Monte Verde, no sul de Minas Gerais é objeto de desejo dos casais românticos e principalmente das pessoas que gostam de aproveitar dias frios. Há exatamente 2 anos atrás, num artigo que publiquei na minha coluna do Jornal Hoje em Dia, um dos mais importantes de Minas Gerais, eu já alertava a dependência do Distrito de Monte Verde dos dias frios.
Mais de 48% da população mundial vive em áreas urbanas e estima-se que em 2030, cerca de 61% da população viverá em ambiente urbano. Esta projeção exige que nosso olhar esteja ainda mais atento às cidades, sobretudo quando o assunto é o planejamento de destinos turísticos. Infelizmente o ambiente urbano é ainda o que mais atrai turistas e, por consequência, muito há, a saber, sobre como os efeitos negativos do turismo podem afetar um destino. Assim sendo, o que vem a ser uma cidade?
O Brasil possui a designação de município para a menor unidade político administrativa que, não necessariamente, corresponde ao limite da cidade, já que este também agrega, muitas vezes, ambientes rurais.
Algumas cidades turísticas que estão dando certo, principalmente do ponto de vista de investimento turístico e qualidade urbana: Socorro e Brotas, ambas localizadas no interior paulista, têm conseguido oferecer ao visitante condições de ter no Turismo Ecológico e de Aventura boas experiências e, ao mesmo tempo, essas cidades conseguem oferecer ao seu morador condições boas de infraestrutura e serviços. Saneamento básico, policiamento, escolas de qualidade e, principalmente, segurança pública. Contam ainda com bons acessos, rodovias bem planejadas e bons serviços de hotelaria, hospitalidade e gastronomia aos visitantes. No Mato Grosso do Sul, Bonito tem um calendário de eventos sólido, assim como Gramado e Canela na Serra Gaúcha.
Podemos citar um destino que cresceu assustadoramente, principalmente na última década, em termos de novos meios de hospedagem, mas ano a ano vem perdendo qualidade na relação política com o turismo: Monte Verde, localizada no sul de Minas Gerais. Lá pode-se tomar bons vinhos, degustar excelentes chocolates ou simplesmente se deliciar com as banheiras de hidromassagem que a maioria das pousadas e hotéis oferece. O grande problema está no planejamento turístico desse importante distrito de Camanducaia.

Natureza de Monte Verde. Foto por: Eliria Buso
No ano passado a cidade reelegeu o seu prefeito que, por consequência, não mexeu na estrutura do turismo local. Foi mantido o secretário de turismo, bem como seus assessores diretos. Várias obras que foram iniciadas antes das ultimas eleições ainda não foram concluídas. Nos principais eventos de turismo, tanto nacional como regional, é inexistente a presença de Monte Verde nos estandes e nas rodas de negócio e, portanto, o trade turístico local vive de anúncios do Google e de campanhas solitárias para abocanhar os hóspedes que se interessam em passar noites de frio, comendo excelentes fondues, bebendo bons vinhos, comendo as deliciosas trutas e passeando a pé pela avenida principal da cidade, comprando queijos, doces e geleias.
Se faz calor, a procura pela cidade fica às minguas e os hotéis acabam praticando tarifas ridículas. Se faz frio, as diárias explodem, os turistas pagam caro porque desejam ter a sensação de estar na Suíça Brasileira. O grande problema é essa gangorra maldita, que sobe e desce que cria uma imagem distorcida do destino. Como nesse ano o verão, que termina amanhã, foi um dos mais quentes da história, a temporada causou prejuízos terríveis à hotelaria de Monte Verde e aos restaurantes também. Por diversas semanas, desde as festas de final de ano, a cidade amargou finais de semana com taxa de ocupação da ordem de 32% e durante a semana houveram períodos de 11%. Isso não paga nem a água e nem a luz e restam aos empreendimentos fechar as portas de maneira temporária ou demitirem colaboradores.
Aí eu me pergunt:, onde está o papel da Secretaria de Turismo? Qual a ajuda para os empresários? Vão esperar maio, junho e julho pelo frio que virá, mas de maneira rigorosa em poucas semanas. Não existe planejamento, não existe trabalho, não existe ação de marketing, não existe profissionalismo.
O que ocorre é que os políticos locais não têm nenhum planejamento turístico definido. O poder público faz uma administração distante do distrito, pois o colégio eleitoral em Monte Verde representa menos de 30% da capacidade eleitoral, portanto não há um projeto preparado para atender as reais necessidades da localidade. Eu pergunto, qual foi a última vez, depois da eleição, que a secretaria de turismo local foi ouvir os empresários da cidade?

Avenida principal antes da reforma. Foto por: Demétrio Cesar Xavier
As últimas ações da prefeitura de Camanducaia foram a reforma da avenida principal do distrito e a remodelação do portal de entrada. Tudo foi realizado às vésperas de uma eleição. Em Monte Verde o grande incentivador das hospedagens é o tempo frio. Se não faz frio, as pousadas patinam para lotar e acabam loteando os valores de suas diárias, vendendo preço e não serviço.
Exemplos de Socorro, Brotas e até das vizinhas Maria da Fé e Gonçalves, Gramado e Canela e Bonito, estão tirando público de Monte Verde, que não tem se preocupado em fornecer novidades aos seus visitantes e teima em não ter um calendário turístico.
Falta um local adequado para o turismo de eventos, uma rodoviária decente com banheiro e estacionamento decente para os visitantes. Vamos reconhecer a fragilidade profissional dos mandatários do turismo local. Monte Verde é uma potência adormecida em berço esplêndido. Vamos esperar que o frio chegue rápido para amenizar o sofrimento dos que ainda acreditam na cidade.
Texto por: Cláudio Lacerda Oliva
Foto destaque por: Eliria Buso