A região das montanhas capixabas guarda fortes resquícios de história. Com grande presença de imigrantes, o destino apresenta os caminhos e a história traçados pelos alemães e italianos que escolheram o Espírito Santo para recomeçar suas vidas. Ao desbravar esse percurso, além da cultura presente em cada detalhe, o visitante encontra belas paisagens, resultado de uma exuberante natureza que o cerca.
A cidade mais famosa das serras talvez seja Domingos Martins, porém, o roteiro pode surpreender se estendermos a visita à Santa Teresa, Santa Maria do Jetibá e Santa Leopoldina. Chamada região das “três Santas”, ela compõe os Caminhos do Imigrante, que ainda incluem Cariacica, Itarana, Fundão, Itaguaçu e São Roque do Canaã.
Apesar das semelhanças, cada cidade guarda particularidades, sejam naturais ou culturais, que formam um charmoso percurso para se conhecer.
Descubra e apaixone-se por cada uma das três Santas capixabas:
SANTA TERESA: MANGIA CHE TE FA BENE
Santa Teresa, apesar de bastante próxima da capital Vitória, são apenas 80 quilômetros de distância, ainda é pouco conhecida do público de fora do Estado. Mais isso não significa que faltam atrações por lá. Conhecida por sua forte imigração italiana e pelos festivais – de Jazz, de gastronomia, e etc – a Cidade dos Colibris reúne o melhor da cultura imigrante, da mesa às construções, festas e atrativos.
Considerada a primeira colônia fundada por imigrantes italianos no Brasil, a cidade tem, em todo seu centro histórico, exemplos da colonização italiana. Os casarios, sempre com grandes portas e janelas, expõem a forma singela das técnicas construtivas deste período.
Entre os destaques está a Casa Lambert, um pouco afastada do centrinho, construída em 1875 e tombada como Patrimônio Histórico Estadual. O espaço, feito de pau-a-pique, é uma das primeiras construções da cidade. Atualmente está fechado para restauração.
De volta ao centro, são muitos os locais que valem uma visita. O Museu da Cultura e Imigração Italiana, por exemplo, que fica na Galeria Cultural Virgínia Gasparini Tamanini – onde também há uma feirinha de produtos locais e artesanato – é parada obrigatória para descobrir sobre a história de toda essa região capixaba.
E a Rua do Lazer, originalmente Rua Coronel Bonfim Júnior, que abriga a maioria dos bares e restaurantes da cidade. Todos espalhados pelo rico conjunto arquitetônico de Santa Teresa. O local é o point da cidade. E muito se engana quem pensa que, por ser pequenino – com menos de 25 mil habitantes – o destino não tem uma noite agitada. De sexta a domingo a rua é fechada e troca o som dos motores pelas belas vozes que dão vida aos barzinhos dali. Tem até pub inglês com direito a fila na porta!
E é na Rua do Lazer, também, onde a gastronomia italiana fala alto e moradores e turistas se deliciam com uma incrível variedade à mesa.
De café ao nhoque da nona, não faltam pratos inspirados nos antepassados vindos da Itália. Mas nem só de massa vive o povo de Santa Teresa. Ali você encontra também ótimas carnes, como cordeiros e costelas, e um espetáculo árabe – com direito à dança do ventre.
Ainda na gastronomia, a cidade é famosa em todo o Estado por sua loja de biscoitos Claid’s. Há mais de 25 anos fabricando petit fours, bolos e pães, o lugar é um verdadeiro paraíso para curtir um fim de tarde e ainda fazer umas comprinhas para levar para casa.
Bem em frente à loja, não deixe de passar pelo Memorial Casa do Cedro. O museu foi criado para compartilhar, por meio da arte, a história de uma família de descentes de imigrantes. É composto por exposição de pinturas e acervo histórico.
Santa Teresa conta ainda com um parque arborizado com 30 mil m², que faz as vezes, ora de um grande jardim, ora de santuário dos animais. O lugar em questão é o Museu de Biologia Professor Mello Leitão que inclui: jardim rupestre, viveiros de animais, serpentário e pavilhões de botânica e de zoologia.
