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A Serra Gaúcha dos cânions e das cachoeiras

22 de setembro de 2020

Descubra um roteiro pelos Campos de Cima da Serra, entre São Chico e Cambará do Sul, onde a natureza impera soberana. É um lado mais tranquilo da Serra Gaúcha, para sair do óbvio e se encantar com paisagens arrebatadoras.

A viagem parte dos Campos de Cima da Serra, região no extremo nordeste do Rio Grande do Sul, junto à fronteira com Santa Catarina. Por ali, predominam extensos campos e florestas de araucárias. A altitude é superior à de Gramado – acima dos 900 metros, chegando a mais de 1.200 metros em alguns dos pontos mais altos e mais frios do estado.

Além de dois parques nacionais com seus extraordinários cânions em Cambará do Sul, o roteiro surpreende com cachoeiras ainda pouco exploradas e segue até São Francisco de Paula, mais conhecida como São Chico, onde impera a tranquilidade e os cenários bucólicos. Em Três Coroas, estão presentes a fé budista e a cultura tibetana, além de esportes de aventura. Esses destinos formam um roteiro de ecoturismo pertinho de Gramado e Canela.

Cambará do Sul: terra dos cânions

Entre os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina está a maior concentração de cânions da América do Sul. São dezenas de gigantescas fendas entre os paredões rochosos, que começaram a ser formadas há cerca de 130 milhões de anos e foram esculpidas por rios e cachoeiras.

Foto por iStock / lisandrotrarbach

Foto por iStock / lisandrotrarbach

Os dois principais cânions ao longo da borda da Serra Gaúcha estão em Cambará do Sul, cidade a pouco mais de 100 km de Gramado e que ostenta o título de terra dos cânions. Ambos são abertos ao público e protegidos por parques nacionais com entrada gratuita – e não é exagero dizer que estão entre os cenários mais deslumbrantes do nosso Brasil.

Foto por iStock / diegograndi

Foto por iStock / diegograndi

O Cânion Itaimbezinho é um espetáculo com quase 6 km de extensão em uma fenda mais estreita, 720 metros de profundidade e paredes íngremes quase totalmente cobertas por vegetação. A parte superior tem duas trilhas autoguiadas, sendo a do Vértice a mais indicada para pessoas de todas as idades, já que tem apenas 1,4 km em terreno plano, boa sinalização e mirantes perfeitos para fotos. É a melhor trilha para observar a Cascata das Andorinhas e a Cascata Véu de Noiva.

Foto por iStock / Agata Fetschenko

Foto por iStock / Agata Fetschenko

A Trilha do Cotovelo também é de nível fácil, porém mais extensa, com 6 km ao longo da borda oposta do cânion. Já os mais aventureiros podem fazer a Trilha do Rio do Boi, pela parte inferior. É preciso contratar um guia credenciado e o acesso é feito por Praia Grande (SC).

O Itaimbezinho fica dentro do Parque Nacional de Aparados da Serra, que oferece uma boa estrutura turística, com estacionamento, centro de visitantes e banheiros. A partir do centro de Cambará do Sul, são quase 18 km em estrada de terra até a entrada do parque.

Foto por Renato Soares / MTUR

Foto por Renato Soares / MTUR

Depois, é hora de visitar outro lugar deslumbrante: o Cânion Fortaleza. Para isso, é necessário voltar para Cambará do Sul e seguir por outra estrada de terra até o Parque Nacional da Serra Geral. Muito mais amplo que o Itaimbezinho, o Fortaleza tem 7,5 km de comprimento e 900 metros de profundidade, além de impressionantes 2 km de largura em alguns pontos, com paredões que lembram grandes muralhas.

Foto por Patrícia Chemin

Foto por Patrícia Chemin

A partir do estacionamento, há um caminho curto e plano até a borda mais próxima do cânion. Mas há também trilhas para quem quer acessar vistas ainda melhores. Autoguiada, a do Mirante é bem popular, apesar de demandar um certo esforço, já que se trata de uma subida de quase 3,5 km. No topo, é possível admirar a extensão do cânion, com toda a magnitude da natureza aos seus pés. É uma daquelas imagens que ficam para sempre na memória.

