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Áustria: Era uma vez….os bailes de Viena

Foto por WIENTOURIMUS/RAINER FEHRINGER 2018

Todo conto de fadas que se preze começa com a famosa frase que dá título à esta matéria. E, como em tais histórias, posso dizer que por um dia tive a oportunidade de me sentir como uma ver­dadeira princesa. Que mesmo que sem o: “felizes para sempre” ao final, rendeu uma experiência de viagem que me marcou de diferentes formas. Já adianto que se trata de algo que vale encarar ao menos uma vez na vida, e não importa se você sabe dançar ou não. Pois tudo se resume a uma noite de diversão inesquecível!

Coisa do destino, ou não, quase 5 anos que eu ha­via visitado a capital austríaca a primeira vez recebi o convite para voltar. Porém, dessa vez teria outra visão, e não somente por ser durante o inverno. Mas porque o mote da viagem não era simplesmente aproveitar tudo que o destino tem a oferecer. A ideia era participar de um baile vienense.

E com toda a pompa que ele garante, ou seja, com direito a vestido, cabelo e maquiagem. E, pasmem, aula de dança e carruagem! Está bom para você? Mulherada vai entender o sentimento. Mas não vá pensando que é algo especial somente para o públi­co feminino não.

A rapaziada também entra na onda, claro, que com menos firulas, por assim dizer. Pois vamos combinar que, para vocês homens, é muito mais fácil e simples escolher um traje de gala que para nós mulheres. Bem como se preparar para qualquer evento que seja.

Foto por Istock/ vichie81

A tradição é antiga, vem desde 1814. Ou seja, por mais de dois séculos Viena tem sido a capital incon­testável dos bailes. É coisa séria mesmo! E que não perdeu a essência mesmo com o passar do tempo. E tem várias opções já que, anualmente, a cidade aco­lhe cerca de 450 eventos. Dos mais tradicionais e ele­gantes a festas para lá de carnavalescas.

Mas não importa o tipo, os passos clássicos da valsa vienense mantêm seu rigor. Porém, garantindo uma mistura única de antigas tradições austríacas e mag­nífico cerimonial da corte. E, apesar de ter réplicas por mais de 30 cidades pelo mundo, nada supera o original – o romance e o charme de Viena colocam sua temporada de bailes no topo sempre.

A temporada começa em 11 de novembro, que é o início do Fasching (o carnaval austríaco). Neste dia, dançarinos lotam a Graben, rua comercial na cidade velha, para bailar a valsa em um espetáculo liderado pelas principais instituições de dança da cidade. A programação segue até além da primavera.

AURA IMPERIAL

E a cidade é o cenário perfeito para um conto de fadas da vida real, afinal de contas estamos falando de um destino com aura imperial, com belas paisagens e suntuosas edificações. Além, claro, de muita cultura, arte, música e gastronomia. Alguns dos elementos que tendem a conquistar a primeira visita. E devo dizer, a segunda também! Estamos falando de um lugar que, por 3 anos, foi eleito o melhor do mundo para se viver!

A melhor definição que tenho para Viena é de que se trata de uma cidade primorosa. Por isso, com baile ou sem o ideal é dedicar ao menos 3 dias somente para conhece-la, pois são muitos palácios, monu­mentos, parques e museus. Pode soar exagero, mas por todos os cantos há uma grata surpresa pronta para te fazer suspirar. Algo fácil até, pois a atmosfera romântica de Viena proporciona isso naturalmente.

Foto por Istock/ bluejayphoto

Contudo, apesar de ter este lado que remete a sécu­los passados, com direito a carruagens pelas ruas, se trata de um lugar dinâmico e moderno, com toda a agitação da vida contemporânea de uma metrópole.

Outro charme da cidade é o fato de ser recortada pelo Rio Danúbio, que, por sinal, é um dos seus maio­res símbolos. Se sua viagem for no verão não deixe de incluir no roteiro um passeio de barco. Vale dizer que, a estação é bem quente em terras vienenses, com temperaturas médias elevadas. Enquanto que o inverno pode ser bem rigoroso, com queda de neve principalmente entre dezembro e março.

