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No Rio Grande do Sul, Caminhos das Missões agora inclui cidades do Paraguai

Foto por Istock/ Jolkesky

O Brasil é resultado de vários imigrantes que ainda hoje vêm se abrigar no carinho abundante do solo tupiniquim. Mas, no passado de um país, reside suas origens. Antes de ser descoberto pelos portugueses em 1500, o Brasil era habitado por diferentes tribos de índios – os tupis-guaranis são os mais conhecidos, mas não são os únicos. Durante séculos de colonização, o país luso tentou impor a sua cultura, as suas tradições e os seus costumes aos indígenas brasileiros. A iniciativa nem sempre foi bem-sucedida. Mas, os vestígios do passado ainda estão bem presentes em algumas cidades brasileiras.

A religião faz parte desta herança. País católico, Portugal enviou para cá jesuítas que tentaram catequizar as tribos indígenas brasileiras, nos primeiros anos de colonização do País. Caso do Padre José de Anchieta, o fundador de uma das primeiras “cidades” brasileiras. O missionário da Companhia de Jesus participou do colégio da Vila de São Paulo, que mais tarde se tornaria na cidade de São Paulo (SP), hoje a maior capital brasileira. Caso também de tantos outros religiosos portugueses e espanhóis que para cá vieram e que por aqui e pela América Latina se espalharam.

Foto Divulgação Embratur

No Rio Grande do Sul algumas cidades preservam intactos os traços das missões jesuíticas do Brasil colonial. Caso de  São Miguel das Missões, cidade que se destaca por apresentar o maior número de estruturas e em melhor estado de conservação dos antigos sete povos jesuítico-guarani que viveram no Estado. O município tem um de seus pontos altos no turismo proveniente da visitação do Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, onde estão as ruínas jesuíticas da antiga redução de São Miguel Arcanjo, declaradas como Patrimônio Mundial pela Unesco.

Sítio Arqueológico de São Miguel, onde estão as ruínas jesuíticas da antiga redução de São Miguel Arcanjo, declaradas como Patrimônio Mundial pela Unesco.

Se você tem interesse e deseja conhecer parte deste tesouro histórico do patrimônio nacional, saiba que existe um roteiro capaz de preencher o seu anseio: o Caminho das Missões. Criado há 17 anos, o tour, na verdade um projeto de peregrinação a pé e de bike interligando cidades do Rio Grande do Sul a outras da América do Sul, ainda preserva o seu objetivo inaugural: estabelecer uma rota internacional entre a primeira redução jesuítico-guarani (a de San Ignacio Guazú, nascida em 1609, no Paraguai) a de Santo Anjo (no Rio Grande do Sul, criada pelos religiosos portugueses em 1707).

Foto por Divulgação

Ao longo de seus 17 anos de caminhadas e cicloturismo no lado brasileiro entre os municípios de San Borja e Santo Ângelo (RS), o roteiro, batizado como “Caminho das Missões”, conquistou as suas primeiras vitórias há dois anos, quando promoveu a primeira peregrinação internacional na vizinha Argentina, onde realizou duas caminhadas. A primeira aconteceu em outubro de 2017, enquanto a segunda foi realizada em fevereiro de 2018.

Novidade – O roteiro que privilegia o conhecimento da doutrinação jesuítica no Brasil e na América do Sul recentemente foi ampliado, inaugurando outra rota internacional, desta vez interligando o Brasil e a Argentina ao Paraguai. A primeira caminhada partiu do país paraguaio, da cidade de San Ignacio Guazú, percorrendo o território reducional nos departamentos de Misiones e Itapúa, até chegar à costa paraguaia compartilhada com a Argentina, em Bela Vista-PY. Na Argentina, passou por Corpus Christi e seguiu até San Ignácio, no Rio Grande do Sul, onde a caminhada de 13 dias terminou.

