Você certamente já deve ter ouvido: “Visitar Cuba é voltar no tempo.” De fato, os carros da década de 1950 circulam por Havana em meio a construções antigas e decadentes. Palácios do século 18 continuam de pé e chamam atenção assim como os inúmeros desenhos e grafites com os rostos de Fidel Castro e Che Guevara, que decoram a capital. Mas diante da imagem característica de Cuba há algo diferente…
Entre as vielas da capital cubana, pubs moderninhos começam a se espalhar e pasmem, já é possível até encontrar uma loja da Adidas. O El Chanchullero, por exemplo, é um bar com garçons tatuados que serve o tradicional mojito. Aliás, o lugar chega até a fazer piada com os turísticos El Floridita e La Bodeguita del Medio. Em uma placa é possível ler: “Hemingway nunca esteve aqui.” A brincadeira é porque os dois famosos bares eram os preferidos do escritor americano Ernest Hemingway, que morou na ilha por 20 anos.
O mesmo acontece com o restaurante Máximo, em Havana Vieja. A casa, comandada por dois sócios, um cubano e outro italiano, é especializada em gastronomia contemporânea. Enquanto você aguarda uma pizza, escuta grandes sucessos de rock, hip hop e pop. O som passa longe da salsa cubana!
Outro exemplo é a boate Submarino Amarillo, localizada no bairro deslocado de Vedado. O lugar atrai fãs de Beatles e rock em geral. No palco, o vocalista grita o refrão de Sweet Child O’ Mine, do grupo Guns N’Roses, rodeado por cubanos motoqueiros vestidos de preto.
Ali pertinho está também a Fábrica de Arte Cubano, um imenso galpão de arte contemporânea (antigamente funcionava ali uma fábrica de azeite). No local rola sessão de cinema, apresentação de bandas, dança, peças de teatro, exposições de fotografia, moda, entre outros. A FAC, como é conhecida, é disputada por cubanos e turistas.
Conexão na ilha
A vida em Havana, porém, ainda não tem a pressa e nem o estresse típico das grandes metrópolis. Ainda bem! Você não corre o risco de trombar com alguém porque se distraiu com o celular. A internet é novidade no país! Há dois anos, o governo passou a espalhar pontos públicos de wi-fi por Havana. Já são cerca de 240 em praças, parques e hóteis. Para acessar é preciso comprar um cartão nas lojas Etecsa (1 hora por 1 CUC), raspar um código e conectar. A fila para conseguir o tal cartão é grande… e você precisa achar o ponto certo para conseguir sinal.
A Plaza de Armas é um dos principais points dos internautas. A qualquer hora que você passe por lá, turistas e cubanos estão tentando acessar a internet, que ainda funciona na velocidade de uma tartaruga.
O que para uns pode ser desesperador, para outros, é libertador. Assim é possível aproveitar muito mais do que o país tem a oferecer. Dentro da transformação silenciosa de Havana, ainda restam os programas tradicionais como caminhar pelo Paseo del Prado e assistir ao pôr do sol na orla de Malécon, o calçadão de sete quilômetros que é o retrato da capital.
O que ver
Havana Vieja está passando por uma reforma geral de preservação, mas os grandes pontos turísticos continuam intactos. O que vale ver na cidade? Não deixe de visitar o Castillo de la Real Fuerza, um prédio de 1577 construído para fazer a defesa da cidade, o Museu da Revolução – antigo palácio presidencial que conta toda a história cubana, e o Capitólio Nacional, construído em 1926, época em que a influência americana na ilha era muito grande. Hoje o Capitólio é a sede da Biblioteca Nacional e Academia Cubana de Ciências, mas não está aberta a visitações. Ele está fechado há anos por conta de uma obra interminável.
Inclua no roteiro ainda o Museu Nacional de Belas Artes, que expõe obras desde o período colonial até o contemporâneo. Ali estão os principais nomes da arte cubana, como o modernista José Manuel Acosta (1895-1973). O Hotel Nacional de Cuba (praticamente o nosso Copacabana Palace) também vale a visita. O lugar, construído em 1930, já recebeu celebridades como Frank Sinatra e Walt Disney, e conta com tour diário e um mirante.
O que comer
Os restaurantes moderninhos existem sim, mas não ganham dos populares paladares. Um dos mais disputados é o Los Nardos, que fica em frente ao Capitólio. As filas chegam a 40 minutos, mas a espera vale a pena! O Los Mercaderes é outra opção, assim como o La Guarida, que apareceu no filme “Morango e Chocolate”, mas de tão famoso, ficou caro e precisa de reserva.
Texto por: Renata Telles, jornalista e criadora do blog @elaqueamaviajar
Foto destaque por Istock/ MaboHH