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De Pablo Escobar aos negócios: por que os turistas se interessam por Medellín?

Foto por Istock/ brendanvanson

O jornal El Colombiano publicou uma reportagem em fevereiro deste ano mostrando que Medellín, capital da província de Antióquia, na Colômbia, foi a cidade que recebeu mais turistas estrangeiros do país em 2016, superando Bogotá – a principal metrópole colombiana – e as caribenhas Cartagena de Índias e Santa Marta. O sucesso pegou de surpresa até mesmo as autoridades locais, que iniciaram recentemente um projeto para criar uma marca voltada ao turismo. “Queremos chegar com mais força aos mercados internacionais”, explicou a subsecretária de turismo da prefeitura de Medellín, Juliana Cardona.

De acordo com o Sistema de Indicadores Turísticos de Medellín-Antióquia (Situr), foram registradas 773 mil chegadas de estrangeiros à cidade em 2016, um número 91% maior do que cinco anos atrás, quando 403 mil pessoas do exterior desembarcaram no aeroporto do município. Se comparado com 2007, quando foram 207 mil desembarques internacionais, o crescimento chega a ser de 273%.

Foto por Istock/ rmnunes

Essa expansão já faz com que a indústria turística apareça como uma das principais fontes de receitas de Medellín. Segundo a secretária de Desenvolvimento Econômico da prefeitura, Fernanda Galeano, 6% do PIB da região é arrecadado por meio do turismo. “Queremos trazer mais turistas responsáveis que gerem um maior gasto turístico, como é o caso do visitante de negócios, que compra mais do que o que está a turismo. Também queremos priorizar esses lugares emissores de visitantes”, explicou Cardona.

A atração que Medellín se tornou surpreende até os próprios colombianos. Em fevereiro, a rede Caracol, principal conglomerado de mídia do país, produziu uma reportagem tentando apontar os motivos pelos quais ela se tornou tão visitada por estrangeiros, listando não apenas a organização da cidade, como a fama dos times de futebol (Independiente e Atlético Nacional) e das “pessoas”.

“Mesmo estando em Bogotá, que tem uma rixa histórica com Medellín, todo mundo me aconselhava a viajar para lá. Diziam que a comida era boa, que tinha uma vida noturna agitada e que as pessoas eram todas lindas. ‘Os paisas [como são chamados os moradores de Medellín] são todos incríveis, são isso, são aquilo’”. Eu acabei indo ver com meus próprios olhos”, conta o jornalista Guilherme Henrique, de São Paulo, que passou um mês viajando pela Colômbia em 2014.

Foto por Istock/ sevenkingdom

Entre os atrativos que intensificaram a indústria turística paisa, porém, duas coisas chamam a atenção na busca cada vez maior dos estrangeiros por Medellín: a série estadunidense Narcos, iniciada em 2015, e o circuito de eventos de negócios nos últimos anos.

“Narco Tour”

“Existem homens que constroem suas lendas ao seu modo, e sempre existem turistas em busca delas”, diz a jornalista colombiana Cynthia De Simone. No ano passado ela publicou uma reportagem no jornal Perfil sobre o “Pablo Escobar Tour”, um recorrido por vários lugares organizado por uma agência de viagens local que contam a história do narcotraficante morto em 1993. Entre eles, o prédio em que Escobar viveu no final dos anos 1980 até ser bombardeado por cartéis rivais, a igreja onde os seus sicários pediam proteção e, claro, a casa cujo telhado serviu de palco para sua morte, no bairro de Los Olivos.

Foto por Istock/ sevenkingdom

O tour é organizado por Carlos Palau, um ex-policial que, nos anos 1990, pediu para ser transferido de Bogotá a Medellín para vingar a morte de seus companheiros mortos em missões contra os narcotraficantes. À época, a capital de Antioquia era conhecida mundialmente não apenas por ser a cidade onde vivia Pablo Escobar, mas pela violência descontrolada causada pela venda de entorpecentes: a partir de 1988, as taxas de homicídio começaram a crescer significativamente no município, até atingirem o ápice em 1991, quando era de 750 pessoas para cada 100 mil habitantes. Os números só voltaram a diminuir no começo do século XXI – hoje a taxa está em homicídios para 100 mil habitantes.