Vinhos…e mais história
Graças ao seu clima e, claro, novamente à influência italiana, a cidade é destino de enoturismo. Santa Teresa, hoje, abriga cerca de 10 vinícolas e produz 80 mil litros da bebida por ano. Para os vinhos, as variedades produzidas são: Niágara Rosada, Izabel, Violeta, Lorena, Moscatel, Bordo e Cabernet Sauvingnon.
É bastante expressiva também a produção de sucos, geleias e de espumantes.
As principais cantinas e vinícolas da cidade recebem o público para visitas guiadas e degustação. Os destaques são: a Cantina Mattielo, inaugurada em 1996; a Vinícola Tabocas que, entre eucaliptos e cafés do Vale do Tabocas, abriga um vinhedo das uvas Cabernet Sauvignon em uma área de 0,6 hectares; o Ristorante Romanha, que também produz cerveja artesanal; e a Casa do Espumante, que é pioneira na produção de espumantes feitos com jabuticaba.
Ecoturismo e aventura
Em Santa Teresa, o visitante tem a oportunidade de fazer diversas atividades em um único ambiente, mas para isso, seguimos rumo ao Circuito Caravaggio. A rampa de voo livre do Caravaggio é um dos lugares mais procurados por moradores e visitantes. Além do salto de parapente, as pessoas vão à rampa para assistir ao pôr do sol e admirar a vista das montanhas e do verde que parece não ter fim.
Com o coração acelerado, as mãos trêmulas e toda adrenalina, é hora de pular da rampa e sentir o vento no rosto enquanto o coração volta lentamente ao normal e as mãos já não tremem mais. É hora de abrir os braços e deixar o vento te guiar. De cima podemos admirar o verde infinito, que se parece mais com um carpete. Depois de pousar, é hora de voltar para as montanhas, e se você pensa que a adrenalina acabou por aqui, está enganado. Na volta, vivemos outra experiência: o momento de curtir a vista. Em um buggy, retornamos para a rampa em um passeio adorável.
No caminho de volta para a estrada, passamos em frente à Pousada Sítio Canaã, onde você pode degustar algumas cachaças e licores e andar de barco pelo balneário.
SANTA LEOPOLDINA,ONDE A NATUREZA É ABUNDANTE
Santa Leopoldina, a pouco mais de 50 quilômetros de Vitória, é uma das seis cidades que fazem parte desta região. Segundo o IBGE, a cidade tem pouco mais de 10 mil habitantes – a maioria deles vivendo na área rural – e seu centro histórico possui edifícios conservados, história e museus. O destino é bastante propício para a prática de esportes em meio às montanhas e para contemplar a natureza.
Dividido por três distritos, sendo eles: Sede, Djalma Coutinho e Mangaraí, o lugar conta com diversas surpresas. Ao passear pelas ruas da Sede, no centro histórico, o visitante irá notar a presença de algumas “janelinhas” que contam a história de algum acontecimento ou alguma pessoa que marcou o município.
O Museu do Colono, localizado na antiga casa mista, retrata a época do seu apogeu comercial do Porto e suas transações comerciais. Além do acervo que o espaço dispõe aos visitantes, ele também participa de diversos projetos que atendem à comunidade.
Já o Monumento ao Imigrante é uma construção da década de 50 e foi erguido em homenagem aos primeiros imigrantes. No chão, há um símbolo aberto que era usado para a luz do dia entrar e refletir na sepultura de quem ali era enterrado.
Tanto da cidade, quanto do monumento, notamos a presença de uma graciosa e imponente igreja, situada no alto de uma montanha, numa elevação de aproximadamente 100 metros. Construída em 1911, a Igreja Matriz Sagrada Família chama a atenção por dois motivos: sua localização e seu interior pintado à mão – vale uma visita de pertinho.
Uma dica: conheça os principais pontos turísticos da cidade em um roteiro de bike.
Cachoeiras e aventura
E para fechar com chave de ouro, visite as onze cachoeiras situadas no entorno da cidade. São diversas oportunidades para curtir as águas doces e geladas, como na Cachoeira das Andorinhas, Eco Parque Cachoeira Moxafongo e a Véu da Noiva, localizada na pousada Véu da Noiva. Algumas possuem estrutura para a prática de rapel e surf nas corredeiras.
