O Brasil está envelhecendo. A afirmação é uma constatação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que projeta que, para 2060, 32% do total da população brasileira terá 60 anos, ou mais. Muitos são os fatores que indicam esse envelhecimento natural do país. Aumento da expectativa de vida e diminuição da taxa de natalidade são dois deles.
Até 1980, ao analisar a idade média de brasileiros, o gráfico apresentava um aspecto de pirâmide, que revelava uma população jovem muito maior do que a de idosos. No gráfico atual, as faixas etárias de 25 a 54 anos já tem maior representatividade, e isso impacta também na força de trabalho que o país tem à disposição.
Afinal, estamos preparados para empregar gerações tão diferentes?
A questão perpassa por essa reflexão, mas também vai além. As empresas estão considerando a contratação de capital humano acima dos 45 anos? As duas perguntas parecem falar de universos opostos, mas na verdade referem-se a um ambiente de trabalho rotineiro e atual.
Se por um lado, temos jovens de 20 a 25 anos com pouca experiência e, devido a isso com pouco oportunidade de atuar no mercado de trabalho. Por outro, temos um profissional mais maduro com conhecimento, bagagem, expertise e disposição para preencher espaços que as empresas não lhe dão devido à idade.
Com um pouco mais de frequência e, até mesmo felicidade e expectativa, tenho ouvido relatos de empresas que começam a entender esse jogo e contratam profissionais acima dos 50 anos, ao passo que oferecem ao jovem entrante, a oportunidade de aprender, desenvolver e aprimorar-se no mercado de trabalho.
Na nossa indústria do turismo e também na de feiras e eventos, a realidade não é diferente. E aqui, voltamos à primeira pergunta: Estamos preparados para empregar e gerir pessoas de gerações tão diferentes?
Deveríamos! A pluralidade das gerações precisa ser vista, cada vez mais, com naturalidade e com oportunidades. As cabeças pensantes diferentes, as vivências de cada um e a forma de enxergar e se posicionar no mundo nos tira do lugar comum e nos provoca a melhorar processos e, até mesmo, humanizar relações.
Mais do que uma reflexão sobre as diferentes gerações, o mercado precisa olhar, entender e absorver a mão de obra de diferentes perfis. A presença da comunidade LGBTQ+, raças diferentes, credos diversos convivendo dentro de um mesmo ambiente, entre outros fatores, geram, – assim como a multidisciplinaridade em grupos de trabalho -, soluções e inovações para o mercado com possibilidades diferenciadas e com vertentes que conversam e convergem com a evolução do mercado e comportamento das pessoas.
O estudo Delivering Trought Diversity, realizado em 12 países e apresentado pela consultoria McKinsey and Co. sobre diversidade, trouxe insights valiosos para essa discussão. Das cerca de 1.000 empresas globais analisadas, as companhias que apresentavam maior diversidade de perfis eram também mais lucrativas.
Empresas multinacionais conseguem ter mais clareza na definição de políticas de inclusão e o mercado brasileiro precisa olhar para essa questão da pluralidade e da diversidade com atenção.
A indústria do turismo e a de feiras e eventos, nas quais eu como profissional me insiro, devem ter o compromisso de desenvolver políticas de inclusão para essa miscigenação de gerações ou mesmo, torna-las tão naturais onde a política seja apenas um lembrete daquilo que parece ser o certo a fazer.
O mercado americano já tem leis que se fazem cumprir. E por isso, estão mais maduros no que diz respeito à contratação de pessoas acima dos 50 anos. Outros países como Singapura, por exemplo, onde a pirâmide já está invertida também se adaptou a essa demanda.
Unir a experiência de pessoas que conhecem os gargalos das indústrias e as dores do mercado, com a oxigenação de ideias e gerações que chegam no setor com fôlego de sobra para renovar, aprender e, principalmente amadurecer enquanto profissionais, gera uma referência positiva para a continuidade do mercado e das boas práticas realizadas.
Sabemos da força e potencial do turismo e do segmento de feiras e eventos para o país. São milhões de empregos gerados direta e indiretamente, economia fervilhante e uma capacidade de adaptação às novas demandas e novos tempos impecável.
Jogar luz à questão da diversidade e os ganhos reais que se pode ter com essa ação é um diferencial que trará ainda mais competividade e responsabilidade social para essa cadeia. Vale a reflexão e, principalmente o benchmarking em empresas e países que já tem esse comprometimento para fazermos o mercado de trabalho cada vez mais plural. Uma dica, na Reed Exhibitions, já temos essa atuação mais cuidadosa e transparente.
*Artigo por: Luciane Leite, diretora da WTM Latin America, principal evento B2B do turismo na América Latina
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