No período em que as queimadas consomem grande parte das matas brasileiras, é necessário voltar o olhar para os locais que precisam ser preservados. Um bom exemplo de boas práticas com o meio ambiente pode ser visto na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) – Santuário do Caraça, destino turístico de Minas Gerais que está situado entre as cidades de Catas Altas e Santa Bárbara, na Região Central do estado, a 120 km de Belo Horizonte. Várias ações que visam prevenir depredações e incêndios fazem parte da rotina do local.
Diante de toda a riqueza ambiental na região do Santuário do Caraça, a Província Brasileira da Congregação da Missão, que administra o complexo, firmou um compromisso socioambiental eterno. “A nossa Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma Unidade de Conservação de âmbito federal, gravada com perpetuidade, através de Portaria do IBAMA, ou seja, com isso é assegurada a preservação de mais de 10 mil hectares para sempre. O intuito é garantir contra possíveis interesses danosos à fauna e flora. Apenas atividades de pesquisa científica e de visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais são permitidas por aqui, mas com regras”, explica Márcio Mol, gerente geral do Santuário do Caraça.
É proibido entrar no Santuário do Caraça com animais domésticos, pescar, caçar ou causar qualquer dano à vegetação, assim como a retirada de mudas ou galhos de plantas e árvores. Não é permitido acampar, produzir fogueiras, fazer algumas trilhas desacompanhado de um guia e usar drones. “Todas as determinações instituídas têm um único objetivo: cuidar desse pedaço do paraíso. Ainda que seja um destino turístico procurado por visitantes de diversas partes do mundo, o foco principal é a preservação ambiental. Por isso, temos a nossa brigada interna, formada por colaboradores capacitados para atuar nas ações preventivas, no sentido de fiscalizar o cumprimento das regras, e, também, em situações corretivas, no caso de uma eventualidade, como algum foco de incêndio”, destaca Márcio Mol.
A RPPN Santuário do Caraça foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, no ano de 1955, quando passou a fazer parte do rol de bens tombados pela União. Também integra a área destinada às Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço e da Mata Atlântica, reconhecidas pela UNESCO em 2005. Além disso, integra a Área de Proteção Ambiental ao Sul da Região Metropolitana de BH, onde começam duas grandes bacias hidrográficas, a do Rio São Francisco e a do Rio Doce, que abastecem aproximadamente 70% da população de Belo Horizonte e 50% da população de sua região metropolitana.
O passado histórico da RPPN – Santuário do Caraça é peculiar, pois uma área excepcional de 12.403 hectares foi mantida em posse de apenas dois proprietários, o Irmão Lourenço de Nossa Senhora e a Congregação da Missão, por mais de 240 anos. A área da Reserva foi constituída pela fusão de quatro propriedades: a original, adquirida pelo Irmão Lourenço por volta de 1770, na qual se acham as edificações principais do Caraça; a Fazenda da Chácara, comprada em 1823, cuja antiga sede não mais existe e que foi, durante muito tempo, o celeiro do Colégio, no antigo caminho de Catas Altas; a Fazenda do Engenho, comprada em 1858, localizada nas proximidades da Portaria de acesso à Reserva; e a Fazenda do Capivari, doada pelo Coronel Manoel Pedro Cotta e por sua esposa, que, por não terem descendentes, legaram sua propriedade ao Caraça em 1870.
O que fazer no Santuário do Caraça?
Gastronomia
A gastronomia do Caraça é um ponto que merece atenção especial dos visitantes. Além da experiência de comer no refeitório histórico, com toda a simplicidade e variedade de sabores mineiros, há uma adega no local onde dá para ver o processo de produção do vinho tinto, do hidromel e dos fermentados de laranja, jabuticaba e morango. Há também a padaria, que fabrica pães, bolos e biscoitos, e a doceria, para doces, geleias e compotas. O queijo minas artesanal, cujo processo de fabricação existe há mais de 200 anos, é uma das delícias mais procuradas no Santuário e é matéria prima de vários pratos da região em concursos e festivais gastronômicos.
A hora do lobo
Um dos grandes atrativos do Santuário do Caraça é a famosa hora do lobo. A tradição de aguardar a visita do lobo todos os dias à noite começou no Caraça em maio de 1982, quando algumas lixeiras começaram a aparecer derrubadas e reviradas. Num primeiro momento pensou-se que isto poderia ser causado por cachorros. Começou-se a observar e se descobriu que o grande cachorro que revirava as lixeiras do Santuário era na verdade o Chrysocyon brachyurus, que quer dizer “animal dourado de rabo curto”. É chamado guará porque em tupi-guarani significa “vermelho”.
Desde então, começaram a colocar bandejas de carne nos dois portões da frente da casa e aos poucos os lobos se aproximaram da escada da igreja. Hoje, a bandeja é colocada no adro da igreja, onde têm ido comer, além do lobo-guará, cachorros-do-mato e uma anta.
A prática de alimentar esses animais ali na Casa só persiste até os dias atuais porque o seu hábito de caça não foi comprometido. Por este motivo o lobo-guará não tem hora de aparecer. O tempo de espera da aparição do animal é conhecido como “hora do lobo”, a partir das 18h30. Enquanto o lobo não vem, o Caraça proporciona aos hóspedes um tempo de informação, a educação ambiental.
Fonte de conhecimento
O complexo é tombado como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Estadual. Foi escolhido como uma das Sete Maravilhas da Estrada Real. Conta com um amplo Conjunto Arquitetônico onde estão a primeira igreja de estilo neogótico do Brasil, o prédio do antigo Colégio (hoje Museu e Biblioteca), o hotel com 54 apartamentos e quartos, com capacidade para até 230 pessoas, e a Fazenda do Engenho, com 26 apartamentos.
O Complexo do Caraça possui enorme diversidade de fauna e flora, com raridades de animais e plantas no meio ambiente. Na ampla diversidade de sua fauna, há 386 espécies de aves, 42 espécies de répteis, 12 espécies de peixes e 76 espécies de mamíferos.
Em suas serras há nascentes, ribeirões e lagos que possuem águas de coloração escura, que carreiam material orgânico em suspensão. Seu solo é rico em minérios, explorados nos séculos anteriores, e com grande concentração de quartzito ou rocha metamórfica. O clima tem baixas temperaturas e elevada umidade do ar, comuns em ambientes de mata.
Biblioteca
A Biblioteca hoje está instalada no prédio onde funcionava o célebre Colégio, que hoje abriga também o Museu, o Arquivo e um Centro de Convenções
Museu
O museu, montado a partir de mobiliário e artefatos diversos de uso diário, pertencentes ao próprio Caraça e com algumas peças remanescentes de séculos passados, constitui um interessante lugar de visitação, diariamente procurado pelos hóspedes e visitantes, através de percursos guiados pelos monitores ou por conta própria.
Igreja Neogótica
O Santuário do Caraça é a primeira igreja neogótica do Brasil, construída sem mão-de-obra escrava e toda com material regional: pedra-sabão (retirada de perto da Cascatona), mármore (das proximidades de Mariana e Itabirito, Gandarela) e quartzito (da região do Caraça e vizinhanças), unidas com produtos de base de cal, pó de pedra e óleo.
Mais informações em: santuariodocaraca.com.br
Texto por: Agência com edição de Patrícia Chemin
Foto destaque por: PBCM / Divulgação