E, para quem ainda não conhece, Viena é dividida em 23 distritos, que, embora disponham de nomes, são mais conhecidos por suas numerações que começam a partir do centro histórico. Região esta que, desde 2001, faz parte da lista de Patrimônios da Unesco. Fica a dica: apesar de ter um sistema de transporte público eficiente, o ideal, para não perder nenhum detalhe, é aproveitar o quanto puder a pé mesmo, ainda mais que tudo é perto na região central. Você irá notar que, além de belíssima, a capital austríaca é limpa e segura.

Foto por Istock/sergey02

É berço de grandes nomes da música erudita como Franz Schubert e Johann Strauss II, sem contar que foi opção de morada de Mozart e Beethoven. Outros dois vienenses de grande impacto na história são Sig­mund Freud e o pintor Gustav Klimt, responsável por obras como o famoso “O Beijo”.

CALENDÁRIO CHEIO

Por isso um de seus fortes é oferecer uma infinidade de opções quando o assunto é música, mas apesar da multiplicidade, a clássica, sem sombra de dúvidas, é a que mais se destaca. E assistir um concerto em um de seus cartões-postais, a Staatsoper – a imponente Ópera de Viena –, é algo que vale a pena, claro, se você gostar do gênero. Caso não seja sua praia, opte então pelo baile sediado anualmente lá.

Eis uma chance de conhecer de um jeito único essa bela edificação que foi inaugurada em 1869, com Don Giovanni, de Mozart. E que, por ter sido muito afetada durante a Segunda Guerra Mundial foi res­taurada posteriormente. Para sua volta à ativa, em 1955, a escolha foi Fidelio, de Beethoven.

O da próxima temporada de bailes está marcado para 28 de fevereiro de 2019. E se trata de um dos principais, se não o grande baile de todos. São 5 mil pessoas fazendo a festa por uma longa e divertida noite. E com direito muitas vezes a presença de per­sonalidades internacionais do mundo da cultura, ne­gócios, política e esportes.

Um evento social de alto nível, tenha a absoluta certeza. Por isso, o Opera Ball é o que costuma ter os ingressos mais caros, especialmente os que dão direito a camarote (pequenos boxes com mesa e cadeiras). E, mesmo apesar dos preços, ainda é dos mais procurados.

Foto por Istock/ babiychuk

Outros bailes de prestígio da cidade ocorrem no pa­lácio de Hofburg, e são consideravelmente mais em conta. Isso porque os ingressos para admissão geral são mais acessíveis do que as reservas de mesa.

Apesar de óbvio, é preciso ressaltar que eventos como estes pedem vestimenta adequada. Ou seja, damas com vestidos longos, de gala (há quem use inclusive lu­vas) e cavalheiros devem usar fraque, smoking ou terno com gravata borboleta. Mas vale ficar atento ao códi­go de cada baile, no Opera Ball, por exemplo, homens devem usar fraque. Além de outras considerações.

E, para além da roupa elegante, é preciso também manter a postura, e seguir o cerimonial e toda a for­malidade da ocasião. Conforme falei logo no começo desta matéria, não é preciso ser nenhum Fred Astaire ou Ginger Rogers. Mesmo sem saber dançar dá sim para aproveitar. Mas, quem quiser encarar a pista de dança com mais confiança, há inúmeras instituições de dança em Viena, preparadas desde cursos inten­sivos até aulas básicas voltadas aos leigos no quesito bailes vienenses.

NOITE DE GALA

Se tenho que escolher uma princesa Disney como favorita, desde pequena sempre me identifiquei com a Bela. Muito do seu jeito lembra a mim mesma, po­rém por uma noite me senti mesmo a Cinderela. De borralheira a princesa. E, mesmo sem magia pude contar outros tipos de fada-madrinha.

Foto por ©WIENTOURIMUS/RAINER FEHRINGER 2018

No caso, uma loja de aluguel de vestidos, uma es­cola de dança e uma maquiadora/cabelereira profis­sional. Eis a minha tríplice mágica. Com relação ao primeiro caso, é uma opção para quem vai a Viena com a intenção de participar de um baile, mas não é a regra. Há diversas lojas, como a que fui, a Von­dru. Mas você pode levar seu próprio traje de gala. O que me salvou já que, por um pequeno erro de ajuste (apertaram demais), acabei usando o vestido que le­vei por garantia na mala. Ufa!

