Mesmo para quem já conhece bem é difícil explicar a Alemanha. Talvez seja o país com história mais marcante dentro da Europa. Devastada por guerras, sempre soube se reconstruir e ressurgir ainda mais forte, bonita e atraente. Uma boa definição seria dizer que é um destino de múltiplos contrastes, mas acho que ainda ficaria aquém. Afinal, a modernidade convive com o passado medieval, a tecnologia de ponta dá ênfase à música clássica, e as grandes metrópoles convivem harmoniosamente com pequenos e encantadores vilarejos. Envolvendo tudo isso, existe um roteiro turístico chamado Cidades Mágicas que passa por dez cidades: Munique, Stuttgart, Hamburgo, Dusseldorf, Frankfurt, Colônia, Nurembergue, Hanover, Dresden e Leipzig. Sem dúvida uma atração irresistível.
Qual Viagem percorreu seis dessas cidades em oito dias de viagem. Infelizmente, o tempo foi curto para tantas atrações. Cada uma delas tem atrativos especiais que cativam os visitantes, seja pelos olhos, pela boca ou pelo coração. Vamos juntos nessa viagem mágica!
Escolhemos como porta de entrada para as Cidades Mágicas a bela Munique, capital do estado da Baviera, no Sudeste do país. Apesar de ser primavera, o frio foi bastante rigoroso enquanto estivemos por lá e a temperatura não passou dos 8 graus. Metrópole de fama mundial, moderna, charmosa e descontraída, a cidade é conhecida pelo estilo de vida tranquilo dos seus moradores. E esse estilo pode ser verificado nos muitos Biergarten, espalhados pela cidade. Neles, um público heterogêneo aproveita a vida a sombras das castanheiras e saboreando as muitas cervejas produzidas na região.
Comece o tour pelo coração de Munique, a Marienplatz, uma das praças mais bonitas da Alemanha. Nela estão a antiga (Altes) e a nova prefeitura (Neues Rathaus), onde, durante os meses de verão, o carrilhão toca diariamente às 11h, 12h e 17h, a chamada Dança dos Toneleiros. Neste momento a praça fica lotada de turistas. Impossível não parar para admirar.
Junto à Marienplatz estão também dois outros ícones da cidade, a catedral Frauenkirche (Nossa Senhora Bendita, em português) com as cúpulas verdes das suas torres, que podem ser avistadas de longe; e a famosa cervejaria Hofbräuhaus. A catedral gótica começou a ser construída em 1468 e concluída em 1525, e tem como peculiaridade uma marca no chão que é chamada de “a pegada do diabo” que dá margem a muitas histórias.
Suas duas torres podem ser avistadas de quase toda a região central. Se tiver bom preparo físico e fôlego é possível subir até um mirante no alto das torres, de onde tem-se uma vista panorâmica de toda a cidade e até os alpes se estiver um dia claro. Já a Hofbräuhaus – ou simplesmente HB – é a mais famosa e conhecida cervejaria da Baviera. Ela foi fundada em 1589 pelo duque William V da Baviera somente para não ter que comprar cerveja da Baixa Saxônia. Foi de uso exclusivo do duque até1828, quando passou a ser aberta ao público. Em 1897, mudou-se para o subúrbio da cidade e durante a II Guerra Mundial foi totalmente destruída em um bombardeio. Patrimônio de Munique, foi reconstruída em 1958.
Embora esteja sempre lotada tem muitos lugares e é possível encontrar uma mesa. No cardápio estão pratos bávaros típicos, como joelho e lombo de porco, além de vários tipos de salsichas – incluindo, claro, a Weisswurst (salsicha branca). Aliás, essa salsicha de sabor suave e delicado é típica da cidade e contam que no passado ela era preparada ao amanhecer e consumida até as 12h.
Produzida à base de carne de vitela, carne de porco e especiarias, é apenas fervida em água e servida acompanhada por pretzel (pão tradicional alemão, em forma de nó, seco e salgado), “brezn” (mostarda adocicada) e cerveja. A cerveja mais tradicional é a Helles, servida em um caneco conhecido como Mass. É servida junto com uma cerveja de trigo e com vinho. Uma bandinha típica anima o ambiente ao longo de todo o dia e da noite.
SURFE NO RIO E JARDINS
Mas, olho no relógio, caso contrário você esquecerá o tempo e certamente passará horas comendo e bebendo na HB. Bem próximo está outra atração local. O charmoso mercado Viktualienmarkt. O lugar é uma verdadeira festa para os sentidos. Tem de tudo, inclusive muitos quiosques com iguarias típicas (carne de cavalo é uma delas) e, claro, cerveja. Agora, cabe uma dica, não tente pechinchar nos preços pois irá ofender os comerciantes. Essa prática tão comum em outros lugares não faz parte do estilo de viver em Munique.
Já que estamos falando em um local de compras, aproveito para informar que a cidade tem vários outros points de comércio. De áreas nobres como a Ludwigstraße, Maximilianstraße e Kaufinger Straße, até bairros da moda como Schwabing com as praças Glockenbachplatz e Gärtnerplatz e a rua Müllerstraße, repletas de lojas alternativa, baladas e redutos LGBT.