Foto por Patrícia Chemin

Foto por Patrícia Chemin

Há ainda a Trilha da Pedra do Segredo e a da Borda Sul. Independentemente do caminho escolhido, não esqueça de usar calçados confortáveis, roupas leves, boné ou chapéu e protetor solar. Leve também casaco e capa de chuva, pois o tempo pode mudar de repente. No site do ICMBio, você pode conferir informações sobre horários e dias de funcionamento dos dois parques nacionais.

Foto por Patrícia Chemin

Foto por Patrícia Chemin

Assim como os cânions, alguns dos estabelecimentos mais interessantes de Cambará do Sul estão fora do centro da cidade, isolados entre os campos e colinas. Em questão de hospedagem, pousadas de inspiração rural são um convite ao detox digital, com simpáticos chalés de madeira e um resgate das tradições dos tropeiros. Na estrada que leva ao Itaimbezinho, vale uma parada no Sabores da Querência, onde são vendidos deliciosos antepastos, geleias e sorvetes artesanais, feitos com frutas cultivadas na mesma propriedade.

Cachoeiras no Circuito das Águas

Foto por Patrícia Chemin

Foto por Patrícia Chemin

Os Campos de Cima da Serra vão muito além dos cânions. As cachoeiras, os rios e as cascatas do chamado Circuito das Águas, entre São Chico, Jaquirana e Cambará do Sul, são atrativos ainda pouco conhecidos por turistas de outros estados, mas que merecem mais atenção pelos cenários de extrema beleza natural.

Foto por Patrícia Chemin

Foto por Patrícia Chemin

A aventura completa dura pelo menos cinco horas e tem que ser feita a bordo de um veículo 4×4. Não só há longos trechos bem irregulares de estrada de terra, mas também é preciso atravessar rios com o carro. Por isso, é recomendado contratar um guia local, pois o condutor tem que saber bem por qual caminho é mais seguro passar e qual o nível da água que permite a travessia. Além disso, a sinalização é escassa. Agências de turismo da região oferecem diariamente o roteiro, partindo tanto de São Chico quanto de Cambará do Sul.

Foto por Patrícia Chemin

Foto por Patrícia Chemin

Três atrações compõem o circuito: Passo da Ilha, Passo do S e Cachoeira dos Venâncios. A partir de São Chico, são 40 km de asfalto mais 15 km de estrada de terra até a primeira parada, dentro do Parque Estadual do Tainhas. O Passo da Ilha é um trecho largo em que o rio se espalha sobre as rochas. A água é bem rasinha e há cascatas pequenas. O carro fica estacionado dentro do rio e o grupo pode sair para se refrescar nas águas cristalinas e curtir uma hidromassagem natural.

Foto por Patrícia Chemin

Foto por Patrícia Chemin

No caminho que leva ao Passo da Ilha fica o Morro da Visão, que proporciona uma vista panorâmica desse trecho do Rio Tainhas. A subida a pé é íngreme, mas vale o esforço. A próxima parada é o Passo do S, nome proveniente das curvas do caminho que é preciso percorrer para cruzar o rio nesse ponto. Ali há duas grandes cachoeiras lado a lado com várias quedas d’água, sendo que a maior chega a ter 20 metros de altura. Na parte superior há algumas piscinas naturais.

Foto por Patrícia Chemin

Foto por Patrícia Chemin

Depois, o roteiro leva à Cachoeira dos Venâncios. Como fica dentro de uma propriedade particular, a entrada é cobrada – R$ 15 por pessoa. São quatro cascatas de vários tamanhos ao longo do curso do rio, além de diversas piscinas naturais de diferentes profundidades. Não deixe de levar sua roupa de banho. O local também tem banheiro e mesas para piqueniques.

O sossego da natureza em São Chico

Um curto trajeto de carro por uma estrada repleta de hortênsias separa o lado mais badalado da Serra Gaúcha da tranquila São Francisco de Paula – são cerca de 35 km a partir de Canela e 45 km de Gramado. Entre araucárias e plátanos, São Chico oferece o sossego do interior.

Foto por Patrícia Chemin

Foto por Patrícia Chemin

O município foi fundado no século XVIII, época em que era rota dos tropeiros que seguiam do Rio Grande do Sul para São Paulo. Diferente de outras cidades da Serra Gaúcha que tiveram grande influência de imigrantes europeus, São Chico guarda uma forte cultura gaúcha e as tradições da vida no campo.

