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Jalapão: “O Outro Lado do Paraíso” no coração do Brasil

Foto por GUILBER HIDAKA / @HIDAKA.EXPLORER

A novela das nove da Rede Globo, “O Outro Lado do Paraíso”, está mos­trando aos brasileiros um exuberan­te cenário natural como pano de fundo. A trama escrita por Walcyr Carrasco se desenrola em uma cidade fictícia no estado do Tocantins e em especial no Parque Esta­dual do Jalapão, onde acontecem os princi­pais eventos do folhetim.

Os atores principais interpretados por Bian­ca Bin, Sergio Guizé, Rafael Cardoso, Grazi Massafera, Fernanda Montenegro, Glória Pires, Lima Duarte e Marieta Severo gravam suas cenas em locações nas cidades de Ponte Alta, Porto Natural, Mateiros e São Félix; nas veredas de capim dourado e nos povoados do Mumbuca e Prata – comunidades rema­nescentes de quilombos -, onde a persona­gem Clara (Bianca Bin) atua como professora. Palmas, a capital do Tocantins, também está presente em muitas cenas. Tudo gira em tor­no de uma mina de esmeraldas que é encon­trada nas terras de Josafá (Lima Duarte).

Foto por RAQUEL CUNHA / TV GLOBO / DIVULGAÇÃO

“O Jalapão é um lugar mágico, um sertão diferente. Apesar de árido, com grandes câ­nions, tem, ao mesmo tempo, rios, cachoei­ras e fervedouros. É a natureza em estado puro”, definiu o diretor da novela Mauro Mendonça Filho.

Tamanha visibilidade certamente fará com que o destino entre no radar dos telespecta­dores e também dos viajantes.

Esportes e ecoturismo no deserto brasileiro

Localizado na divisa com a Bahia, Mara­nhão e Piauí, o Jalapão é um conjunto de cinco áreas de conservação, incluindo um parque estadual com mais de 34 mil quilôme­tros quadrados – área maior que os estados de Sergipe e Alagoas. O cenário é exuberante e repleto de rios e cachoeiras de águas cris­talinas, piscinas naturais, chapadões, forma­ções rochosas, serras com clima de savana e dunas alaranjadas de até 40 metros de altura aos pés da Serra do Espírito Santo. Seus im­ponentes chapadões de arenito alcançam até mil metros de altura.

Foto por KELY JORGE / VIAJANTE DO MUNDO CVC

O Jalapão tem a menor densidade demo­gráfica do País com apenas 0,8 habitante por quilômetro quadrado e é conhecido como o deserto brasileiro. Palmas está distante cerca de 190 quilômetros da região que engloba oito municípios, sendo os principais Mateiros e Ponte Alta, onde estão os atrativos turísti­cos mais relevantes.

O acesso é complicado, o calor é forte e não há sinal de celular. Mas, acredite, o esforço para chegar até lá vale à pena. A maioria das estradas da região não é asfaltada e usar um veículo com tração 4×4 é recomendável para circular por lá.

Foto por FOTO: KORUBO EXPEDIÇÕES / DIVULGAÇÃO

E aventura é o que não falta. Ecoturismo e es­portes na natureza podem ser realizados duran­te todo o ano, inclusive no período de chuvas. A região é ideal para a prática de canoagem, rapel, boia-cross, acquaride (descida de bruços em uma boia) e muitas trilhas para serem per­corridas a pé ou de bike. Outra atividade bas­tante procurada é o rafting nas corredeiras do Rio Novo, principalmente de maio a setembro, período de seca no Tocantins. Além da natu­reza selvagem, o rio chama também a aten­ção por causa da cristalinidade das suas águas.

São duas as opções disponíveis para a prá­tica do rafting. Uma rápida – escolhida pela maioria dos turistas – com apenas 6 quilôme­tros em três horas de descida. E a de longo percurso – ideal para os aventureiros – com até quatro dias, passando por cachoeiras de nível alto de dificuldades e parando nas pra­inhas de areia branca e fina que se formam nas margens do rio.

Foto por MONALISA GUIMARAES / @MONAGUIMARAESS

Outra opção para a prática de rafting são as águas cristalinas do Rio Sono com suas cor­redeiras, em Novo Acordo, cidade localizada a 116 quilômetros de Palmas. Os visitantes podem desfrutas também da Praia do Bor­ges e do Morro do Gorgulho, um conjunto de formações rochosas avermelhadas, cujo formato é resultado da ação do vento e das águas ao longo de muitos anos.