Não deixe de visitar o Englischer Garten, o parque é considerado o principal destino de lazer da cidade. Uma das suas principais atrações é observar – ou praticar – o surfe no Eisbach – um braço artificial do Rio Isar. Surfistas se divertiam clandestinamente deste os anos 1970, mas desde 2010 passou a ser permitido oficialmente pelas autoridades locais. E a brincadeira acontece inclusive durante os meses de inverno em suas águas gélidas. Mas, atenção, placas alertam que só os surfistas experientes devem tentar e usar capacetes.
Como não poderia ser diferente, o parque tem duas Biergarten, sendo uma junto à Chinesischer Turm (Torre Chinesa) e outra às margens do lago.
Falando em jardins, outro muito bonito está no interior do Palácio de Nymphenburg. Construído em estilo barroco, foi inaugurado em 1703 para servir de residência de verão aos governantes da Baviera. Diferentemente de outros palácios este está localizado dentro da cidade e é facilmente acessado através do transporte público. Ele está ao redor de um canal que congela durante o inverno e é muito procurado para patinação. Os jardins são abertos para visitação gratuita do público. Quem quiser visitar o interior do palácio terá que pagar ingresso.
MUSEU DA BMW E A OKTOBERFEST
Como as maiores cidades do mundo, Munique também reúne alguns renomados museus. Entre eles os Deutsches Museum, o maior museu de tecnologia e ciências naturais do mundo; Staatliche Antikensammlungen; Museu Brandhorst com seu fantástico acervo de arte moderna a partir de 1945; as pinacotecas Alte e Neue Pinakothek, Pinakothek der Moderne; Lenbachhaus; Glyptothek, que reúne obras da Antiguidade no seu acervo; e o Kunstareal München, museu de arte com simpáticos barzinhos, cafés aconchegantes e lojas agradáveis. Mas um dos mais visitados é o Museu da BMW (bmw-welt.com), espaço dedicado à cultura automobilística e à história da montadora.
Instalado em um edifício que custou mais de 500 milhões de euros, o museu reúne muitos carros e motos que povoam o imaginário dos aficionados. O acervo tem desde os primeiros veículos desenvolvidos pela marca até os protótipos que beiram obras de ficção. Chama atenção, principalmente dos visitantes brasileiros, um espaço dedicado ao piloto Nelson Piquet, bicampeão mundial de Fórmula 1 pilotando carros com motores BMW. Já uma área chamada BMW Welt mostra o desenvolvimento técnico da empresa ao longo de sua história. Os tours guiados são realizados a cada 1h30 e são em alemão e inglês. Porém, pode ser também em português, mas desde que solicitado com antecedência de alguns dias.
Em frente ao complexo da BMW está uma outra primorosa obra arquitetônica de Munique, o Parque Olímpico construído para os Jogos Olímpicos de 1972. A cobertura da arena que imita uma barraca é referência e considerado um milagre tecnológico para a época. Até hoje, após mais de 40 anos, ainda sedia grande número de eventos esportivos e concertos, além de atrair muita gente em busca de lazer e diversão ao ar livre.
Mas Munique não é conhecida e exaltada mundialmente apenas por todos esses inquestionáveis atributos. Uma festa realizada desde 1810 atrai visitantes de todas as partes. É a Oktoberfest, que anualmente entre os meses de setembro e outubro, recebe 6 milhões de visitantes, que consomem mais de 6 milhões de litros de cerveja. Originariamente a festa surgiu para comemorar um casamento na monarquia, mas o que ninguém imaginava que um dia ela se tornaria sinônimo de festa popular. Realizada em uma área chamada Theresienwiese, oferece além da cerveja tirada na hora e comidas típicas, muitas brincadeiras e apresentações de músicas folclóricas.
Nos arredores da cidade estão cidadezinhas medievais com castelos magnificentes, pitorescos vilarejos e igrejas barrocas, conventos e fortalezas imponentes, florestas místicas e alpes cobertos de neve. A Baviera guarda mais de 100 mil monumentos arquitetônicos, cerca de 1,2 mil museus e coleções de arte, além de 40 teatros e casas de ópera.
Se estiver com tempo vale uma visita ao famoso castelo de Neuschwanstein, construído na segunda metade do século 19 para o rei Ludovico II. Ele está localizado perto das cidades de Hohenschwangau e Füssen, próximo da fronteira com a Áustria; e a Wieskirche, patrimônio mundial da Unesco a 5 km de Steingaden, que ganhou fama mundial por abrigar uma imagem do Cristo Flagelado que supostamente derramava lágrimas. Se conseguir, tente comprar ingresso para assistir a um jogo do FC Bayern e sua constelação de estrelas comandadas por Pep Guardiola. Além do jogo em si, vale para conhecer a Allianz Arena, maior destaque da Copa do Mundo de 2006 realizada na Alemanha. A casca e a cobertura da arena são compostas por milhares de bolsas de ar em losango, que, em dias de jogos, brilham nas cores dos dois times da cidade, o FC Bayern e o TSV 1860. Sem dúvidas um dos estádios mais bonitos do mundo. No local também funciona um museu que narra a história do clube e suas conquistas, o Trophies and Triumphs (fcb-erlebniswelt.de).
Como chegar
Apenas as empresas aéreas Lufthansa, Latam e Condor realizam voos diretos entre o Brasil e a Alemanha. Outra opção é utilizar os serviços de companhias que voam para as principais capitais da Europa e realizar um voo de conexão.
Onde comer
Onde ficar
Texto por: Roberto Maia
Foto destaque por Istock/ f9photos
Veja o roteiro completo pelas Cidades Mágicas da Alemanha na nossa edição digital de maio!