Foto por Patrícia Chemin

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O Lago São Bernardo é o cartão-postal da cidade, cercado por uma imensidão verde, bancos e uma ciclovia de 2 km de extensão. Ali, não deixe de tirar uma foto ao lado do letreiro da cidade (“eu amo São Chico”). Na avenida principal, há um lugar que virou ponto turístico conhecido: a livraria Miragem.

Foto por Patrícia Chemin

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Seu design é totalmente único, desde a disposição dos livros ao labirinto formado pelas estantes. Escadarias, mezaninos, peças antigas e um espaço dedicado à cultura dos tropeiros completam o visual. Anexo à livraria, há um charmoso restaurante e café, o Capitão Chaves Bistrô.

Foto por Patrícia Chemin

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São Chico também se destaca pela hospitalidade de suas pequenas pousadas, cheias de charme e aconchego, seja as de clima romântico ou aquelas com um estilo mais rústico. Muitas delas guardam ainda boas surpresas gastronômicas em seus restaurantes. É o caso da Casa de Babette, dentro da Pousada do Engenho, com pratos que vão das tradições gaúchas à culinária indiana. Também recomendamos a cozinha do Parador Hampel, pousada centenária cuja gastronomia é assinada pelo chef Marcos Livi. O cardápio faz uso de muitos ingredientes locais e homenageia os diferentes povos que formaram o Sul do Brasil.

Quem quer um contato direto com a natureza de São Chico tem no Parque das 8 Cachoeiras uma escolha certeira. Área de preservação a poucos quilômetros do centro da cidade, o parque abriga, como o nome indica, oito belíssimas cachoeiras. O acesso é feito por trilhas que variam de tamanho e intensidade e é necessário pelo menos dois dias para percorrer todas. A entrada é paga. Na mesma propriedade, há uma pousada com cabanas rústicas e uma área de camping.

Atmosfera de paz e romance

Foto por Patrícia Chemin

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Membro da associação Roteiros de Charme, a Pousada do Engenho, em São Chico, encanta logo à primeira vista. Ao atravessar o portão, você estará em um verdadeiro refúgio, cercado de árvores e de ar puro. São apenas 15 cabanas disponíveis, que vão se revelando aos poucos pois foram erguidas em meio à mata de forma estratégica – ao olhar pelas janelas, você verá apenas as grandes árvores ao redor, tendo a sensação de estar sozinho na natureza. Nem parece que o centro de São Chico está a menos de 3 km de distância.

Foto por Patrícia Chemin

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Feitas em toras de madeira e outros materiais naturais, as cabanas têm capacidade para duas pessoas cada e variam entre 60 m² e 170 m², mas todas têm praticamente as mesmas comodidades, como wi-fi, banheira de hidromassagem, TV com canais a cabo, claraboia que permite ver o luar e o céu estrelado, amenidades Natura Ekos, pantufas, robes, lareira, calefação, varanda com rede e mais.

Foto por Patrícia Chemin

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O clima de romance permeia toda a pousada. Casais podem optar por momentos únicos, como jantar à luz de velas, refeições servidas na cabana, banho de ofurô e cesta de piquenique. A casa da árvore, que é bem aconchegante e aquecida, pode ser reservada para um almoço ou um jantar exclusivo a dois.

Foto por Patrícia Chemin

Foto por Patrícia Chemin

A área de lazer conta ainda com piscina, sala de massagem, sauna, academia, cafeteria e sala de jogos com lareira. Na casa principal, você encontra uma loja de presentes e o restaurante Casa de Babette, onde também é servido o café da manhã repleto de pães e bolos caseiros, pratos quentes feitos na hora e delícias locais, como queijos e geleias.

Foto por Patrícia Chemin

Foto por Patrícia Chemin

Por meio de parcerias com agências especializadas, na Pousada do Engenho você pode agendar vários passeios pela região. Com o guia Marcos Batista, a E Passeios faz roteiros personalizados para grupos pequenos (a partir de duas pessoas). O transporte parte da própria pousada.

Fé, gastronomia tibetana e aventura

Foto por Patrícia Chemin

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Aos pés da Serra Gaúcha, a cidade de Três Coroas muitas vezes passa despercebida por turistas que visitam a região, apesar de estar a menos de 30 km tanto de Gramado quanto de São Chico. Mas, depois de conhecer os atrativos que a cidade guarda, vai ficar difícil ignorar esse lugar tão especial.

