O comportamento dos consumidores tem mudado drasticamente nos últimos anos. Uma das consequências são hotéis vazios em todas as regiões do Brasil. Atribuo mais ao fato das pessoas terem aprendido a consumir outros modelos de hospedagem do que à crise econômica. E não estou me referindo apenas ao tsunami do Airbnb, mas aos hostels, campings, casas de amigos.
Conheci duas amigas há um tempo e elas já tinham esse jeito mais minimalista de viajar. Colocaram uma mochila nas costas e foram conhecer os países da América Latina, dormiam onde dava, rodoviária era uma das opções favoritas da dupla; sentavam na cadeira de espera para o embarque e apoiavam as pernas na mochila. Elas contam essa experiência com brilho nos olhos e um sorriso largo no rosto.
Frequento um camping há anos e, de um tempo para cá, percebi que o número de adeptos aumentou significativamente. Os campeiros dizem que é mais um estilo de vida do que economia ou algo do tipo. Tanto é que ao contrário do que muitos pensam, já conheci CEO de empresa, diretor, tatuador famoso e muita gente divertida no camping.
Dormir escutando o barulho do mar, acordar com uma vista inacreditável sem nem precisar levantar da cama, conhecer pessoas diferentes e no começo da noite sentar numa roda na praia para participar de um luau (sempre tem alguém que leva violão). Para vocês terem uma ideia, em uma dessas minhas idas ao camping, encontramos o CEO de uma empresa que foi com os funcionários e eles levaram um lençol branco, estenderam na rede de vôlei e a praia virou um cinema.
As crianças de todas as idades ficaram muito encantadas com a experiência. Devo admitir que o entusiasmo também se percebia entre os adultos. Já fiz amigos em hostels, campings e depois ficamos um na casa do outro para turistar. Conto estas histórias para dizer que o fato não é apenas economizar; as pessoas querem ousar viver sem um roteiro e se surpreender. Elas querem acumular histórias, somar risadas, divertir-se com o simples, respeitar o outro mesmo em um espaço compartilhado, ser solidário, crescer como pessoa e ter boas memórias para contar nas rodas entre amigos.
Não tenho nada contra ficar hospedado em hotel, pelo contrário, já fiquei várias vezes. Mas acredito que inovar é preciso! Analisando a situação do setor, eu até posso dizer que a mudança é imperativa. Já é bem ultrapassado achar que irá encantar os clientes com uma carta de boas-vindas acompanhada de um chocolate. Existe uma distância considerável entre esta ação com a praticada pela pousada pequenininha que a dona fica na recepção e recebe os hóspedes como convidados, que sabe o seu prato predileto e o prepara para recebê-lo, que te atende pelo telefone de uma forma hospitaleira – o que não tem comparação com atendentes que cumprem um roteiro que parece até uma gravação e respondem às perguntas no piloto automático, isso quando não deixam você do outro lado escutando uma música.
As pessoas estão redescobrindo o prazer de vivenciar momentos simples, com pessoas comuns, em um ambiente mais flexível e mais feliz. As pessoas estão interessadas em fazer conexões uns com os outros e com a natureza ao invés da palidez das relações de grandes prédios envidraçados. E essa escolha não está diretamente relacionada com nichos por idade que nomeiam de millennials, centennials, geração y, entre outras. Enquadre todos no modo “vivre la vie”!
Texto por: Danielle Mendonça
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