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Luta de gigantes

Percebo que estamos vivendo histórias como as da Grécia Antiga, que existia o confronto dos deuses com os Titãs. Ou até mesmo voltando ao Antigo Testamento na históriada torre de Babel. Neste caso o povo de Deus pretendia construir uma torre que tocasse o céu e pudesse ser vista por todos, como um sinal de ostentação. Me deparo hoje com um fenômeno similar a estes fatos no turismo religioso, com a construção de grandes monumentos, como se eles fossem o ponto principal para atrair a demanda do turista religioso ou peregrino. O fato é que todas as grandes estatuas construídas no Brasil buscam se comparar com a do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro – e aqui vai um adendo: Graças a Deus, ninguém na verdade é maior do que Cristo!

Vale lembrar que o Cristo Redentor teve uma finalidade: sua pedra de fundação foi colocada no ano de 1922, devido ao Congresso Eucarístico da Independência, que comemorava o centenário da Independência. No Congresso Eucarístico de 1933, um jornal Católico comentava: “Na grande Assembleia Nacional todos têm os olhos voltados para Cristo, por cuja sua glória se reuniram, e para o Brasil por cuja grandeza trabalham”.

Enfatizo de início esse objetivo, porque naquele período a Igreja no Brasil não pensava em turismo religioso, mas na Imagem de Cristo como bênção para a Nação Brasileira. A estátua do Cristo Redentor, referência do Rio de Janeiro no mundo inteiro, não teve origem como um atrativo turístico, mas como uma iniciativa de caráter eminentemente religioso.

No ano de 2014, o Ministério do Turismo divulgou uma estatística referente ao Turismo Religioso, que alcançaria um público no Brasil de 17,7 milhões de pessoas, com um impacto econômico de 15 bilhões de reais, abrangendo 344 destinos e 96 atrações. Esses números já partiam de um equívoco: em 2005, quando o Mtur informava que o Brasil alcançava 8 milhões de pessoas no turismo religioso, apenas o Santuário de Nossa Senhora da Aparecida, em Aparecida (SP), já recebia 8.005.000 peregrinos.

Voltando a 2014, naquele mesmo ano Aparecida registrava 12.112.583 peregrinos; o Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), atingia 4.000.000; o Círio de Nazaré em Belém (PA) atingia 2.400.000 e o Santuário de Santa Paulina, em Nova Trento (SC), 840.000 peregrinos. É só fazer o cálculo e perceber que apenas quatro destinos do Turismo Religioso no Brasil ultrapassam as informações divulgadas pelo Mtur. Pesquisa está realizada por mim e pelo jornalista Amadeu Castanho, da Revista Eletrônica Viagens de Fé.

Com isto, volto ao título deste artigo, para que se possa notar que nenhum destes destinos conta com imagens gigantes onde seus tamanhos são comparadas ao Cristo Redentor.

O que não podemos perder é o princípio do Turismo Religioso, que está ligado à fé popular e à cultura de cada povo. Basta olharmos para o nosso Nordeste e vermos que Canindé e Juazeiro, no Ceará, recebem em média 2,5 milhões de pessoas por ano, e não notamos a existência de nenhuma imagem maior que o Cristo Redentor. Ao contrário, é a devoção popular que tem levado esta grande peregrinação às cidades de Juazeiro e Canindé.

No ano de 2021 foi inaugurada uma imagem de Nossa Senhora das Filipinas, construção de iniciativa privada através de Centro de Peregrinação Montemaria, que tem 98,15mts de altura. Segundo os responsáveis pela construção, é uma homenagem a Nossa Senhora das Filipinas, Mãe de toda a Ásia.

Em São Miguel Arcanjo, no estado de São Paulo, teve início a construção da imagem de São Miguel Arcanjo, que terá 57 metros de altura. Minha maior preocupação com estas construções é saber se estão trabalhando o Espaço Sagrado, que é o principal ponto de partida para acolhida aos turistas e peregrinos.

O Turismo Religioso não se faz com grandes imagens, mas a partir da fé popular e do Espaço Sagrado que é o lugar de praticar a devoção. Provar quem faz a maior imagem nada tem a ver na promoção do turismo religioso. O Cristo Redentor é usado como referência quando se fala em grandes monumentos. No turismo religioso, erroneamente, a busca não é por construir um grande monumento em honra a Jesus Cristo ou um santo ou a um personagem religioso como padre Cícero, mas em fazer isso propondo que a nova estátua seja X metros maior do que o Cristo Redentor.

Enfim, no lugar da luta de gigantes, vamos trabalhar a partir do Espaço Sagrado para acolher os Turistas e os Peregrinos.

Texto por: Manoel Sidnésio

Foto destaque por: Bruna Prado – MTUR

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