Foto por Patrícia Chemin

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Rodeado por muito verde, o Centro Budista Chagdud Gonpa Khadro Ling é uma das joias de Três Coroas. Templos e monumentos de extrema beleza, com cores vivas e uma impressionante riqueza de detalhes, se abrem para inspiradoras paisagens da serra. Faça o passeio com calma, para contemplar a paz, a harmonia e a energia que emanam do local.

Foto por Patrícia Chemin

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O Khadro Ling é um centro de prática do budismo tibetano, mas recebe de braços abertos pessoas de todas as crenças e proporciona uma grande imersão cultural independente de sua fé. Para quem chega com carros de passeio, a visita é gratuita e não precisa ser agendada.

Foto por Patrícia Chemin

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Para completar o roteiro, siga para o Espaço Tibet, também em Três Coroas. Mais do que um restaurante tibetano, é uma experiência completa. Repleto de cores e ornamentos, o salão principal já dá o tom, com seu design tradicional tibetano e elementos budistas. Os clientes são recebidos com um lindo jardim, uma xícara de chá e um cardápio que surpreende.

Foto por Patrícia Chemin

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Diferente do que muitos pensam, a culinária tibetana não é vegetariana. Há um profundo respeito por todos os alimentos, por isso são usados tanto vegetais quanto carnes. De receitas bem tradicionais a outras adaptadas com ingredientes brasileiros, os pratos trazem uma grata explosão de sabores e aromas. Destaque para os momos (trouxinhas cozidas no vapor), o Racha (pernil de cordeiro com molho agridoce) e as inusitadas sobremesas (uma delas leva até cogumelos shimeji). Prove também o Pötcha, ou chá de manteiga do Tibet.

Foto por Patrícia Chemin

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O chef da casa é Ogyen Shak, tibetano refugiado que cruzou o Himalaia a pé em busca de liberdade – uma história que merece ser retratada em um filme de Hollywood e é contada no memorial anexo ao restaurante. Junto com sua esposa, a brasileira Adriana, Ogyen abriu o restaurante em 2011. Sempre abertos a uma boa conversa, os dois difundem a cultura tibetana aos brasileiros através da gastronomia e da hospitalidade.

Para além da cultura oriental, Três Coroas também é uma cidade famosa pelos esportes de aventura. Grupos percorrem as corredeiras do Rio Paranhana em atividades como rafting, flutuação e caiaque. O tempo do trajeto vai depender da operadora escolhida. O Brasil Raft Park tem uma base própria às margens do Paranhana, com uma estrutura turística completa. Além de um percurso de rafting de 8 km, o parque oferece tirolesa, canopy, rapel, paintball, quadriciclos e mais.

SERVIÇOS

Como chegar

O Aeroporto Internacional de Porto Alegre recebe voos de várias cidades brasileiras, principalmente do Sul e do Sudeste. Da capital gaúcha são 180 km até Cambará do Sul e pouco mais de 100 km até São Chico.

Onde comer

Espaço Tibet – espacotibet.com.br

Capitão Chaves Bistrô – facebook.com/ChavesCapitao

Galeteria O Casarão – galeteriaocasarao.com.br

Sabores da Querência – saboresdaquerencia.com.br

Xis da Dona Laura – facebook.com/xisdadonalaura

Onde ficar

Pousada do Engenho – pousadadoengenho.com.br

Parador Hampel – paradorhampel.com

Hotel Parador – paradorcasadamontanha.com.br

Pousada Cafundó – pousadacafundo.com.br

Cambará Eco Hotel – cambaraecohotel.com.br

Passeios

E Passeios Turismo Personalizado – epasseiosturismo.com.br

Parques Nacionais – icmbio.gov.br

Parque das 8 Cachoeiras – parque8cachoeiras.com.br

Chagdud Gonpa Khadro Ling – templobudista.org

Brasil Raft Park – brasilraft.com.br

 

Mais informações em: turismo.rs.gov.br

Texto por: Patrícia Chemin. A jornalista viajou a convite da Pousada do Engenho.

Foto destaque por: Renato Soares / MTUR

 

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