Com relação a aula de dança, onde ingenuamente achei que era apenas aprender a clássica valsa, foi uma experiência por si só. No caso não se tratava apenas da mundialmente famosa valsa de três tem­pos, o Danúbio Azul de Strauss. Na Tanzschule Elma­yer, uma das mais legendárias instituições de danças de Viena, se aprende além dos passos necessários.

O que vale para a etiqueta de baile e o que pode e não pode fazer. Se aprende, por exemplo, a forma correta de convidar uma dama para dançar, e como ela deve aceitar ou recusar tal pedido. Esta parte foi fácil, difícil mesmo, para decepção geral da escola, já que deduziram que brasileira manja tudo de dança, foi aprender a valsar ao estilo vienense. E, verdade seja dita, mais dei risada do que dancei. São muitos comandos e passos para memorizar.

Depois de cabelo e maquiagem feitos, e devida­mente trajada, era hora de, com todo o glamour do mundo, subir numa carruagem rumo a um dos prin­cipais palácios de Viena, o Hofburg, onde é realizado o Wiener Kaffeesiederball, o baile dos proprietários de cafeterias da cidade. E, que no próximo ano, será no dia 22 de fevereiro.

Foto por Istock/ Orsorr

Outro cartão-postal da capital austríaca, o Hofburg data do século 13, e tem diferentes estilos arquitetô­nicos, indo do barroco ao gótico. São cerca de 2.600 dependências distribuídas em 18 alas. Não em vão é descrito como uma cidade dentro da cidade. E por isso serviu de residência de inverno da dinastia dos Habsburgos por mais de 600 anos.

Dentre suas curiosidades mais emblemáticas está o fato de ter sido onde nasceu Maria Antonieta, em 1755. A Igreja dos Agustinos, a Biblioteca Nacional, os museus Albertina, de História e Arte, de História Natural, Etnográfico e o Museum Quartier (um dos dez maiores espaços culturais do mundo) são apenas alguns dos locais que fazem parte desse majestoso complexo. Para chegar nele você atravessa o Volks­garten, um dos muitos parques que vale a visita.

Para lá de especial para uma noite digna de princesa não é mesmo? Foi assim que me senti o tempo todo, mas em particular ao descer da carruagem. E, mesmo morrendo de frio, abri mão do casaco só para fazer a fina e descer com classe para a foto.

Uma vez lá dentro tudo muito bem organizado, como é de se esperar dos austríacos. É quase impos­sível descrever tudo que vi e senti em meio ao meu conto de fadas particular. Mas para tentar dar uma ideia, visualize o interior de um palácio luxuosíssimo, todo rico em detalhes que prendem nossa atenção, a ponto que até dá para esquecer a quantidade de pessoas, pois são movimentados esses bailes.

Há gente por todos os cantos, afinal de contas são dis­ponibilizados 3.600 lugares. O salão principal é onde tudo acontece, ao menos com relação aos atos prin­cipais do baile. E não estranhe se, a princípio, você se lembrar de uma festa de debutante. Pois é bem por aí.

Foto por WIENTOURIMUS-RAINER-FEHRINGER-201

O Kaffeesiederball é aberto por um “comitê” de mo­ças e rapazes estudantes da Tanzschule Elmayer. E essas jovens estão de fato debutando, abrindo seu primeiro baile. Suas reações são nítidas em seus rostos, onde se nota um turbilhão de emoções. O que vale para seus parceiros também, que, apesar da se­riedade que tentam impor, não deixam de ser jovens rapazes. Por detrás de cada passo há uma coreogra­fia e vários dias de ensaios. Tudo muito preciso. No­vamente, nada além do que se espera dos austríacos.