Com a ampliação do Circuito da Missões, o recém-lançado tour passa a ser o maior roteiro a pé da América do Sul, com 800 quilômetros e aproximadamente um mês de duração.   A primeira caminhada ligando as missões jesuíticas existentes nos três países da América do Sul aconteceu em agosto, estendendo-se aos primeiros dias de setembro. E, se você se interessou, saiba que este o roteiro será novamente realizado.

Foto Divulgação

A próxima saída vai acontecer no dia 22 de outubro, com o final previsto para o dia 3 de novembro. Nesta segunda caminhada a ser realizada a partir do Paraguai, o conjunto do Caminho das Missões Internacional vai estabelecer o itinerário completo unindo o antigo sonho de interligar a primeira à última redução jesuítico-guarani. Posteriormente, Brasil, Argentina e Paraguai pretendem incluir outras cidades ao roteiro.

Na próxima etapa das caminhadas a intenção dos três países é incluir cidades do Sul da Argentina, como Yapeyú, integrando a cidade argentina ao atual percurso brasileiro em São Borja (RS). Segundo garantem os organizadores do projeto, a ideia é promover a integração do conjunto de 30 povos sul-americanos.

Filósofos e pensadores – Andar a pé ou de bicicleta pelas antigas estradas percorridas pelos jesuítas e índios guaranis nos séculos 16 e 17 é uma experiência única. O sentimento e a emoção de viver essa aventura foram testemunhados por todos os que fizeram o trajeto pelas terras vermelhas das Missões nos últimos 17 anos.

Na jornada, paisagens surreais e sítios arqueológicos se revezam com cidades consideradas como Patrimônio Cultural da Humanidade e com museus, ao mesmo tempo que o peregrino tem contato com o passado do mundo missioneiro, aprendendo mais sobre a formação da América Latina.

Foto por Divulgação

Para entender melhor o que isso significa, saiba que as fronteiras do Brasil (Missões-Rio Grande do Sul), Argentina (Misiones e Corrientes), Paraguai (Itapuá e Misiones) e Uruguai foram palco de importantes capítulos da história mundial. Foram nestas terras que, entre os anos de 1609 e 1768, os padres jesuítas e os índios guaranis construíram um novo modelo de convivência para a humanidade.

As missões foram constituídas pelos jesuítas a partir das utopias de Morus, Bacon e Campanella, sendo consideradas por Lugon como a mais original das sociedades que o planeta já teve. Também Charlevoix e Muratori a reconheceram como um modelo sem precedentes da sociedade cristã, enquanto a revista “Lés Lettres Edificantes et Curieuses”, dirigida pelos jesuítas na Europa, comparou os guaranis aos primeiros cristãos e descrevia suas comunidades como “a realização ideal do cristianismo”. Por sua vez, Voltaire afirmou que o projeto jesuíta-guarani foi um “triunfo da humanidade” e Montesquieu chamou as missões de “primeiro estado industrial da América”.

Em “Organização Social das Doutrinas Guarani, Pablo Hernández também se refere às missões, afirmando que o maravilhoso surge a cada passo. E o filósofo Rayal escreveu: “As leis foram observadas, uma civilidade exata reinou, os costumes eram puros, uma fraternidade feliz unia os corações, todas as artes da necessidade foram aperfeiçoadas. A abundância era universal. O mundo novo que estamos procurando realizar não pode menosprezar a lição fornecida”. Por fim, Rafael Carbonell de Masy, afirma ser a hora de resgatar a verdade sobre a origem da primeira cooperativa do mundo, nascida em 1627, nas Reduções Jesuítico-Guarani.

Com a internacionalização do “Caminho das Missões”, um sonho nascido em 2002, o roteiro fica ainda mais abrangente. Em outras palavras, mais do que um passeio turístico, é um itinerário interativo no qual a superação de desafios pessoais proporciona uma experiência inigualável de liberdade e autoconhecimento.

Para obter mais informações, acesse a Operadora Caminho das Missões, tel. (55) 3312-9632 e Cel/Whats (55) 98405-8528, site caminhodasmissoes.com.br.

Texto por: Fabíola Musarra

Foto destaque por Istock/ Jolkesky

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