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Campos do Jordão: na rota cervejeira do estado de São Paulo

Campos do Jordão é muito mais que uma estância climática. Além da natureza exuberante e do clima de montanha, que são seus principais atrativos, a cidade acaba de ser incluída na Rota Cervejeira do estado de São Paulo. É mais uma vocação turística do destino reconhecida oficialmente e que serve de estímulo para você subir a serra o ano inteiro, não apenas no inverno.

A inclusão aconteceu durante o Mondial de la Biere – Festival Internacional de Cervejas, realizado de 04 a 08 de setembro no Rio de Janeiro. Além de Campos do Jordão, as vizinhas Santo Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí também entraram no roteiro. E para celebrar esse reconhecimento do governo de São Paulo, vamos apresentar agora alguns dos visionários que há tempos contribuem para transformar a Serra da Mantiqueira na “montanha das cervejas”.

Foto por iStock / DavidPrahl

Gard: a cerveja da fazenda

Quem resiste ver a espuma se formar e o copo embaçar lentamente enquanto a bebida é servida? Uma imagem que enche os olhos e desperta o desejo de experimentar. Mas para Júlio Carvalho a paixão foi além do sabor. Em 2016, ele e o primo resolveram fabricar a própria cerveja. “Foi uma conversa de cocheira, afinal, sou apaixonado por cavalos também. Na época a intenção era apenas para consumo próprio. Compramos os equipamentos e montamos a Microcervejaria Gard”. Neto de dinamarqueses, ele decidiu produzir a Timavé Dark Larger, uma cerveja clássica da Tchecoslováquia, escura e leve, com 4,9% de malte.

A princípio somente os amigos tinham a chance de saborear, mas após críticas muito positivas em feiras especializadas, a dupla conseguiu todas as licenças e começou a comercializar o produto. Como a pequena fábrica fica na fazenda da família, dentro do horto florestal de Campos do Jordão, Júlio decidiu abrir as portas da propriedade e proporcionar uma experiência cervejeira integrada à natureza. Trata-se de uma Farm Brewery, cervejaria de fazenda, onde as pessoas interagem com cavalos da raça crioulo, uma vaca leiteira e também com um galo músico brasileiro, raça que canta comprido. É uma diversão para a família inteira, principalmente as crianças.

Há dois anos a Gard está aberta ao público. Somente no mês de julho, cerca de 500 pessoas conheceram a microcervejaria, que hoje produz de forma artesanal sete tipos de cerveja. Além da Timavé, a India Pale Ale, que é mais amarga e lupulada, também é sucesso entre os visitantes. A ausência de produtos químicos ou conservantes torna o sabor especial, diferenciado. Por mês são fabricados cerca de 2.500 litros de cerveja. As garrafas de 310 ml custam R$ 18 e o copo de 600 ml, R$ 25.

Júlio aplaudiu a decisão do governo paulista de criar a rota cervejeira da Mantiqueira, mas defendeu a criação de um roteiro sustentável. “Acho viável promover excursões individuais ou com pequenos grupos de visitantes”. Ele também espera que a rota não seja feita em apenas um dia.

“Disneylândia” dos cervejeiros

Na estrada do hotel Toriba, existe uma área de 350 mil metros quadrados que será transformada no maior complexo cervejeiro do país. Trata-se do Parque da Cerveja. Serão 30 mil metros quadrados de área útil onde o turista poderá viver 27 experiências diferentes com a bebida, desde visitas guiadas até aulas sobre as técnicas de produção. Sim, haverá uma escola dentro da propriedade especializada em ensinar a fazer cerveja.

No projeto, além de lojas temáticas, estão previstos um museu da cerveja a céu aberto e uma capela cervejeira, onde os aficionados poderão ser “abençoados” por um ator vestido de monge trapista, ordem religiosa nascida na Idade Média cujos membros fabricavam a própria cerveja. O espaço vai contar ainda com um Spa cuja atração será um banho de puro malte. Já pensou mergulhar numa banheira de cerveja? Haverá também um jardim de lúpulo, planta utilizada para a fabricação da bebida. Todo ano, no mês de março, um festival vai celebrar a época da colheita.

O prédio principal, onde vai funcionar o restaurante, já está praticamente pronto. Ao lado dele ficará a fábrica da cerveja Campos do Jordão, fundada em 2012 e que atualmente é produzida em Ribeirão Preto, no interior paulista. Todos os equipamentos já estão a postos para iniciar o feitio de forma artesanal. A capacidade é para 35 mil litros por mês, com possibilidade de chegar a 75 mil litros. Faltam apenas alguns acabamentos nas instalações. O parque é repleto de nascentes, cuja água será utilizada para a fabricação da cerveja.