Esta estreia das meninas, agora moças, remonta aos dias da monarquia – a introdução formal na socieda­de. Vestidas com um longo branco, com uma coroa na cabeça e longas luvas brancas com um ramalhete na mão direita, elas vão para a pista de dança de braços dados com seus acompanhantes de smoking, geralmente ao som de “Fächer-Polonaise”, de Carl Michael Ziehrer, ex-regente da corte imperial.

Ao final deste solene ritual é a vez da valsa – com os pares girando no sentido anti-horário. O que não é tão fácil quanto parece. Esqueça aquela mera valsi­nha dos aniversários de 15 anos. Não é em vão que por lá as escolas de dança são tão bem frequenta­das. Só em Viena existem cerca de 30 instituições. E são elas as responsáveis por organizarem as cerimô­nias de abertura dos bailes.

Executados com exímio primor, que mostra não só técnica como muita dedicação, os movimentos rít­micos criam um visual fascinante em preto e branco.

Não tem como não se ver contemplando. Eu mesma, devo dizer que me vi por várias vezes boquiaberta. E soltando suspiros.

Após todas as formalidades, e apresentações ofi­ciais, se ouve com empolgação a frase “Alles Walzer”, onde todos são convidados para a pista de dança, desta vez para valsar no sentido horário. E com meus dois pés esquerdos me rendi, com certa dificuldade, devo dizer. Mas a decepção que senti comigo, por ser uma negação dançando, foi breve, pois não tem como não ficar encantado mesmo que só admirando.

É uma sucessão de estilos de danças, já que não se limita somente a valsa não. Mas o momento mais aguardado é a meia-noite, quando é a hora da qua­drille. Sim, uma quadrilha, que em alguns aspectos lembra as nossas juninas, devidos aos comandos da­dos. Mas para por aí a comparação, pois os passos são bem complicadinhos. Mesmo com a explicação do mestre de cerimônias. É tudo muito rápido, o que dá brecha para a confusão. É divertidíssimo, não tem como não entrar no clima. A melodia é cativante, e a alegria geral contagia.

Foto por ©WIENTOURIMUS/RAINER FEHRINGER 2018

Não raro, no entanto, a dança termina em um caos bem-humorado causado por alguns dançarinos de alto astral durante a corrida louca pelas passagens entre as fileiras de dançarinos. Em todo caso, é uma maneira de dar aquela renovada, já que esses bailes costumam ir até o amanhecer, lá pelas 5h.

Vale ressaltar que, há vários outros espaços do pa­lácio abertos para garantir que ninguém fique para­do, pois há diferentes estilos musicais. Ou seja, dá para agradar todo mundo, dos mais conservadores até os mais moderninhos. Mas a graça é justamente transitar de um para outro.

E quanto o meu final feliz, foi bem estilo Cinderela após o baile, só que no meu caso não a meia-noite, mas sim as 3h30 da manhã, voltando bem borralhei­ra andando até o meu hotel, o Park Hyatt, que fica bem próximo ao Hofburg (levei um sapato sem salto só para poder fazer isso), parando para comer uma legítima wurst (salsicha).

Difícil mesmo, além de abrir mão da bela maquiagem, foi conseguir dormir, pois, apesar de cansada a adre­nalina me fazia ficar repassando tudo em mente, até fi­nalmente mudar de princesa e virar a Bela Adormecida.

Então se permita, se deixe levar pela aura imperial da cidade, pelo glamour de um evento como este e vá livre de pré-conceitos e vergonha, pois a diversão é garantida, assim como uma lembrança inesquecível!

Como chegar

Não há voos diretos do Brasil para Vie­na, no entanto, a Lufthansa tem voos com conexão em Frankfurt. Enquanto que a Swiss  conta com voos cuja conexão é em Zurique.

Onde ficar

Viena oferece uma infinidade de lu­gares aconchegantes. Entre as op­ções mais chiques e luxuosas está o Park Hyatt. Já quem preferir algo mais descola­do e moderno, tem no Ruby Lissi Hotel & Bar  o local ideal.

Texto por: Carolina Maia. A jornalista via­jou a convite do Vienna Tourist Board e contou com a proteção do seguro-viagem Global Travel Assistance – GTA

Foto destaque por ©WIENTOURIMUS/RAINER FEHRINGER 2018

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