Com a ampliação dos voos da Ethiopian Airlines, companhia aérea etíope que têm Adis Abeba como principal hub de conexão, a capital da Etiópia passa a ser interessante opção antes ou depois do destino final da viagem. Foi o que aconteceu comigo no final de 2017, quando, voltando da Índia, resolvi aproveitar o stopover da aérea para ficar dois dias no destino – tempo suficiente para conhecer os principais pontos de atração.
Principal cidade do país e sede das União das Nações Africanas, Adis – como é carinhosamente chamada pelos locais – significa “nova flor” no complexo idioma Amárico e tem muito a oferecer aos visitantes. Mas não se impressione com a confusão verificada no Aeroporto Internacional Bole – o quinto mais movimentado da África com fluxo de 19 milhões de passageiros por ano -, atualmente passando por processo de ampliação e revitalização, que incluirá a construção de um hotel de luxo. Tente não se estressar com a confusão – agravada pelo hábito local de não respeitarem filas. Mas com calma e paciência tudo acaba dando certo.
Ao sair do aeroporto já é visível o momento de pujança vivido pela cidade, que vem recebendo investimento de países estrangeiros. Adis Abeba tem avenidas largas, um trânsito confuso, muitos prédios estão em construção e uma infinidade de guindastes são visualizados no horizonte. Um contraste doído quando percebemos o grande número de pessoas pobres que vive por lá. A desigualdade social é gritante, algo que nós brasileiros estamos acostumados a ver também em nosso país.
O progresso e expansão da capital etíope deixa no passado um triste momento vivido pelo país na década de 1990, quando a população foi castigada pela miséria e fome causada pela seca e pela guerra civil entre o governo e rebeldes separatistas da província da Eritreia. Cerca de um milhão de pessoas morreram. Mas hoje os tempos são outros e, acredite, a Etiópia – e Adis – têm muito a oferecer aos seus visitantes.
Logo no início do tour pela cidade salta aos olhos as diferenças nas vestimentas de homens e mulheres. Enquanto elas usam roupas e véus coloridos, eles preferem a sobriedade dos trajes mais sociais e até paletós e gravatas. O tempo foi curto, mas foi possível conhecer os principais atrativos de Adis Abeba.
MONTE ENTOTO
Localizado no distrito vizinho de Oromia, é o ponto mais alto de onde é possível apreciar uma linda vista panorâmica da capital etíope, principalmente ao entardecer. Está a 3,2 mil metros de altitude em relação ao nível do mar. Eucaliptos importados da Austrália cobrem e embelezam as encostas. Lá no alto estão a igreja de Santa Maria e a antiga moradia de Menelik II – coroado em 1882. A igreja em forma octogonal abriga um pequeno museu com objetos pessoais do imperador e sua esposa.
MUSEU NACIONAL
É o principal museu do país sobre a arqueologia, paleontologia, história etíope, etnografia, arte e cultura – antigas e contemporâneas. Localizado próximo à Universidade de Adis Abeba, guarda obras de artistas locais, peças arqueológicas e da antiga realeza. O local é a atual residência da famosa Lucy – esqueleto fossilizado de uma mulher (australopitecos) encontrado no Vale Awash, em 1974. Segundo estimativas ela teria vivido há cerca de 3,2 milhões de anos. Ganhou esse nome em homenagem à música Lucy in The Sky of Diamonds dos Beatles, que era cantada pelos arqueólogos felizes por terem encontrado vestígios de civilização.
CATEDRAL DA SANTÍSSIMA TRINDADE
A mais bela de todas as igrejas da cidade tem alto significado histórico para o país. Foi construída em 1941 em comemoração à libertação da Etiópia da invasão italiana. Lá estão as tumbas dos principais heróis da nação como do imperador Haile Selassie e da imperatriz Menen. O edifício com arcos chama a atenção, principalmente por causa da sua torre do sino e dos pináculos. Antes de entrar é preciso deixar os sapatos do lado de fora. Apresenta lindos vitrais, extensos murais e uma grande coleção de cruzes, além da cama do quarto imperador. Tive a sorte de visitar a igreja no momento em que acontecia um casamento. A cerimônia muito diferente do que estamos acostumados a ver no Brasil.