Santa Leopoldina tem estrutura completa para oferecer diversas atividades de esportes e aventura como trekking, montanhismo, cicloturismo, quadriciclo, caminhada e voo livre.
No passeio de quadriciclo, a empresa Quadriclub oferece dois roteiros: rota Andorinha, com 22 km e a rota Timbuí, com 45 km no total. O passeio tem um itinerário deslumbrante com paisagens belíssimas e únicas, e ainda faz algumas paradas para fotografias ou até para banhos de cachoeiras.
SANTA MARIA DE JETIBÁ: SIND WILKÅMEN NAM POMERLAND!
Santa Maria de Jetibá, também localizada a cerca de 80 quilômetros da capital, é considerado o município mais pomerano do Brasil. Isso porque, em meados de 1870, cerca de 800 imigrantes dessa região alemã se fixaram na então Colônia de Santa Leopoldina e, décadas depois, acabaram escolhendo Santa Maria como morada.
Dos anos mais remotos até os dias de hoje, a cultura permanece forte entre seus moradores e encanta os turistas. Seja na arquitetura, nos eventos sociais – como o casamento – ou na gastronomia, é impossível não se deparar com as influências pomeranas em uma visita pelo destino.
Graças a isso, a cidade conta com um roteiro especial por propriedades de famílias imigrantes. O passeio promove uma verdadeira experiência pelas tradições desse povo.
Com beleza exuberante, florestas e cachoeiras, e um pouco de aventura, o circuito Terras Pomeranas visita propriedades de agricultura familiar e orgânica, floricultura e fruticultura (uva, framboesa, morango, amora, entre outros). Nele, também é possível se deliciar com os produtos típicos da região, como pães, biscoitos e o tradicional brot (pão de milho dos pomeranos). Visite o ‘colha e pague’ de produção de uvas Niágara e comercialização de vinhos.
Memorial: do casamento à mesa pomerana
Parte do roteiro, o Memorial Waiands Huus se destaca por oferecer um passeio que conta um pouco da história desse povo e faz o turista imergir nessa cultura. Isso porque, em uma visita, os proprietários Marineuza Plaster Waiandt e Helmut Waiandt, fazem a apresentação de um legítimo convite de casamento pomerano – com direito a cachacinha para confirmar presença – e também a encenação da típica cerimônia do quebra-louças.
O casamento pomerano é repleto de singularidades, que vão desde o vestido da noiva – originalmente preto – passando pela produção de todos os detalhes pela família, que trata os noivos “como reis” até o ritual de quebras louças – que tradicionalmente afugenta os maus olhares da nova família.
O memorial conta também com uma casinha típica, datada da década 1950, toda mobiliada com móveis originais que retratam a vida na época. Objetos como um relógio de parede, berço, ferramentas de lavoura, louças e utensílios domésticos estão expostos e ganham vida com a explicação de Marineuza.
Anualmente, a cidade realiza a Festa Pomerana, que desfila pelas ruas as músicas, danças folclóricas, comidas e bebidas típicas dessa cultura pouco conhecida.
Onde ficar
SANTA TERESA
Pousada Sitío Canaã
Pousada São Lourenço
Pousada A Dona da Casa – (27) 99810-3066
SANTA LEOPOLDINA
Pousada Véu da Noiva
SANTA MARIA DE JETIBÁ
Memorial Pomerano
VITÓRIA
Bourbon Vitória Residence Hotel
Onde comer
SANTA TERESA
Café Haus
Giardino
Ristorante Romanha
Istambul
Taberna Lounge
Café Zanoni
Claid’s
Cantina Mattiello
SANTA MARIA DE JETIBÁ
Memorial Pomerano
SANTA LEOPOLDINA
Luca Lonardi Pizzaiolo – (27) 99246-5611
VITÓRIA
Cantina do Bacco
Passeios
Quadricíclo
Jefinho Expedições
Parapente – (27) 99848-6734
Texto por: Caroline de Oliveira e Eliria Buso. Jornalista e fotógrafa viajaram a convite da Secretaria de Turismo do Estado.
Foto destaque por Sagrilo/ SETUR ES