O termo “mar de morros”, utilizado de forma recorrente pelos moradores de Cunha, reflete bem não só sua geografia, como também o cenário que pode ser encontrado por lá. Cunha está situada entre as serras da Bocaina e do Mar, na divisa entre São Paulo e o Rio de Janeiro, e é um recanto de ecoturismo, sossego e uma gastronomia de dar água na boca…entre outras coisas.
Conhecida por ser a capital nacional do fusca – já que o carro era bastante propício para subir suas sinuosas estradas nos anos passados, o que lhe rendeu uma grande concentração de modelos – e também a maior produtora de pinhão do estado, a Estância Climática abriga cachoeiras, nascentes e riachos que rendem um roteiro cheio de descobertas para toda a família.
E o melhor, graças a sua localização privilegiada, pode combinar um passeio da montanha ao mar, já que Paraty pode ser facilmente acessada em um percurso de pouco mais de 45 quilômetros, sendo dez deles percorridos na charmosa estrada-parque dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina.
Muito já se falou sobre os perigos e a precariedade dessa rota, porém, hoje ela está totalmente pavimentada e, inclusive, faz parte da Estrada Real, a maior rota turística do país, com mais de 1.630 quilômetros de extensão, que passa por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo e resgata as tradições do percurso valorizando a identidade e as belezas da região.
Ou seja, independente da época do ano ou da quantidade de dias que se fica por lá, é possível desfrutar de muito contato com a natureza, tranquilidade e até atrativos culturais.
Cenário de morros e serras
Cunha está situada em uma região serrana, com altitude média de 1100 metros, por isso, é um ótimo local não só para atividades de ecoturismo, como também para aproveitar o clima frio. Não à toa, é considerada Estância Climática. Entre seus atrativos naturais mais famosos estão:
Pedra da Macela
Situada a 1840 metros de altitude, a Pedra da Macela é um dos pontos mais altos da cidade e conta com uma das melhores vistas de toda a região. Além dos arredores de Cunha, é possível avistar, em dias de céu aberto, as vizinhas Paraty, Ilha Grande e Angra dos Reis.
A subida até o pico exige um pouco de condicionamento físico pois, além da trilha, há uma subida íngreme de cerca de dois quilômetros.
Parque Estadual Serra do Mar (Núcleo Cunha)
O núcleo Cunha do Parque Estadual da Serra do Mar, criado em 1977, tem 13,3 hectares de área e abriga boa parte da Mata Atlântica que tornou o município seu maior corredor preservado.
Ali, além de trilhas como Arapongas, do Rio Bonito e das Cachoeiras, é possível conhecer as quedas da Laje e de Ipiranguinha e tomar um banho de água doce. O acesso ao parque é feito por meio de uma estrada de terra de 20 quilômetros.
Cachoeiras
Fora do parque também é possível visitar algumas quedas d’água em Cunha. O destaque fica por conta da Cachoeira do Mato Limpo, que fica na beira da rodovia e é um bom ponto de parada para contemplação e fotos; a do Desterro, com duas quedas com volume significativo de água e piscina natural para banho; e a do Pimenta, com quedas de até 90 metros e poço para banho. Essa última, inclusive, fica ao lado do Museu da Energia Elétrica da antiga Usina Hidrelétrica da cidade.
As lavandas de Cunha
Quem já viu alguma imagem de Cunha, com certeza, se deparou com os seus belos campos de lavanda. A história da cidade com a planta aromática começa em 2012, quando a publicitária Fernanda Freire traz a espécie Lavandula dentata, que é a que mais se adapta ao clima e solo do Brasil, da região francesa de Provence e planta em seu sítio.
De lá para cá, o destino já foi até cenário de abertura de novela graças a sua encantadora plantação em tons de roxo e lilás.
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Daí surgiu o Lavandário, espaço que conta com 40 mil pés de lavanda plantados, além de outras ervas aromáticas. O espaço fica florido o ano inteiro, por contar com mudas em diferentes estágios de poda, e se torna um cenário único para ensaios fotográficos e contemplação da natureza. Ali também é possível conferir o trabalho de polinização das abelhas.
Quem não abre mão de uma experiência gastronômica ainda encontra por lá uma oportunidade de provar sorvetes diferentes, que são produzidos com as plantas aromáticas do lugar. Além da lavanda, há opções de alecrim, manjericão, pimenta rosa, verbena (capim-limão), maçã com lavanda e chocolate belga com lavanda.