Cachoeiras, dunas e fervedouros

O parque estadual tem diversos atrativos naturais, sendo os mais procurados as ca­choeiras da Velha e do Formiga, as dunas, os povoados do Mumbuca e Prata, a Serra do Espirito Santo e os fervedouros.

Foto por Istock/ Luciano_Queiroz

Ponte Alta normalmente é a escolhida para o início de uma viagem através da região por causa dos diversos atrativos naturais. Uma das primeiras cenas da novela na cidade aconte­ceu na famosa Pedra Furada, uma imensa rocha com cerca de 10 metros de altura e três buracos. Oferece vista deslumbrante. Lá do alto é possível avistar o Morro Solto, um paredão rochoso e arredondado. No local foi gravada a cena em que os personagens Gael (Sérgio Guizé) e Renato (Rafael Cardoso) bri­garam por ciúmes de Clara.

Outra locação escolhida foi o Cânion de Sussuapara, que emoldurou um momento romântico entre a heroína e Gael. Localizado a 12 quilômetros do centro da cidade, apre­senta uma fenda estreita por onde desce a água a 12 metros de altura. Suas pedras on­duladas parecem ter sido moldadas pela força das águas. Uma pequena cachoeira desafia os corajosos para um banho refrescante.

O município abriga também muitas e belas cachoeiras. Entre elas, destaque para a da Fu­maça, com duas grandes quedas e um poço verde-esmeralda; a da Talha do Brejo do Boi, com 38 metros de altura; e a do Soninho, com uma piscina que convida para banhos.

Foto por RENATA TELLES / @ELAQUEAMAVIAJAR

A Cachoeira da Velha é a maior do Jalapão. As águas do Rio Novo despencam em grande quantidade em duas quedas em formato de ferradura com cerca de 15 metros de altura e 100 metros de largura. Não é permitido se banhar em suas águas por questão de segurança. Mas, alguns quilômetros adiante, o rio forma uma prainha de água doce, que pode ser alcançada após aproximadamente uma hora de caminhada. Uma trilha leva o local que tem águas mansas e límpidas. Quem gos­ta de camping selvagem estará no paraíso.

Já a Cachoeira do Formiga, localizada em Ma­teiros, encanta pela beleza singular. Suas águas caem sobre uma piscina cristalina de cerca de oito metros de diâmetro e dois metros de pro­fundidade. Lá foram gravadas diversas cenas da novela. E a escolha se justifica. O cenário em seu entorno reúne exuberante vegetação com árvores altas, samambaias, palmeiras nativas e uma nascente de água verde-esmeralda. Im­possível resistir a um mergulho para observar o fundo do poço com areias calcárias. É comum ver visitantes acampados no local.

Principal cartão postal da região, a Serra do Espírito Santo é uma elevação imponente que dá origem às dunas que se formam aos seus pés. No seu topo, uma área plana que lembra uma imensa mesa, há um mirante de onde avista-se toda a região. Para chegar até é ne­cessário caminhar por cerca de uma hora. O cansaço dará lugar ao êxtase.

Foto por Istock/ Bondarenv

Outro cenário de cinema – e de novela – no Jalapão é proporcionado pelas fantásticas du­nas, em Mateiros. Formadas pela ação dos ventos, a areia fina e alaranjada se amontoa em até 40 metros de altura. A luz do sol ga­rante tons variados de acordo com o período do dia e transforma o local em um verdadeiro monumento natural. O esforço para atingir o topo das dunas será plenamente recompensa­do. Do alto o que se vê são córregos de águas transparentes e a bela Serra do Espírito Santo. Se possível vá no final da tarde para apreciar o pôr do sol lá em cima, um espetáculo que jamais sairá da sua memória. Mas, atenção, a visita às dunas não é permitida á noite. Por­tanto, camping ou luau nem pensar.

Os fervedouros do Jalapão também já fo­ram mostrados várias vezes em “O Outro Lado do Paraíso”. Verdadeiros oásis em meio à vegetação fechada, entre brejos e riachos, existem dezenas deles em toda a região. For­mados pela nascente de um rio subterrâneo, são grandes poços de água azul transparente. A água que brota das areias claras é a respon­sável pela pressão que provoca o fenômeno da ressurgência. Ou seja, é impossível afundar neles. Você pode até tentar, mas a pressão contrária o empurrará para cima.

Foto por Istock/ Luciano_Queiroz

Entre os mais conhecidos estão os fervedou­ros do Ceiça e o Bela Vista, em São Felix. Por estarem em propriedades particulares, a en­trada na maioria é paga. O Bela Vista oferece boa estrutura e tem uma passarela de madei­ra que leva até um deque bem próximo da água azul cristalina. Conta, também, com um restaurante com pratos típicos regionais, ba­nheiros e área de camping.

