Principal destino de ecoturismo do Brasil, a Chapada Diamantina é um oásis em pleno sertão nordestino, fica no coração do estado da Bahia e possui temperaturas amenas. A área de preservação é só uma pequena parte de um território que guarda uma quantidade incrível de montanhas, chapadões, rios, cachoeiras e grutas. Formada por vários municípios, a Chapada tem aproximadamente 40 mil km². A região foi desenhada ao longo de bilhões de anos, quando as chuvas, os ventos e o rios esculpiram as rochas, criando vales e montanhas de tamanhos e formas impressionantes e oferecendo um cardápio diversificado de belezas cênicas.
Como o parque ainda não possui um completo plano de manejo implementado, a maioria das atrações não tem estrutura adequada para visitas, nem boa sinalização – portanto é preciso contratar um guia na maioria dos casos. Muitos lugares interessantes estão fora do domínio do parque.
Cultura Garimpeira dominou a região
A cultura garimpeira deixou o seu legado e, junto com tantas outras, deu sentimento, sabor e identidade à Chapada. Com uma rica arquitetura, em grande parte, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o lugar é um reduto para o intercâmbio cultural entre nativos e turistas.
O destino recebe milhares de visitantes a cada ano, ávidos por experimentar os diferentes atrativos que compõem a região, com direito a uma boa dose de adrenalina, afinal, não é à toa que a região é referência no turismo de aventura no Brasil. Devido à dimensão do território e às grandes distâncias existentes entre os principais atrativos naturais e as cidades turísticas, programar uma viagem para a região requer uma atenção especial.
Escolha da cidade
O Parque tem como cenário principal as cidades de Lençóis – considerada a capital – Mucugê, Andaraí, Ibicoara, Palmeiras, Rio de Contas e as vilas de Igatu e Vale do Capão.
Lençóis possui a maior quantidade de hospedagens e também as mais confortáveis. Os quartos com as melhores vistas estão nas pousadas do Vale do Capão. Nas demais localidades, a maioria dos hotéis é mais simples e com pouca estrutura. Portanto a partir daí dá para se organizar para conhecer os principais atrativos, espalhados de norte a sul do território.
As agências de turismo oferecem diversas opções de roteiros que variam de um a oito dias. São visitados pontos turísticos localizados no entorno do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Os passeios possuem diferentes níveis de esforço físico e ainda podem ser adequados ao perfil de cada pessoa. Os guias garantem que quem decide o ritmo da caminhada é o turista e, para facilitar, nas trilhas mais longas são oferecidos serviços como a contratação de uma pessoa para levar as bagagens.
A Chapada Diamantina possui uma enorme área silvestre. Por isso, é imprescindível que você esteja acompanhado por alguém que conheça bem cada lugar e que tenha treinamento em primeiros socorros. Além disso, o guia poderá enriquecer sua viagem com informações sobre a fauna, flora, geologia e história.
Guardiã de centenas de quedas d’água, sitios arqueológicos e uma geologia suntuosa, esta unidade de conservação ocupa 152 mil hectares, agraciando nativos e turistas com sua beleza cênica e esplendor. Foi no ano de 1985 que nasceu o parque com o intuito de preservar os ecossistemas da Serra do Sincorá e conservar suas nascentes, com destaque para o principal rio baiano, o Paraguaçu.
Esta unidade de conservação guarda um banco genético importantíssimo para a pesquisa. A cada ano, diversas novas espécies de plantas endêmicas e animais são descobertas na região.
Administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a sua área representa apenas uma pequena parte de toda a Chapada Diamantina, região que engloba dezenas de municípios. Com sede na cidade de Palmeiras, o Parque abrange seis municípios (Andaraí, Lençóis, Mucugê, Palmeiras, Ibicoara e Itaetê), contribuindo para a preservação de lugares de relevância histórica e cultural.
