De Pipa a Barra do Cunhaú se gasta menos de 30 minutos, atravessando de balsa o rio Catú por Sibaúma. No Rio Grande do Norte, Cunhaú é uma região de praias de águas calmas e tranquilas, sem a multidão que assola os vizinhos mais famosos e turísticos. É onde três rios de água doce encontram o mar e adquirem uma coloração caribenha. No caminho até Cunhaú, são avistados viveiros de camarões – essa é hoje, ao lado do turismo, a principal atividade do distrito.
Desde o ano passado, o Rio Grande do Norte assumiu a posição de maior produtor de camarão do país. No trecho compreendido entre Natal e Cunhaú, está a maioria das fazendas de cultivo de camarão em cativeiro e dos laboratórios de larvas de camarão do país, com 3,2 milhões de milheiros.
Depois de atravessar o município de Canguaretama, chega-se a Barra do Cunhaú, vilarejo com uma sequência de quatro belíssimas praias – Barrinha, Boca da Barra, do Pontal e Braço do Mar. Antes da travessia de catamarã para a ilha da Restinga, a guia Mayara convida o grupo a participar de uma das atividades populares na região: a pesca artesanal do caranguejo no mangue, com acompanhamento do guia Ítalo Oliveira.
Ao descer do barco, percorre-se uma trilha de barro no mangue (descalço, é claro) e começa-se a cavar o solo em busca do crustáceo. Apesar de malsucedidas tentativas, a atividade é uma curiosidade que serve para relaxar os visitantes. De volta ao barco, Oliveira ensina as diferenças entre as espécies de caranguejo e o sistema reprodutivo, convidando à degustação do crustáceo. A unidade custa, em média, R$ 4,50 nos restaurantes da cidade.
Dali por diante é só fechar os olhos e imaginar um lugar bonito e tranquilo. De um lado, o vilarejo rústico e praiano; do outro, a menos de dez minutos, um rio com uma prainha de areia branca, barraquinhas bem rústicas, redes e mesinhas de madeira dentro d’água, onde você pode deliciar-se com petiscos, bebericando drinques de frutas exóticas, tomando banhos refrescantes ou praticando esportes como stand-up paddle e caiaque.
Gastronomia completa
O Grupo Miramar iniciou as suas atividades como uma barraca na praia de Muriú (Ceará-Mirim/RN). O que era inicialmente uma barraca simples, que vendia apenas coco, transformou-se em um belíssimo restaurante à beira-mar, com capacidade para 1.200 atendimentos simultâneos na pacata praia de Porto Mirim, no mesmo município. Nestes mais de 25 anos de história, o espaço inicial ficou pequeno demais diante dos sonhos e do espírito empreendedor do fundador do grupo, o Dedé.
Assim surgiu a Barraca Miramar, a partir da vontade de servir uma culinária com maestria aos turistas e aos potiguares que visitam o litoral do Rio Grande do Norte. O propósito do estabelecimento é surpreender com a melhor recepção, com um atendimento acolhedor e a belíssima estrutura que se soma a uma vista paradisíaca — já que todas as unidades são de frente para o mar. A Barraca Miramar trouxe ao litoral potiguar a possibilidade de degustação de pratos com ingredientes regionais, como: camarão, lagosta, polvo, entre outros, selecionados especialmente para o restaurante com o intuito de elevar a experiência ao mais alto padrão gastronômico.
O cardápio foi desenvolvido pelo chef Warison Albino que, junto com os chefs da casa — Francisco Silvestre (Dedé) e Francisco do Nascimento —, imprimiu nos pratos memórias afetivas da sua infância. Esse percurso afetivo, aliado a toda a sua experiência acadêmica, resultou na combinação perfeita entre frutos do mar e ingredientes típicos do sertão potiguar. “Queríamos algo simples e saboroso, mas com diferencial. A ideia é que trabalhássemos pratos que já são vendidos nas diversas barracas de praia do nosso litoral, mas com técnica, com nosso padrão e acima de tudo com sabor”, ressaltou o chef Warison Albino.
