O desenvolvimento do turismo no Estado de Santa Catarina sempre passou por cidades importantes, como Florianópolis, Balneário Camboriú, Blumenau, e algumas outras do litoral sul e da região do chamado Vale Europeu.
Segundo um estudo recente, realizado pela Fecomércio, 184 municípios pesquisados, só seis são considerados de alto grau de desenvolvimento turístico: Florianópolis, Balneário Camboriú, Bombinhas, Itapema, Joinville e Blumenau. O dado foi obtido por meio de uma média ponderada feita com base em indicadores do Ministério do Turismo, e leva em conta quantidade de empregos, estabelecimentos, visitas nacionais e internacionais. Mas existem outros fatores, como a total falta de iniciativa dos órgãos governamentais do turismo do estado que nunca olharam de forma equilibrada pela região. A política de desenvolvimento do turismo sempre ocorreu pra garantir as grandes cidades do estado as maiores verbas e as maiores ações de marketing.
Por esse motivo, desde o início do ano, quatro cidades do norte do estado de Santa Catarina se cansaram da falta de apoio e resolveram potencializar o turismo e divulgar as atrações de todas elas numa espécie de Clúster Turístico, denominado consórcio Quiriri que já trabalha há 20 anos, à agricultura familiar e a preservação ao meio ambiente, e agora com esse grupo de trabalho, o turismo regional.
São Bento do Sul, Campo Alegre, Rio Negrinho e Corupá, estão trabalhando juntas para oferecer ao Brasil e aos países do Mercosul um produto turístico de qualidade com enorme potencial ecológico e natural, mas ainda mal explorado. Nem mesmo os turistas do próprio estado conhecem de maneira adequada o grande número de atrativos dessa linda região, ainda pouquíssimo apoiada pelo governo do estado.
Indústria moveleira gera mais de 10 mil empregos
Até hoje, o grande responsável pelo enorme desenvolvimento da região norte Catarinense foi a Indústria Moveleira que atualmente é responsável pela maior geração de empregos diretos. Estimasse mais de 460 empresas que estão sediadas principalmente em São Bento do Sul e Rio Negrinho, as duas maiores da região, “explica Jonathan R. Linzmeyer – Diretor da TBS e organizador da Feistock”- maior feira de móveis de pronta entrega do país e que traz a região mais de 25 mil visitantes em duas edições do evento. Essa indústria gera mais de 10 mil vagas diretas de emprego e outras 10 mil vagas indiretas. Na verdade somos ainda a mola econômica da região e vamos apoiar a iniciativa do Consórcio Quiriri, finaliza o executivo.
O norte catarinense tem apresentado bons índices de investimentos em hotéis, novas opções de restaurantes, e os estabelecimentos comerciais com grande potencialidade para o turismo de compra começam a ficar abertos aos finais de semana e feriados. Essa foi uma semente que sempre plantamos. “Quando os turistas chegavam ao antigo Novotel, hoje Serra Alta, ligávamos pra lojas de pronta entrega e mandávamos os turistas irem às compras, comenta Denise Thomas, Gerente Geral do empreendimento”.
O turismo na região movimenta não só os serviços e o comércio, mas a indústria, que é fornecedora. O potencial do turismo da região norte, tem grande estrutura para o turismo de negócios, turismo cultural, turismo esportivo, parques temáticos, recursos naturais e gastronomia, além da grande quantidade de produtores rurais que incentivam os produtos.
Para fazer com que esse potencial efetivamente se desenvolva, um dos rumos apontados é o investimento em tecnologia, trabalho conjunto e a criação do Clúster Turístico que despertará no consumidor final o desejo de comprar e visitar novos destinos em Santa Catarina, sem depender de ações políticas de divulgar o turismo.
As secretarias dos quatro municípios estão trabalhando de forma conjunta e organizada para potencializar a divulgação digital dos destinos que é uma tendência mundial. As cidades, suas atrações e os estabelecimentos comerciais precisam aprender a usar as redes e o marketing digital de forma estratégica para chegar ao cliente final, além de um amplo trabalho de divulgação de todo o potencial turístico das cidades envolvidas.
O Circuito das Araucárias, serve como exemplo e tem realizado constante trabalho de capacitação, comenta Cleiton Dias, gestor do Circuito Araucária. Numa ação programada e continua, busca qualificar a prestação de serviços dos hotéis, pousadas e restaurantes para prestar um atendimento e ser um diferencial fundamental para o setor.
A vantagem da região norte é que o turismo não depende apenas de uma época do ano. Outono, inverno, primavera ou verão, as quatro cidades podem oferecer dezenas de opções turísticas para qualquer classe de turistas e para qualquer faixa etária, para qualquer época do ano. Não dependemos de sol, neve, frio ou calor; as nossas atrações podem ser curtidas o ano inteiro,” comenta Luiza da Silva – Diretora de Turismo de São Bento do Sul”.
O Consórcio Quiriri pode ser a grande virada da chave, pois o norte do estado tem a melhor logística e pode ser considerada o portal de entrada do turismo catarinense, “explana Marília Scheffer – Secretária de Turismo de Campo Alegre”.
Quatro aeroportos próximos; Curitiba, Joinville, Navegantes e Florianópolis. Dois portos, Navegantes e Itapoá, A maior cidade da região da região, São Bento do Sul está a apenas 130 km de Curitiba, e 540 de São Paulo, dois dos maiores mercados consumidores do país. A região precisa apostar na vocação turística de cada município e consolidar as atrações e destinos turísticos já existentes. Existe uma demanda reprimida de consumidores que pensam que o turismo de Santa Catarina começa em Florianópolis e termina em Blumenau, “exemplifica Antônio, conhecido como o Gordo, guia de turismo e operador de esportes de aventura”.
Fazer o turismo local crescer é um fator preponderante. Existem movimentos para se criar alguns roteiros de compras de móveis, de peças de cama, mesa e banho, em São Bento do Sul.
Na cidade de Campo Alegre, produtores desenvolvem turismo rural focando em produtos orgânicos de qualidade e em gastronomia diferenciada. Em Rio Negrinho surgem novos hotéis como a Pousada da Guita e a Fazenda Evaristo que já atua há mais de uma década chega a receber mais de 250 mil turistas por ano em eventos de música e gastronomia. Em Corupá, o turismo contemplativo e as empresas que cultivam plantas ornamentais levam o nome da cidade para o Brasil e o mundo. No Quiriri, o turismo de aventura, trilhas, caminhadas, acampamento e o turismo de pesquisa científica aguardam com ansiedade a vinda de mais turistas.
A região oferece mais de duas dezenas de rios limpos, mais de 100 cachoeiras, sendo que nem 30% estão catalogadas, corredeiras, estradas para a prática de cicloturismo, estrada de ferro com passeio de Maria Fumaça, mirantes, turismo religioso,turismo de aventura, festas e festivais gastronômicos, museus, chácaras e sítios que trabalham o turismo rural e campeiro e as tradições italianas, alemãs, portuguesas, polonesas e de outras nações, que fazem dessa região um novo e ainda pouco conhecido pedacinho da Europa do Brasil catarinense.
Texto por: Cláudio Lacerda Oliva, enviado especial ao norte de Santa Catarina.
Foto destaque por Cláudio Lacerda Oliva