Palau, que também é guia do seu próprio roteiro, incluiu recentemente paradas sobre El Catedral, a penitenciária que Escobar construiu para ele mesmo nos anos 1980 tentando evitar sua extradição aos Estados Unidos, e a tumba onde ele está enterrado, no cemitério Montesacro – esse um dos destinos turísticos famosos de Medellín.

Ele percebeu o crescimento da demanda por seu tour em 2015, quando a série Narcos, produzida pelo Netflix e filmada em Medellín – cujo astro da primeira temporada era o ator brasileiro Wagner Moura -, passou a fazer sucesso nos Estados Unidos e na Europa. “Começou a chegar gente de todo lado aqui e, da mesma forma, aumentaram as agências interessadas no narcoturismo”, contou. Se fez a felicidade de uns, trouxe dor de cabeça para outros: as autoridades colombianas, por exemplo, não gostaram da intensificação desse tipo de turismo e, em alguns casos, criticaram diretamente seus motivadores.

Em novembro do ano passado, o prefeito de Medellín, Frederico Gutiérrez, divulgou uma carta em que criticava duramente a companhia panamenha Air Panamá, que havia distribuído panfletos dos roteiros turísticos sobre Escobar em suas aeronaves e que havia promovido um pacote turístico que incluía uma visita à fazenda Nápoles, onde ele viveu boa parte de sua vida, e um jantar com um ex-sicário do narcotraficante. Tudo por US$ 499, com as passagens aéreas inclusas. “O flagelo do narcotráfico deixou mais de 20 mil mortos e uma infinidade de vítimas diretas e indiretas. Reconhecemos tudo, mas não queremos mais esse estigma”, escreveu Gutiérrez. Em dezembro de 2016, foi a vez do governo colombiano pedir à Netflix para retirar uma enorme placa de publicidade instalada em um dos pontos centrais de Madrid, na Espanha, onde aparecia a foto de Wagner Moura como Pablo Escobar e a frase “Blanca Navidad” (Natal branco), uma referência à cocaína.

Foto por istock/ James Wagstaff

“Criamos o nosso primeiro ‘Pablo tour’ dez anos atrás, mas a demanda explodiu depois que o Netflix começou a transmitir a série Narcos”, explica Camilo Uribe, diretor da agência de viagens Medellín City Services. “É um assunto muito sensível por aqui, porque a maioria dos moradores de Medellín perdeu familiares devido a Pablo. Eles não gostam dos nossos tours, já que não têm orgulho desse passado. Eles também reclamam ao ver turistas tirando fotos no túmulo de Pablo”, completa.

Negócios

Paralelo ao desenvolvimento de um turismo não tão conveniente para as autoridades, outro tipo de visitante é buscado pelo governo de Medellín: aquele que chega à cidade para negócios. Segundo a Associação Internacional de Congressos e Convenções (ICCA, sigla em inglês), a capital da Antioquia foi a que recebeu mais eventos desse tipo entre todos os municípios das Américas entre 2007 e 2016.

Só no ano passado foram 40 grandes eventos, como o encontro latino-americano do Foro Econômico Mundial, realizado em junho e que reuniu presidentes de vários países da região, além de líderes e empresários de diversos setores. Segundo a revista colombiana Portfolio, ainda viajaram à cidade mais de 100 presidentes de companhias e de consultores internacionais.

“O turismo de negócios é precisamente uma das grandes apostas que a cidade está manteve nos últimos anos e que agora está dando resultados”, disse o prefeito de Medellín à publicação. “O nosso objetivo é fortalecer e melhorar a qualidade turística da cidade trabalhando de maneira articulada com o setor privado e gerando estratégias para dinamizar a economia local”, completou a subsecretária de turismo do município, Juliana Cardona.

Foto por Istock/ brendanvanson

Além do futebol, a cidade ainda recebeu turistas interessados no futebol – o Atlético Nacional foi campeão da Copa Libertadores da América em 2016 e promoveu um grande espetáculo no que seria a final da Recopa Sul-Americana, contra a Chapecoense, que não aconteceu por conta do acidente de avião que vitimou quase toda a delegação do time brasileiro – e também na arte, já que o maior artista do passado recente da Colômbia era antioquenho: Fernando Botero, hoje com 85 anos.

Texto por: Agência com edição Eliria Buso

Foto destaque por Istock/ brendanvanson

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