Entre os maravilhosos pratos, destacam-se:
- O peixe inteiro — servido desossado, recheado com camarão e carne de caranguejo. Acompanham: batatas rústicas, arroz de coco e salada.
- Frutos do mar grelhados (o mais pedido) — um único prato que oferta uma variedade de frutos do mar: filé de camarão, tentáculos de polvo, anéis de lula, lombo de peixe e calda de lagosta salteados com manteiga e ervas. Acompanham: arroz ao pesto de coentro e batatas ao murro.
- Carne de sol — um prato bem nordestino onde a carne é preparada na chapa com queijo coalho. Acompanham: farofa d’água, bastões de macaxeira e vinagrete à brasileira.
A Barraca Miramar faz parte de uma rede de restaurantes especializados em frutos do mar. A estrutura, que possibilita a experiência “pé na areia”, conta com charmosíssimos bangalôs que dão para uma vista paradisíaca, além de possuir banheiros agradabilíssimos, com trocadores, duchas e, em algumas unidades, um espaço infantil. As unidades localizam-se nas praias de Perobas (Touros), Barra do Cunhaú (Canguaretama) e Genipabu (Extremoz).
Quatro praias com peculiaridades e povoado histórico
Há quem diga que Barra do Cunhaú tem uma só praia, mas não é bem assim. Apesar de sequenciais e de parecerem uma única, as praias do vilarejo revelam novos cenários. De Boca da Barra a Barrinha, onde deságua o rio Catu, na divisa com o vilarejo de Sibaúma, elas adquirem peculiaridades. Uma caminhada é o jeito indicado de conhecer as diferenças.
Logo na entrada do vilarejo, vê-se uma faixa de água que adentra a Mata Atlântica de um lado e forma um mangue do outro. Os desavisados acreditam se tratar de um rio, mas, na verdade, é um braço de mar que se encontra com três rios – Cunhaú, Guaratuba e Curimataú –, misturando água doce e salgada. O banho de lama do mangue é uma tradição local.
Boca da Barra é o ponto de partida dos barcos para as praias da ilha da restinga. Antes do encontro do rio Curimataú com o mar, águas calmas e tranquilas; depois, ondas fortes como chamariz para surfistas. Maior em extensão, a praia do Pontal é onde se concentra a maioria das barracas de praia, restaurantes, hotéis, pousadas e casas de veraneio.
No final do vilarejo, onde se encontra a barraca do Tonho, a praia de Barrinha proporciona um banco de areia na maré baixa. É também onde o rio Catu se encontra com o mar. Na maré baixa, rochas formam uma banheira de hidromassagem natural, e, na divisa com Sibaúma, uma ponta de areia proporciona um lugar aprazível para banhos. Quem der sorte pode ver tartarugas-marinhas.
Outros passeios
Se você estiver cansado de praia, tem duas boas opções para completar a sua viagem para Barra do Cunhaú. A primeira é realizar um passeio à Vila Flor, um dos primeiros núcleos de colonização portuguesa no Rio Grande do Norte, batizada inicialmente como Aldeia Gramació, ainda nos idos de 1700. Tombada pelo patrimônio nacional, a vila tem a Casa da Câmara e Cadeia, a igreja de Nossa Senhora do Desterro e a fortificação dos Sete Buracos. Experimente as deliciosas coxinhas e os salgados da Dona Lola.
Em 2003, pesquisadores do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) descobriram um túnel durante a construção das paredes de criadouros de camarão. Supõe-se que essas galerias teriam sido utilizadas na obtenção de minério de ferro para os engenhos da região, no século XVII. Hoje, elas fazem parte de um sítio arqueológico.
Outra excelente opção é visitar o Engenho Cunhaú, localizado a meia hora da praia, um dos distritos de Canguaretama, a fazenda onde ocorreu o morticínio de cerca de 80 católicos, a mando das forças holandesas. Estes queriam dominar a economia na região e obrigar os católicos a se converterem calvinistas. No ano de 1645, todos foram executados na igreja de Nossa Senhora das Candeias. Em 2017, o Papa Francisco canonizou todos os santos, dentre eles três que representam a maioria desse povo que foi brutalmente executado.
