Bastou meio século de história para Monte Sião ganhar o título de Capital Nacional do Tricô. E pensar que os primeiros trabalhos manuais feitos à mão eram roupas de bebê vendidas a turistas hospedados que se hospedavam na vizinha Águas de Lindóia. E que a as janelas serviam de apoio para se exibir as primeiras peças de tricô aos compradores.
As primeiras máquinas manuais Lanofix vieram pouco tempo depois. 10 anos mais tarde já surgia a primeira fábrica, aberta com o empurrãozinho do padre. “Eles montaram uma parceria entre paróquia e uma senhora, e então, todo mundo começou também a comprar essas máquinas”, lembra João Tadeu Dorta Machado, presidente da ACIMS (Associação Comercial e Industrial de Monte Sião).
Quem visita a 39º Fenat, dificilmente imaginaria que a primeira feira foi montada de improviso na praça da cidade. Por detrás das 1.200 empresas de tricô, entre fábricas e lojas, estão histórias tecidas pelo tempo. Como em 92, quando Collor resolveu reduziu a carga de impostos para importação, fato que favoreceu a chegada de máquinas de tricô mais modernas e produtivas. Tadeu lembra que nessa época a indústria de fiação brasileira também passou a se preocupar mais com qualidade dos fios.
A produção de tricô em Monte Sião atingiu seu auge em 2001. “Foi a época que mais crescemos em termos de parque industrial. No aspecto sócio-econômico teve muita gente que vendeu o próprio sítio para comprar uma máquina e começar a trabalhar na cidade”, lembra.
Curiosamente todas as máquinas foram adquiridas sem financiamento bancário, ou seja, pagava-se uma pequena entrada para a empresa e o restante era saldado em cinco anos, com a própria produção. Em 30 dias a máquina chegava do exterior.
Em apenas três anos (de 99 a 2001) foram injetados cerca 70 milhões de dólares na renovação das indústrias de Monte Sião. “A história de que houve quem vendesse a carroça para dar entrada numa máquina era verdade sim”, conta Tadeu. “O negócio era uma mina de dinheiro”, complementa. Tanto, que em 2001 havia cerca de18 mil habitantes e 12 mil veículos registrados na cidade. “Se for ver, hoje, não tem nem desemprego”, arrisca o presidente da ACIMS.
Males que vem para ajuste
Em 2004 e 2005, a superprodução de roupas tricô fez o preço cair. A indústria também passou a sofrer concorrência da China no setor. Todas as dificuldades dessa etapa resultaram em uma nova estratégia de sobrevivência: a busca de tendências do mercado internacional da moda e a racionalização de preços. Tadeu afirma que a margem de lucro dos fabricantes caiu para, no máximo, 30%. A estratégia parece ter dado certo. Embora a informalidade dificulte dados mais precisos, a ACIMS estima que a produção de peças na cidade alcance 25 milhões de unidades por ano, a preço médio de R$25,00.
Preço e qualidade atraem milhares de pessoas de toda parte do país durante os seis meses menos quentes do ano. É o que confirma o Chefe de Gestão e Planejamento da cidade, Paulo César Paroli Santos. “Acreditamos que a cidade receba de 350 mil a 380 mil turistas durante temporada de inverno”. Para aumentar os rendimentos durante a baixa temporada, muitas fábricas já passaram produzir peças de verão.
A produção para atacadistas caiu 80% nos últimos seis anos. Tadeu conta ter havido uma fábrica no município que produzia cerca de 450 mil peças por ano para a C&A, porém, no ano passado, a atacadista comprou apenas 120 mil. Para redes atacadistas do sul, como Pernambucanas, Renner, Marisa e outras do norte, a queda de fornecimento, em média, foi de 70%, comenta Tadeu. Embora a informalidade não permita números mais precisos, as vendas caíram 30% nos últimos dois anos, mas a queda já foi recuperada em 2014. As vitrines estão modernas, coloridas e com preços competitivos.
Falta de padrão dificultou abertura de novos mercados
O comércio local também tem procurado abrir novos mercados em outros estados brasileiros. Já houve tentativa no passado de exportar para grandes redes no exterior, mas a dificuldade veio justamente do alto volume de pedidos. “Nós tivemos uma sondagem da Zara em Las Vegas de 120 mil peças, mas não tínhamos a segurança de produzir um padrão utilizando 10 máquinas de origens diferentes. Uma malharia só não consegue, pois para uma blusa não muito detalhada se pode produzir até 1.500 peças por mês. Então precisaríamos de várias malharias, mas máquinas diferentes impediram de atender ao pedido. Certas políticas lá fora para pequenos grupos exportadores, às vezes não funciona”, conclui Tadeu.
Hoje a Fenat, em sua 39º edição, alcança o faturamento de 45 milhões de Reais por evento. As 50 lojas participantes vendem em torno de 145 mil peças.
Em Monte Sião, o tempo prova que o potencial de um grande negócio não se mede pelo tamanho que se começa.