Visitação
Você deve iniciar o seu roteiro visitando a Cachoeira da Fumaça. É possível conhecer os principais atrativos do Parque Nacional da Chapada Diamantina a partir de localidades como Lençóis, Mucugê, Andaraí e do Vale do Capão. O acesso se dá, na maioria das vezes, por meio de caminhada. Muitos lugares famosos estão localizados ao seu redor, como os Poços Azul e Encantado, o famoso Morro do Pai Inácio e diversas grutas, a exemplo da Lapa Doce.
Lençóis é o portal da Chapada Diamantina, graças à sua infraestrutura hoteleira, com mais de dois mil leitos, restaurantes de alto nível e voos regulares. Ao longo dos anos, o município vem ganhando ares cosmopolitas, com residentes dos quatro cantos do mundo.
Os seus principais atrativos são os casarios do século XIX; a história e cultura herdadas do garimpo; a Serra do Sincorá e os atrativos naturais de fácil acesso como os poços do Serrano.
A cidade também concentra o maior número de agências de turismo, que organizam passeios por toda a Chapada Diamantina. O lugar ainda oferece uma agenda cultural diversificada, com opções que variam de festas tradicionais, como o São João, a shows de MPB, com destaque para o Festival de Lençóis.
O Vale do Capão é uma atração por si só. Ele é mais do que um santuário ecológico: é um lugar fascinante! O clima de esoterismo e paz está presente no dia a dia da comunidade e foi trazido por jovens ainda embalados pelos sonhos dos anos 70.
Hoje, muitas pessoas continuam chegando dos grandes centros urbanos e até de outros países, à procura de autoconhecimento, espiritualidade, contemplação e uma vida mais sustentável.
É possível fazer os tradicionais passeios de ecoturismo no Capão e ainda provar delícias locais, como o pastel de palmito de jaca e a pizza integral, além de boas opções para vegetarianos. Por lá, o turista poderá ter acesso a práticas terapêuticas e tratamentos holísticos. Há acesso para alguns dos lugares mais famosos da região, como a Cachoeira da Fumaça e o Morrão. O evento cultural que mais chama a atenção dos turistas é o Festival de Jazz, com shows de artistas consagrados da música instrumental. Foi neste município que apareceram os primeiros diamantes da Chapada Diamantina, em 1844. Uma das atrações mais interessantes é o cemitério de estilo bizantino, único do Brasil, que chama a atenção pela sua singularidade. Composto por jazidas em forma de igreja, todas pintadas de branco, remetem ao estilo arquitetônico neogótico do século XVIII.
Mucugê é tombada como patrimônio nacional pelo IPHAN e foi construída às margens da Serra do Sincorá. Cercada por montanhas, a temperatura média local é de 19˚C. O seu principal destaque é o Parque Municipal de Mucugê, onde está localizado o Projeto Sempre-Viva, focado na educação e preservação ambiental, além do Museu Vivo do Garimpo. 52% do seu território fazem parte do Parque Nacional. As atrações culturais mais significativas são os festejos de São João, o Festival de Chorinho e o Vozes na Chapada.
No centro da cidade, os prédios são do século XIX. O principal rio que banha o município é o Paraguaçu, um dos raros cursos d’água permanentes do Nordeste, que responde por 60% do abastecimento da capital baiana.
Já Andaraí, que fica mais na região central, oferece fácil acesso para diversos atrativos naturais: como o Poço Encantado, o pantanal Marimbus e a Gruta da Paixão. As piscinas do Rio Coisa Boa, a Cachoeira do Ramalho, a Lapa do Bode e do Rio Garapa, os poços da Donana e da Paraíba são alguns dos pontos turísticos locais, ao lado das famosas praias do Paraguaçu. Nos áureos tempos do garimpo, a antiga vila Xique-Xique de Igatu, hoje distrito de Andaraí, era um dos locais mais povoados da região, com cerca de dez mil habitantes. Igatu viveu o apogeu e a decadência da exploração de minérios, deixando os sinais de sua história estampados na arquitetura e no estilo de vida dos moradores. Chegou a possuir cinema, loja de produtos importados e uma usina de energia elétrica. Também foi um dos maiores produtores mundiais de carbonado.