Mártires: Santos mesmo sem comprovação de milagre
Normalmente, o processo de canonização é demorado, composto por quatro etapas. Primeiro, o postulante se torna um “Servo de Deus”, com a abertura do procedimento. Se ele apresentar as virtudes necessárias, é proclamado “Venerável”, sem dias festivos ou igrejas em sua homenagem, mas pode ter rezas e materiais impressos em seu nome. Caso se prove um milagre por sua graça, o postulante pode ser “beatificado”, e ser adorado pela diocese local. A “canonização” acontece com a comprovação de um segundo milagre. Ao se tornar santo, o postulante é inserido no calendário universal da igreja e pode ser adorado em todo o mundo.
Mas os Mártires tiveram esse caminho abreviado, por um decreto papal conhecido como canonização equipolente. Por esse instrumento, o Papa pode elevar um postulante ao status de santo sem a necessidade de comprovação de milagres, desde que três requisitos sejam cumpridos: a prova da antiguidade e constância do culto ao candidato a santo, o atestado histórico de sua fé católica e de suas virtudes e a fama de milagres intermediados pelo candidato.
A praxe da equipolência goza do mesmo atributo de infalibilidade das canonizações ordinárias, nas quais são exigidos milagres. O Papa Francisco empregou recentemente este procedimento elevando aos altares, por decreto, Angela Foligno, Pedro Fabro e José de Anchieta. Num passado mais remoto, no século XVIII, Prospero Lambertini, o Papa Bento XIV, usou da canonização equipolente para propor à veneração dos fiéis os santos Romualdo, Norberto, Bruno, entre outros.
O Papa Francisco, muito sensível a causas de martírio, determinou que iria canonizar os mártires mais antigos (antiguidade do martírio), dispensando o milagre. Em casos de martírio, após a comprovação histórica, pode-se dispensar o milagre. O Papa tem essa prerrogativa. A Igreja não exige comprovação de milagres para a canonização, mas ao menos 5.000 cartas foram enviadas à arquidiocese atribuindo a eles “graças alcançadas”.
SERVIÇO
Como chegar
Para chegar a Barra do Cunhaú a partir de Natal, pegue a BR-101, entre no município de Canguaretama e depois siga 13 km pela RN-269 até o litoral.
Onde comer
Barraca Miramar: (84) 99902-9745 / Instagram: @barracamiramar
Canoas Grill: (84) 99675-5482
Tempero Cunhaú: (84) 99199-9215 / Instagram: @temperocunhaurn
Fonte do Cajueiro, Parque Aquático e restaurante: (84) 99129-9944 / Instagram: @fontedocajueiro
Restaurante Barra Brasas: (84) 99192-3857 / Instagram: @restaurante_barrabrasa
Solimar: Av. Gilberto Rodrigues, s/nº, Barra do Cunhaú / solimar.com.br
Onde se hospedar
Pousada do Forte: diária casal a partir de R$ 210 com café da manhã / Av. do Pontal, 293 / pousadaforte.com.br
Pousada Morada da Lua: Av. do Pontal, 260 / [email protected]
Pousada Nova Holanda: diária casal a partir de R$ 150 com café da manhã / Av. Gilberto Rcodrigues da Silva, s/nº / pousadanovaholanda.com
Recanto dos Coqueiros: diária casal a partir de R$ 140 com café da manhã / Av. Gilberto Rodrigues da Silva, 276 / pousadarecantodoscoqueiros.com.br
Pousada Áurea: diária casal a partir de R$ 180 com café da manhã. Crianças até 10 anos não pagam / facebook.com/Pousada-Aurea
Pousada Vila da Barra: (84) 99866-5522 / Instagram: @pousadaviladabarra
Passeios
Natureza Tur: (84) 99127-3090 / Instagram: @naturezatur
Passeio Ecológico Cunhaú: (84) 99981-6346 / Instagram: @passeiocunhau
Texto por: Agência com edição
Foto destaque por: Prefeitura de Canguaretama