Uma viagem para Índia desperta reações intensas e carregadas de emoções nos viajantes. Este país de cultura milenar, é sem dúvida um destino para ser desvendado aos poucos, como uma iguaria rara e de sabores intensos!
Desembarquei pela primeira vez em Nova Deli em 1993. Mesmo depois de todos estes anos viajando por diversos países, posso dizer que a Índia não é um país para viajantes amadores. O melhor da Índia está do lado de fora da janelinha de uma Van que transporta turistas. É no cotidiano das ruas e nas particularidades desta cultura que sua magia nos encanta.
Quem esta planejando esta viagem, deve se informar sobre as particularidades desta cultura. Assim, fará muito melhor proveito de tudo que a Índia tem a oferecer. São muitos detalhes, cores, cheiros e costumes que não irão passar desapercebidos do viajante. Confira aqui algumas das principais curiosidades que serão importantes para enriquecer sua experiência.
Hinduísmo e seus Deuses
Com uma tradição milenar, o hinduísmo é uma das mais antigas de todas as religiões. Os hindus mantêm muitas crenças distintas, mas todas são baseadas na ideia de que nossa vida na terra é parte de um ciclo eterno de nascimentos, mortes e renascimentos. Toda pessoa renasce – ou reencarna – cada vez que morre. Contudo, se levar uma vida voltada para o bem, uma pessoa pode por fim conseguir libertar-se desse ciclo.
Hoje, há mais de 745 milhões de hindus no mundo, a maioria dos quais vive no subcontinente indiano – número que ainda está aumentando, principalmente devido ao constante crescimento da população da Índia. Muitos hindus são vegetarianos, por causa de sua crença na reencarnação e da convicção de que todos os seres vivos são partes do mesmo espírito. Eles acreditam que animais e seres humanos devem ser tratados com igual respeito e reverência.
Entre os muitos deuses e deusas hinduístas, três figuras principais se destacam: Brahma (o Criador), Shiva (o Destruidor) e Vishnu (o Protetor). Estes três deuses são conhecidos como o Trimurti.
Vishnu, Shiva e Brahma
- Vishnu: Conhecido como protetor e preservador, Vishnu representa a força criadora que une todo o universo e possibilita a luz e a vida. O culto a Vishnu é muito popular. Ele incorpora o amor divino e controla o destino humano. É reconhecível pela sua cor azul escura e pelos quatro braços, que sugerem dar a ele o poder de alcançar os quatro cantos do universo.
- Shiva: Shiva, que significa auspicioso, é o Deus dos iogues e da meditação. Ele participa da trimurti hindu como o destruidor. Esta destruição, porém, é vista como ato criativo que gera o novo, e por isso é também chamado de transformador. Desta forma paradoxal, ele contém em si o poder da destruição e da criação, o que o torna ao mesmo tempo atraente e terrível. Destrói o que foi criado e preservado, para que Brahma possa então criá-lo novamente.
- Brahma: Nascido de uma flor de lótus que florescia no umbigo de Vishnu, Brahma é o Criador, que constrói o universo novamente a cada ciclo do mundo. Embora membro principal do Trimurti, não é venerado com freqüência de modo independente. Como Vishnu e Shiva representam forças opostas, Brahma é o equilíbrio.
Ganesha
Além de Vishnu, Shiva e Brahma, um dos mais populares e mais adorados deuses é Ganesha. Você o reconhecerá facilmente. Filho de Shiva e Parvati, ele tem um corpo semelhante ao dos humanos, mas a sua cabeça é a de um elefante. Imagens de Ganesha estão espalhadas por toda a parte, mais do que qualquer outra divindade do panteão hindu. É fácil entender o motivo desta preferência dos indianos: Ganesha é o deus da prosperidade e atrai boa sorte.
Na mitologia hindu, Ganesha “ganha” a cabeça de elefante a pedido de sua mãe Parvati. Isso porque Shiva, ao retornar de viagem depois de muito tempo, confunde o filho com um suposto amante e decepa lhe a cabeça!
