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Jánovas: a cidade dos expropriados no coração dos Pirineus Aragoneses

Foto por Istock/ Jose Angel Astor Rocha

Um pequeno distrito chamado de Jánovas ,que fica no coração dos Pirineus Aragoneses, é na verdade um núcleo de casas de pedra, cemitério e igreja que está desabitado há mais de 50 anos. Essa pequenina cidadela foi expropriada, não abandonada, segundo seus antigos habitantes. Na década de 1950, o ditador General Franco ordenou a expropriação forçada desse povo para construir uma enorme represa para regular a vazão do rio Ara. Esse feito levou 150 famílias de Jánovas e de seus arredores a serem obrigados a deixar suas casas. Muitas das famílias foram tiradas por soldados franquistas, crianças e idosos puxados pelos braços, pernas e até cabelos.whatsapp-image-2019-08-08-at-16-54-56

A expropriação acabou trazendo um grande prejuízo na belíssima arquitetura. Muitas das famílias não se acostumaram e muitos lideres acabaram por morrer de desgosto. Mesmo sendo indenizados, o que foi pago rendeu migalhas e muitas famílias que já tinham na pecuária e na agricultura suas fontes de renda acabaram por perder tudo o que conseguiram na região onde habitavam. Foi o mesmo que obrigar um filho que amamenta a ser arrancado do peito de seu mãe e começar de uma hora pra outra se alimentar sozinho.

Seis décadas depois, e com o reservatório não construído, os vizinhos poderão recuperar suas terras após uma dura batalha legal. O governo local estima que 25 milhões de euros serão necessários para a cidade voltar a ser habitada. A última palavra é do executivo central, que é quem deve contribuir com a maior parte do dinheiro.

À época, Jánovas era uma cidade próspera, dedicada principalmente à agricultura irrigada e a pecuária e matinha também um comércio importante. Essa bela paisagem dos Pirineus se tornaria uma enorme represa que serviria para produzir eletricidade nos anos 60. Foi então que chegaram as primeiras expropriações, que sempre tiveram a rejeição frontal de seus habitantes. Em 1984, a última família decidiu deixou a cidade, mas na época nem o Estado nem a empresa concessionária do projeto demonstravam interesse em iniciar a construção do reservatório, alguns estudos apontaram a inviabilidade do audacioso projeto.

Depois de anos no esquecimento, em 2001, um novo relatório de impacto ambiental da obra foi preparado, cumprindo assim a nova regulamentação europeia. O resultado foi negativo, embora o projeto não tenha sido oficialmente descartado até 2005. Três anos depois, o Ministério do Meio Ambiente publicou a extinção das concessões dos saltos hidrelétricos de Fiscal e Jánovas. O envio dos pedidos de reversão das terras começou. Foi então que os antigos moradores e descendentes que nunca desistiram de voltar para suas casas começaram a ver a uma luz no fim do túnel. No final do ano passado, a Confederação Hidrográfica do Ebro (CHE) resolveu o primeiro dos 133 arquivos de reversão levantados pelos ex proprietários.

Agora, eles devem definir o preço da venda com a Endesa, proprietária dos direitos. A empresa de energia chegou aos primeiros acordos com os antigos proprietários. 91 fazendas que ocupam uma área de aproximadamente 285.227 metros quadrados serão devolvidas. Se houver discordância com o preço fixado pela Endesa, o CHE abrirá um arquivo para fixar um “preço”.

Uma associação de pessoas afetadas pela Represa Jánovas, eles lembram que entregaram suas casas em boas condições e o que lhes é devolvido são “ruínas”. No entanto, tanto a Endesa como a CHE sustentam que os antigos proprietários têm de pagar o preço que receberam pela expropriação, atualizado para o IPC.

Uma vez que os antigos proprietários recuperem suas casas, o governo deve realizar os trabalhos necessários para fornecer água e eletricidade a esses núcleos, para criar acesso a eles, para o desenvolvimento e melhoria da irrigação… Em última análise, torná-lo habitável.

Coberto por ervas daninhas, em ruínas e desabitadas. Esta é a situação atual de Jánovas. Embora esta paisagem pudesse ter os dias contados. O Governo de Aragão, a Confederação Hidrográfica do Ebro (CHE) e o Conselho Provincial de Huesca (DPH) vão investir cerca de 24 milhões de euros para que esta cidade dos Pirineus do Vale do Ara deixe de ser uma cidade fantasma.

Atualmente, os turistas que visitam as enormes e fantásticas construções de pedra bruta de Jánovas e das pequenas cidades até a capital Fiscal podem banhar-se nas águas límpidas e geladas do rio Ara. Caminhar pelas ruelas, fotografar as ruínas, realizar trilhas em plena mata preservada ou ainda respirar o ar puro que sopra dos Pirineus são algumas das atividades que podem ser realizadas por lá.

Existem ainda nas estrada de acesso, alguns edifícios históricos interessantes, igrejas seculares,e um clima pra lá de nostálgico numa região que um dia teve uma economia intensa de agricultura, uma fortíssima vocação agropecuária, com gados e ovelhas de corte e leite.

Hoje, durante o rigoroso inverno, as montanhas que cercam a região ficam cobertas de gelo e neve é quase um espetáculo diário. Durante o período de primavera e verão, os visitantes podem se deliciar com banhos geladíssimos das águas do rio Ara, que são oriundos dos degelos das maravilhosas e monumentais montanhas, que protegem e deixam a região como uma das mais preservadas da Espanha. Vale conferir esse passeio diferente, interessante e com paisagens que fogem do comum! Vamos torcer para que as casas de pedras ressurjam de maneira rápida e que ali possa ser transformar num destino turístico mais completo. Que aborde a aventura, as paisagens, o ar puro, as águas da montanha e que o passado trágico de um ditador não seja a principal estrela em cena da região!

Texto e fotos por: Cláudio Lacerda Oliva. O jornalista viajou com cobertura do seguro GTA.

Foto destaque por Istock/ Jose Angel Astor Rocha

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