Também focado nos campos de lavanda, o Contemplário é um espaço gratuito aberto ao público desde 2015, onde se destilam lavanda e outras plantas aromáticas e com os óleos são produzidos sabonetes, aromatizadores, velas e outros produtos disponíveis em uma loja junto ao artesanato e alimentos gourmet da região de Cunha.
Ali é possível passear pela plantação, fazer um piquenique numa das mesas espalhadas pela propriedade ou tomar um café ou cerveja artesanal no café enquanto aprecia a vista panorâmica.
Campo de oliveiras é novidade
Se as lavandas já são características de Cunha, agora um novo tipo de plantação promete se destacar na cidade. É o das oliveiras. Aberto para visitação desde 2019, o Olival é o primeiro pomar de oliveiras na Serra do Mar, com 1300 mudas.
Além de chamar a atenção por sua paisagem – e pela música clássica que, segundo estudos, estimula o crescimento das plantas -, o lugar é ideal para viver uma experiência autêntica em um campo de oliveiras rodeado pela Mata Atlântica, com direito a espaço gastronômico que oferece almoço artesanal ou noite de pizzas e ainda comercializa produtos locais.
A visita guiada expõe pontos interessantes sobre o universo das oliveiras e azeitonas. Os visitantes ficam sabendo, por exemplo, que são necessários 30 anos para as árvores chegarem a sua vida adulta, podendo assim ter uma produção de azeite maior; afinal, são precisos 12 quilos de azeitona para produzir um litro do produto.
A tradicional cultura ceramista
Desde os anos 1970, ceramistas que seguem a técnica japonesa Noborigama se instalaram na cidade e a tornaram uma verdadeira referência nesta arte. Entre os mais de vinte fornos Noborigamas espalhados pelo Brasil, seis deles estão em atividade em Cunha, produzindo a excelência em cerâmica que tem caracterizado a cidade como polo nacional de arte cerâmica.
Característica da cerâmica que segue essa técnica, a queima com lenha resinosa de eucalipto reflorestado pode levar até 27 horas seguidas, com fogo de lenha grossa no esquente inicial, lenha média para levantar a temperatura na fornalha e lenha fina para atingir o ponto de fusão dos esmaltes nas câmaras.
A abertura dos fornos, inclusive, costuma receber o público em alguns ateliers, como o Suenaga & Jardineiro.
Outros lugares onde é possível encontrar peças exclusivas para comprar são: Casa do Oleiro e Carvalho Cerâmica.
Azul é a cor mais quente em Cunha
Ainda para quem não dispensa um roteiro de compras de arte e artesanato, há uma parada não tão conhecida na cidade, mas que vale uma visita: o Atelier Lápis-Lazuli. Comandado pela artista Ilza Ferraz, o lugar reúne peças feitas da pedra preciosa conhecida por seu tom de azul profundo.
São anéis, pingentes, brincos e outros acessórios combinando a pedraria com prata 950 que rendem um belo presente!
Gastronomia: do mar e da terra para o prato
A gastronomia de Cunha tem forte presença dos produtos da própria terra e algumas influências de fora – seja dos frutos do mar da vizinha Paraty ou mesmo de outros países, como a Itália.
Portanto, há variadas opções para quem busca onde comer em Cunha e um roteiro gastronômico é mais do que indicado para qualquer época do ano por lá. Graças a sua grande extensão rural, a cidade tem diversos ingredientes colhidos diretamente dos sítios e fazendas locais, tais como shitake, oliveira e lavanda, entre outros temperos, frutas e legumes.
Não à toa, esses ingredientes aparecem de forma constante nos principais restaurantes da cidade, que podem ser encontrados tanto no centrinho, quanto nas estradas nos arredores da rodovia Paulo Virgínio, que percorre os principais atrativos locais.
Cunha também é conhecida por ter a maior produção de pinhão do estado, o que garante que o ingrediente típico serrano esteja presente em pratos e conservas servidos em diversos cantos.
Como chegar
Cunha está a 230 quilômetros da capital paulista. O visitante deve seguir pela Rodovia Presidente Dutra (BR-116) até a Saída 65, em Guaratinguetá. A partir dali, seguir pela Rodovia Paulo Virgínio (SP-171) até a cidade.
Onde ficar
Onde comer
Texto e foto destaque por: Eliria Buso. A jornalista viajou à convite da Pousada Candeias.