Curiosidades de uma viagem para Índia
- O primeiro sermão de Buda: Buda nasceu príncipe com o nome de Sidharta, na região onde fica hoje o Nepal. Recebeu a iluminação divina aos 35 anos em Bodh Gaya, no norte da Índia. Mas o seu primeiro sermão foi feito em Sarnath, a 10 quilômetros de Varanasi. No lugar, existem monumentos em sua homenagem, como a Stupa Dhamekh, construída cerca de 200 anos antes da Era Cristã e, ao redor da qual, os budistas rezam andando no sentido horário. Buda morreu aos 80 anos também na Índia, em Kushinagar. Muitos hindus acreditam que ele seria, na verdade, uma das encarnações de Vishnu. Há 6,6 milhões de budistas na Índia hoje.
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Um velho segredo: Os encantadores de serpente não encantam bicho nenhum. As cobras saem do cesto por um motivo bem trivial: elas ficam irritadas com o som melodioso da been – a flauta feita de cabaça seca. A grande arte dos encantadores, na realidade é conseguir localizar o ninho das najas, aprisiona-las e, se não bastasse, retirar o poderoso veneno das víboras. Mas esse segredo milenar eles só compartilham entre si.
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Erotismo milenar: A cidade de Khajuraho possui templos repletos de esculturas eróticas. Ainda hoje essas figuras são provocantes e suscitam a questão: por que foram esculpidas praticando sexo explícito? A resposta: a dinastia de Chandela era adepta do tantra, doutrina que credita ao erotismo a expressão máxima do universo.
- Vaca sagrada: A vaca é um símbolo antigo da mãe terra e da fertilidade do solo. É sagrada no hinduísmo: mesmo o ato de alimentar uma vaca é visto como uma espécie de veneração. Essa reverência pela vaca reflete o respeito hindu por todos os animais. A maioria dos hindus é vegetariana.
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Macaco também é sagrado: A vaca não é o único animal sagrado na Índia. Também os macacos têm esta regalia. O motivo desta distinção é compreensível. Quando Vishnu encarnava como Krishna, eram as vacas que o ajudavam. Mas quando vinha ao mundo como Rama, esse papel cabia aos símios. Daí a proliferação dos macacos por cidades como Jaipur, onde perambulam pelos telhados e até pelas varandas das casas.
- Para uma platéia especial: O Hawa Mahal, ou Palácio dos Ventos, fica no centro de Jaipur. Sem dúvida, é uma das grandes atrações da Cidade Rosa, além de um símbolo do lugar. Ele foi erguido em 1799 e tem 953 nichos e janelas, trabalhados com minúcias arquitetônicas. Os últimos dois andares são só fachada. Era ali que as mulheres dos marajás assistiam a desfiles e espetáculos, sem serem observadas pelos espectadores comuns.
- As marionetes de madeira: Katputali quer dizer, ao pé da letra, marionete de madeira. Você os encontrará por toda a Índia, especialmente em Nova Délhi e no Rajastão. Eles são uma tradição do teatro popular, narrando a saga dos marajás e suas mulheres. Muitos revelam um delicado trabalho artesanal. Boas peças custam cerca de U$20.
- Meditação Integral: É fácil reconhece-los. Eles andam seminus, têm o corpo coberto por pó, sentam-se em posição de lótus e usam longos cabelos e barbas. São os Sadhus, homens que abandonaram família, emprego e posição social para dedicar seus dias à meditação. Eles perambulam por todo o país, cobrindo longas distâncias a pé, mas é mais fácil encontra-los meditando à beira do Rio Ganges, em Varanasi.
- A elegância do Sari: As mulheres da religião hindu vestem o sari. Esse traje não tem botões, zíperes ou nada parecido. É apenas um tecido estreito e comprido, geralmente com cinco metros por 40 centímetros. É difícil entender como um pano sem costuras cai tão bem no corpo. Para as ocidentais, no entanto, é um traje tão difícil de vestir quanto é para um velho hindu dar o nó numa gravata.
Estas são apenas algumas das principais curiosidades desta cultura tão rica e diversificada. Existem muitas outras peculiaridades e minha recomendação é que o viajante se informe e pesquise bastante sobre o país, antes de seguir viagem. Uma viagem para Índia é uma overdose para os sentidos. Uma dica para quem pode investir um pouco mais é embarcar em um roteiro com acompanhamento de um guia brasileiro. Certamente ele fará grande diferença na qualidade de sua experiência pelo país e enriquecerá muito sua viagem.
Fotos: Marcelo Guimarães e Paula Bilenky
Texto: Jota Marincek, sócio fundador em Venturas Viagens.