CATEDRAL DE SÃO JORGE
Localizada em frente à Praça Menelik II, essa igreja ortodoxa é conhecida pela sua distinta forma octogonal. Foi construída em 1896 por prisioneiros de guerra italianos derrotados na Batalha de Adwa. Como outras igrejas etíopes, ela guarda a Tabot – uma espécie de arca que abriga réplicas das tábuas em que os dez mandamentos bíblicos foram inscritos. Durante a guerra, em 1937, ela foi destruída e incendiada. Após a libertação, em 1941, foi restaurada. Também é conhecida como Igreja da Coroação porque, em 1917, a imperatriz Zewditu foi coroada lá, bem como o imperador Selassie em 1930. No interior da catedral há um museu que guarda um trono imperial em exposição, além de armamentos utilizados nas guerras contra os italianos.
MERCATO
Não tente visita-lo sem a companhia de um guia local. O lugar é um verdadeiro e gigantesco labirinto que abriga um emaranhado de barraquinhas, lojinhas e galpões onde se vende de tudo. Não à toa é considerado o maior mercado ao ar livre da África. Também é chamado de Addis Ketema, que significa Cidade Nova. O sábado pela manhã é o momento de maior movimento, atraindo cerca de 50 mil compradores e vendedores.
“RED TERROR” MARTYRS MEMORIAL MUSEUM
Inaugurado em 2010, presta homenagem à memória das vítimas do chamado “Terror Vermelho” – período entre 1977 e 1978, quando a junta militar do governo de Mengistu Haile Mariam se opôs violentamente contra os opositores do regime. Além da exposição, o museu também realiza pesquisa histórica para identificar os restos mortais encontrados em valas comuns. Há visitas gratuitas com guias falando inglês, sendo que alguns deles foram prisioneiros políticos que sobreviveram.
MUSEU ETNOGRÁFICO
Dentro do campus da Universidade de Adis Abeba, está em um antigo palácio do imperador Selassie. Seu acervo de 13 mil itens inclui utensílios domésticos e outros materiais utilizados por etnias etíopes. Os aposentos do casal imperial estão abertos à visitação.
MUSEU DE ADIS ABEBA
Instalado em uma antiga residência real, guarda importante coleção de roupas de cerimoniais antigos, documentos, fotos e artefatos. Enfoca a história arquitetônica da capital, assim como a sua vida social, cultural e política.
CAFÉ MUNDIALMENTE FAMOSO
Se você gosta de um bom café a Etiópia é o lugar certo. Considerado um dos melhores do mundo, o café etíope será melhor apreciado durante uma tradicional cerimônia onde é preparado e servido por uma mulher em trajes típicos e vem acompanhado por uma vasilha com pipocas e um pratinho com incenso. O ritual dura aproximadamente 15 minutos. Forte e aromático, o café deixa uma borra no fundo da xícara, que, aliás, não tem alça.
Como chegar
A Ethiopian Airlines oferece voos diários e diretos entre São Paulo e Adis Abeba. Todos com o moderno Boeing 787-8 Dreamliner em um voo de aproximadamente 11 horas.
Onde ficar
Adis Abeba tem hotéis que atendem a todos os bolsos – dos luxuosos aos econômicos.
Onde comer
O prato mais popular do país é o Injera, uma espécie de panqueca com consistência esponjosa para ser comida com as mãos. Preparado à base de farinha e de teff, um grão rico em proteínas e minerais, é fermentada em água durante três dias antes de ser assada sobre uma placa de barro. Aberta no prato, recebe o wat (legumes, carnes e grãos). É saborosa, mas bastante apimentada. Para beber peça uma cerveja local, a popular São Jorge. Se preferir algo mais forte prove o Tej, um vinho de mel aromatizado com folhas em pó e galhos de gesho, uma espécie de espinheiro.
Restaurante Lucy – Funciona no pátio do Museu Nacional.
Yod Abyssinia – Restaurante e casa de show com bufê de comidas típicas.
Makush Gallery – Dentro de uma galeria
Texto por: Roberto Maia. O jornalista viajou a convite da Ethiopian Airlines e contou com a proteção do seguro-viagem Global
Travel Assistance – GTA.
Foto destaque por IStock/ CanY71