vezes as pessoas se foram sem deixar nada, mas é parte do jogo”, contou ao periódico.

“Se as pessoas pagam alguma coisa pelo serviço, é porque elas gostaram dele. Uma vez uma mulher pediu o dinheiro dela de volta porque estava chovendo no dia do passeio. De fato, elas pensavam que era um tour de ônibus”, contou Jonnie Fielding, do Bowl of Chalk, ao Telegraph. Ele ainda argumentou que seus roteiros são uma alternativa mais honesta do que os “free tours”, porque ele deixa claro antes que há um preço a ser pago.

O turismólogo Diego Perali, de São Paulo, no entanto, adverte que é possível fazer turismo nas grandes cidades do mundo sem guias nem roteiros aparentemente gratuitos: lendo o conto “O homem da multidão”, do escritor britânico Edgar Allan Poe, publicado em 1840 e em que o narrador persegue um estranho misterioso pelas ruas de Londres – então a maior cidade do mundo – sem nenhuma razão aparente.

A prática tem tantos adeptos quanto bases artísticas: o escritor e artista britânico Phil Smith propõe que a exploração de uma cidade depende de uma pessoa escolhida ao acaso que seja seguida de longe até um limite, quando se troca para outra. “As cidades são cada vez mais repletas de coisas para se ver e, paralelamente a isso, os pontos turísticos estão se tornando destinos clichês que, na maioria das vezes, se quer evitar”, finaliza Perali.

Texto por: Agência com edição

Foto por Istock/ pcruciatti

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