Dentro da propriedade existe uma cachoeira que poderá ser visitada. Oito trilhas serão criadas para integrar os visitantes com a natureza. Silvio Rios, dono do empreendimento, diz que o projeto tem quatro fases. Segundo o empresário, a primeira deve ser inaugurada ainda neste ano. “A fábrica e o restaurante devem ser abertos até dezembro. Em abril de 2020, metade das atrações vai estar funcionando. A ideia é proporcionar opções de entretenimento para que os turistas fiquem a semana inteira em Campos do Jordão”.

Enquanto isso, um pequena amostra do que está por vir pode ser observada no Play Pub, em Capivari, restaurante com uma mini fábrica que serve de laboratório para novos sabores da cervejaria Campos do Jordão. Atualmente a marca trabalha com seis tipos fixos de cerveja.

Caras de Malte: cerveja e gastronomia

Foto por Kadu Schiavo

Localizada no caminho do Horto Florestal, essa microcervejaria funciona também como brewpub. Com um aconchegante salão e um deck externo com aquecedores, o restaurante Caras de Malte oferece um cardápio bem variado, com carnes à moda parrilla uruguaia, fondues, massas, trutas e petiscos. Os pratos harmonizam bem com as cervejas artesanais da casa e alguns ainda levam cerveja na receita.

Vale pedir também o chopp degustação, que inclui os rótulos fixos da Caras de Malte. Os copos são servidos sobre uma régua cervejeira estilizada, que indica as principais características de cada uma das cervejas.

Foto por Patrícia Chemin

Outro diferencial da casa é toda a identidade visual da Caras de Malte, que brinca com os temas de espaço, astronautas e alienígenas, dizendo que foram os malteanos, habitantes do planeta Malte, que trouxeram essa deliciosa cerveja para Campos do Jordão. Até os nomes dos rótulos fazem parte da brincadeira: Antimatéria, Supernova, Buraco Negro, Radioativa, Asteroide e Nebulosa.

Santo Antônio das cervejas artesanais

A 1.080 metros acima do nível do mar, A pequena Santo Antônio do Pinhal é um oásis na Serra da Mantiqueira. São 133 quilômetros quadrados de muito verde, onde vivem pouco mais de 6.500 privilegiados. Mas, além da população local, é cada vez maior o número de turistas que visitam a cidade não apenas por suas belezas naturais. A cidade também desponta como polo cervejeiro.

Existem seis microcervejarias, que juntas produzem cerca de 10 mil litros por mês. Há três anos foi criada a Associação dos Cervejeiros de Santo Antônio do Pinhal, com o propósito de incentivar a cultura da cerveja, pouco difundida no Brasil, como atração turística. A intenção era abrir as portas das fábricas para visitação. Restaurantes que produzem a própria cerveja também entrariam no projeto. Em julho, a ideia saiu do papel com a criação do primeiro roteiro cervejeiro da região.

“Criamos uma parceria com uma operadora de turismo que oferece nas agências de viagens o nosso roteiro”, explica Paula Simionato, presidente da Associação. Segundo ela, participam do projeto as microcervejarias Krios, Carijó e Araukarien. A visitação em cada uma delas dura cerca de uma hora e meia, período em que são apresentados todos os processos da produção. Workshops também são realizados paralelamente em datas específicas para que as pessoas aprendam a fazer a própria cerveja.

O pacote custa R$ 175 por pessoa com direito a translado. É um conforto e também uma segurança aos turistas que viajam de carro, porque no final tem a degustação, que já está incluída no valor. Em novembro será realizada na praça do Artesão a Festa da Cerveja, com participação de cervejarias de Campos do Jordão.

Temporada gastronômica da cerveja artesanal

De 21 de setembro até dia 20 outubro, os restaurantes do grupo Cozinha da Montanha apresentam pratos exclusivos cujo ingrediente principal são as cervejas artesanais. Já imaginou salsichas alemãs ou mesmo um risoto com puro malte nas receitas? Não há limites para a criatividade. Tem até cerveja sabor chocolate.

A microcervejaria Caras de Malte é especialista em fornecer matéria-prima para a composição dos pratos. Este ano, a sugestão do local é um leitão confit na nave com geleia de bacon e crisps, uma espécie de batata chips feita com couve manteiga. Tudo isso acompanhado com uma mini degustação de cervejas especiais. Já o restaurante Alquimia harmonizou a cerveja feita de pinhão com uma lasanha de pupunha e purê de maçã. Vale a pena experimentar.

Além do uso das cervejas no universo gastronômico da estância, a inclusão da Mantiqueira no Roteiro Cervejeiro do estado de São Paulo é mais dos inúmeros motivos para os aficionados pela serra apreciarem pratos diferenciados, e sem moderação. Se no sul do país os vinhos nascem no vale dos vinhedos, Campos do Jordão é o berço das cervejas especiais.

Texto por: Agência com edição de Patrícia Chemin

Foto destaque por: Patrícia Chemin

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