Capim dourado,  o ouro do Jalapão

Tocantins, apesar de ser o mais jovem esta­do brasileiro, possui uma cultura secular que reflete o seu longo processo de formação. Nas várias manifestações populares – danças e cânticos entre outras – são nítidas a influên­cias dos negros, que, sob o regime da escravi­dão, trabalharam na exploração do ouro. Nos tradicionais eventos religiosos percebe-se cla­ramente que o estado carrega a essência da própria formação mística brasileira.

E, no Jalapão, alguns povoados são rema­nescentes de antigos quilombos. É o caso de Mumbuca, distante 36 quilômetros de Matei­ros. Foi lá que surgiu o popular artesanato em capim dourado, importante fonte de renda e símbolo da região e do Tocantins. Atualmen­te, a comunidade tem apenas cerca de 200 habitantes, que ainda preservam aspectos culturais e tradicionais de seus antepassados.

Foto por Istock/ FernandoQuevedo

Foi nos campos de capim dourado que Gael conheceu Clara. A escolha não poderia ter sido melhor. Mais de 60 figurantes locais participaram da cena que mostrou a colheita do capim – que ainda é realizada de maneira rudimentar. Os moradores locais também se dedicam ao artesanato feito com a planta.

Conhecido como o ouro do Jalapão, o capim dourado com sua haste fina e de intenso bri­lho metálico só brota nas veredas da região. As mãos habilidosas das mulheres do lugar trans­formam essa matéria prima em uma ampla variedade de peças artesanais. O capim literal­mente vira bolsas, brincos, pulseiras, chapéus, mandalas, cestas e diversos objetos para a de­coração. São peças de beleza singela que ultra­passaram os limites do Tocantins, conquistando mercado em todo o Brasil e em diversos países.

A arte de trabalhar com o capim dourado foi ensinada às mulheres locais por Dona Miú­da, uma matriarca do povoado de Mumbuca. Segundo contam por lá, foram os índios que habitavam a região que ensinaram a técnica à avó de Dona Miúda, que por sua vez ensinou à sua mãe. Assim, a habilidade de transfor­mar o capim dourado em artesanato segue sendo repassada de geração a geração. E não apenas no povoado de Mumbuca, mas também nas cidades de Mateiros, Ponte Alta, Novo Acordo, Santa Tereza, Lagoa do Tocan­tins e no Prata – um vilarejo de São Felix.

Para celebrar a importância do capim dou­rado, anualmente, os moradores do povoado Mumbuca realizam a Festa da Colheita. O fes­tejo abre a colheita, permitida legalmente en­tre os dias 20 de setembro e 30 de novembro.

As comunidades Mumbuca e do Prata – que realiza a Festa da Rapadura – estão se abrin­do ao turismo, oportunidade para conhecer a cultura e a gastronomia local.

Foto por TURISMO.TO.GOV.BR / DIVULGAÇÃO

A novela da Globo certamente fará a pro­cura aumentar, porém, a riqueza natural do Jalapão é uma das mais bem preservadas do Brasil. O controle de visitantes é rigoroso e por isso é bom programar sua viagem com ante­cedência para evitar contratempos. Afinal, o outro lado do paraíso é logo ali no Tocantins!

Como chegar

As principais companhias aéreas nacio­nais oferecem voos para Palmas. Partin­do da capital do Tocantins são cerca de 190 km, sendo 64 km através da rodo­via TO-050 até Porto Nacional, depois, mais 116 km pela TO-255 até Ponte Alta. Outra opção é utilizar a rodovia TO-020 a partir de Palmas, sentido Nor­te por 108 km até Novo Acordo.

Onde ficar

Há pousadas em Ponte Alta e Mateiros. Simples, elas oferecem cama, ducha e café da manhã. Outra opção é o Safari Camp da Korubo Expedições com um acampamento sofisticado montado às margens do Rio Novo. São tendas equi­padas com camas e banheiros com chu­veiros aquecidos a energia solar.

O que comer

Outra deliciosa atração do Tocantins é a sua singular cozinha. A culinária to­cantinense é fortemente marcada por pescados e sofreu influências da cultura indígena, portuguesa, paulista, mineira e africana. É muito semelhante à goia­na – formavam um único estado até 1988 – com pratos típicos como o Ar­roz com pequi, a Pamonhada e o Peixe na telha. Produtos do Cerrado como o baru (castanha), buriti, guariroba e o pequi são muito utilizados.

Texto por: Tino Simões

Foto destaque por GUILBER HIDAKA / @HIDAKA.EXPLORER

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