As ruínas das casas de pedra do distrito integram um Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico tombado pelo IPHAN. O lugar ainda dispõe de um Parque Urbano de Preservação Ambiental, Histórica e Lazer, criado em 2007 para proteger as ruínas do bairro Luís dos Santos e as áreas internas dos afloramentos rochosos da Manga do Céu. É nas ruínas que está o principal aquífero do distrito e representantes típicos da flora, por isso é um dos espaços de maior beleza cênica de Igatu.
O museu a céu aberto intitulado “Galeria Arte e Memória” se soma a esse rico acervo, ao guardar utensílios do garimpo e sediar exposições temporárias de artistas plásticos renomados. Com seis cachoeiras ao seu redor, Igatu também é um dos destinos preferidos para quem curte escalada.
Serras e cachoeiras em Ibicoara
Cercada por serras e cachoeiras, Ibicoara está localizada ao sul do Parque e a 1.100 metros de altitude. O Parque Municipal do Espalhado, uma unidade de conservação a 30 km da sua sede, que abriga a majestosa Cachoeira do Buracão vem ganhando importância.
Vale visitar as cachoeiras da Fumacinha, do Licuri e do Rio Preto que atraem principalmente os adeptos de esportes de aventura, como o rapel, o cascading, a escalada e o trekking. O lugar também tem produção artesanal de cachaça e é famoso pela sua cultura agrícola, com ênfase no café orgânico, internacionalmente reconhecido pela sua qualidade. Ibicoara ainda integra o caminho das pinturas rupestres que segue até a cidade vizinha de Iramaia, ótima opção para os admiradores dessa arte milenar.
A cidade de Palmeiras é o principal acesso para o Vale do Capão, um dos principais destinos da região. Vale visitar o Morro do Pai Inácio e o Morro do Camelo. São outros destaques os sítios arqueológicos do Matão e da Serra Negra, ao lado do patrimônio histórico e cultural do município, dos quais fazem parte os casarios coloniais, como o Museu da Cidade, que guarda lembranças do início do século XX.
Friozinho em Piatã
Para aqueles que adoram frio, belas paisagens montanhosas e clima interiorano, Piatã é um ótima opção. A mais alta cidade serrana de todo o Nordeste (1268 m de altitude) fica num platô entre as serras do Tromba e de Santana e tem temperaturas que podem chegar a 5ºC.
Com menos de 20 mil habitantes, a cidade produz cafés especiais de alta qualidade, premiados em concursos nacionais. A iguaria pode ser degustada nas fazendas, diretamente com o produtor. A mais antiga povoação da Chapada Diamantina tem vocação para prática de esportes outdoor, como Mountain Bike e trekking. O município conta também com vistas panorâmicas, pinturas rupestres e cachoeiras, belezas naturais e históricas. Fazem parte da cidade, cenários pictóricos como as cachoeiras do Patrício e Cochó e trilhas na Serra de Santana, onde é possível ter uma vista panorâmica da paisagem de Piatã em diversos ângulos. O calendário cultural é bem animado e conta com São João tradicional em junho, com forró pé de serra.
Conjunto arquitetônico em Rio de Contas
Bem ao sul fica Rio de Contas, considerada uma das mais antigas cidades planejadas do país. Possui um dos três conjuntos arquitetônicos coloniais mais importantes da Bahia, dos quais fazem parte o Teatro São Carlos e as igrejas do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora de Sant’Ana. As suas casas e ruas de pedras são muito bem conservadas e passam um clima de aconchego e tranquilidade.
A cidade já foi rota do ouro, através da Estrada Real. A beleza de suas ruas serviu de cenário ao filme Abril Despedaçado (2001), do cineasta Walter Salles.
Dentre as singularidades da cidadezinha estão o tradicional carnaval de máscaras e os vilarejos quilombolas da Barra e Bananal e de descendência portuguesa. Eles sobrevivem da agricultura, do artesanato e da pesca e conservam a cultura de seus ancestrais de raízes africanas. Já a comunidade de Mato Grosso foi fundada por portugueses, e do lugar se extraiu muito ouro na época do garimpo.
Chapada Velha e Morro do Chapéu
Os jesuítas chegaram à Chapada Velha e logo avistaram um monte com forma de chapéu. Assim surgiu o nome desta cidade de gente hospitaleira e clima ameno. Reduto de espécies endêmicas, como o colibri dourado, e as orquídeas, Morro do Chapéu tem um rico acervo natural, com cachoeiras, sítios arqueológicos e cavernas, a exemplo da Gruta dos Brejões, considerada a 4ª maior do estado e a 6ª do Brasil.
Os rios que nascem e cortam o município fazem parte das bacias do Paraguaçu e São Francisco, sendo o Jacuípe o mais importante. A Cachoeira do Ferro Doido é um monumento natural de 98m de altura, quatro quedas e um imenso cânion. Já a do Agreste tem poços profundos, onde foram explorados diamantes.
Com artesanato diversificado e a típica culinária regional, Morro do Chapéu também é palco para esportes de aventura. Na área urbana, são referências a arquitetura secular da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Graça, a capela da Soledade, a sede da prefeitura e a casa do padre Magalhães.
Nos arredores da cidade, está a Vila do Ventura, o maior centro de diamantes da região no início do século XX. Dois casarios e uma capela foi o que restou dessa época. Por uma trilha de 6 km, chega-se à Cachoeira do Ventura. Nas proximidades, o sítio arqueológico Cidades das Pedras é uma área de grande afloramento de arenitos, com curiosas formas e um belo conjunto de pinturas rupestres.
As festas de Reis, do Divino Espírito Santo, de São Benedito e de Nossa Senhora da Graça, padroeira do município, são os principais eventos religiosos e populares do lugar.
Complete o seu roteiro visitando a Gruta da Boa Esperança, do Cristal e da Igrejinha; a Cachoeira Domingos Lopes; a Fonte Termal do Tareco, um oásis em plena caatinga, com propriedades medicinais, e o Buraco do Possidônio. Mas nunca se esqueça de programar uma ida para essa espetacular experiência. Visite a Chapada Diamantina ao menos uma vez, vale muito a pena!
Como chegar
Para uma viagem de carro a partir de Salvador o melhor é seguir pela BR 242. Desde Vitória da Conquista. De ônibus a melhor opção partindo de Salvador é com Real Expresso que faz o trajeto em cinco horários a partir das 7 horas da manhã.
Outra opção é pegar voos até Salvador e alugar um carro. São cerca de 5 horas de viagem. A Azul oferece voos diários partindo de Campinas chegando até Lençóis. De lá alugue um carro ou contrate os serviços de uma agência de receptivo.
Onde ficar
De dezembro a fevereiro as diárias sobem, as trilhas lotam e as cachoeiras estão com maior volume de água. De maio a agosto, o clima é seco. Em junho vale ir pelos festejos de São João e São Pedro. Recomendamos o Canto das Águas, a Pousada Vila Serrano e Alcino Estalagem que é mais simples e oferece diárias mais em conta.
Onde comer
Dona Nena em Mucugê prepara receitas da época do garimpo, pastel de palmito de jaca na Dona Dlava no Vale do Capão, os sorvetes da Apollo em Andaraí. Experimente também o Restaurante Cozinha Aberta e Os Artistas da Massa com especialidade italiana.
Texto por: Cláudio Lacerda Oliva
Foto destaque por Istock/ SergioSousaPhotography