O mundo do turismo envolve sonhos. A maioria deles possíveis. Alguns não. Como gostaria de poder me transportar para aquelas naus e caravelas que primeiro avistaram o Monte Pascoal, em 22 de abril de 1500! No dia seguinte, quinta-feira, um grupo de portugueses liderados por Nicolau Coelho, capitão da armada de Pedro Álvares Cabral, desceu onde fica hoje uma das praias do município de Prado, a Barra do Cahy, na Bahia. Foi lá que aconteceu, dizem muitos historiadores, o verdadeiro primeiro contato com os povos indígenas.
Ah!, após ver tanta beleza, eu teria descido junto, dado um jeito de escapar do grupo e sairia por aí, andando por esse novo e lindo mundo com seus mares de tons azuis e esverdeados e percurso repleto de falésias, rios, córregos, lagos e da exuberante Floresta Atlântica.
Devido aos fortes ventos, não era seguro atracar com aquelas embarcações em mar aberto. Os portugueses seguiram navegando rumo ao norte, atrás de um porto seguro até que encontraram a Baía de Cabrália, com suas tranquilas enseadas, onde realizaram no domingo, 26 de abril, no ilhéu da Coroa Vermelha, a primeira missa, celebrada por Frei Henrique de Coimbra.
Não dá para voltar a 1500, mas o mundo do turismo também envolve memória. E posso retornar a 1992, quando fiz para o jornal O Estado de São Paulo uma reportagem na região sul do litoral baiano. Aos 31 anos, sem o talento de Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Cabral, para relatar aos leitores caminhei de Prado à Arraial d’Ajuda, parando em praias e vilas ao longo do trajeto. Foram 120 quilômetros de garra, suor e lágrimas de alegria! Nunca esqueci da viagem!
Turismo envolve conquistas! E reconquistas. Voltei recentemente à região, com minha esposa, a repórter fotográfica Maria Pereira Gontow. Agora, fizemos apenas as praias de Prado (a Costa das Baleias), com breve esticadas ao Monte Pascoal e Caraíva. Para minha surpresa e alegria, muitos cenários permanecem iguais aos que vi há 27 anos. Alguns, provavelmente são os mesmos que teríamos encontrado há cinco séculos. As impressões e fotos você vê ao longo das próximas páginas. Leitura à vista!
Prado
Que tal passar dias em uma cidade com incríveis 84 quilômetros de praias, em sua maioria praticamente desertas, com mar belo, calmo e morno, ladeadas por falésias? O distrito de Prado, espécie de capital do município de mesmo nome, com cerca de 35 mil habitantes e 123 anos de história, foi a base para a nossa viagem.
A cidade não é recomendada para quem busca agito, nem para quem procura charme em cada detalhe. Mas tem a melhor infraestrutura da região e é o ponto de partida para instigantes passeios. Antes de sair por aí, vejamos o que o distrito de Prado tem para oferecer. Um dos destaques é Igreja Nossa Senhora da Purificação, que surge imponente na Praça da Matriz. É mais antiga que a própria cidade. No dia 10 de outubro deste ano completará 225 anos.
Dissemos que não há agito na cidade, mas não é bem assim. Quem busca movimento e um clima mais festivo, deve ir ao Beco das Garrafas, que concentra a vida noturna, com bares e restaurantes. No Japa do Beco, da mineira, de Belo Horizonte, Madjara Miliana, as atrações foram um generoso Ceviche (salmão, peixe branco, camarão, polvo, kani e atum – R$ 40) e o Acarajapa (quatro bolinhos de massa frita de arroz japonês e salmão grelhado. Dentro, tem cream cheese, camarão, pimenta sriracha e, por cima, molho tarê com cebolinha – R$ 33). Do cardápio de drinques, provamos – e aprovamos – o Moscow Mule (à base de vodca, limão, angostura e espuma de gengibre, servido na caneca de cobre – R$ 25) e o refrescante Manjerigin (gin, limão siciliano e manjericão – R$ 26).
Quase ao lado fica o Banana da Terra, comandado por Márcia de Fátima Rodrigues Marques, que nasceu em uma casa situada onde é hoje o Beco das Garrafas, criado há 18 anos. Como sugestão de entrada, os bolinhos Maria Flor (camarões envolvidos em cream cheese e empanados na farinha de tapioca, com molho de pitanga (quatro bolinhos por R$ 40) não tem erro. Destaque também para o sabor e apresentação do prato Gabriela, com camarões grandes cozidos no molho de moqueca e mel de cacau (servido no próprio cacau) com purê de aipim. Acompanha arroz de camarão, com mix de castanhas (R$ 165).
É bom não abusar na night, para acordar cedo no dia seguinte e passear em direção ao norte – a pé, de bike, barco ou carro, com destaque para o Tour de Praias. Conheça aqui algumas das principais praias e distritos de Prado.
Praia do Farol – É neste trecho, a cerca de 5 quilômetros do Centro de Prado que começam as falésias. Quem está de carro, deve estacionar, colocar o pé na areia e caminhar em direção à Praia da Amendoeira. É um festival de cores: o céu geralmente azul sobre a cabeça, o mar de um lado e do outro as falésias, com seus tons avermelhados, brancos e verdes.
Praia da Amendoeira (ou da Viçosa) – A cerca de 7 quilômetros do distrito de Prado, é uma das preferidas pelos banhistas, pela proteção dos recifes que tornam as águas ainda mais calmas. A vista do mirante natural é estonteante.
Banco de Areia sobre as Falésias – Para o sul e para o norte, as falésias coloridas, assim como o mar, contrastam com o branco sobre o qual o observador está situado. Foram avistadas por Pero Vaz de Caminha, que escreveu: “Tem, ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, umas vermelhas, outras brancas.”
Praia da Paixão – Uma pequena e frágil ponte de madeira sobre o córrego da Paixão é uma espécie de portal que leva da estrada à praia. É paixão à primeira vista. Há algumas barracas simples para quem quer beber, petiscar e passar o dia. A caminhada em direção à Praia do Tororão, de cerca de 2 quilômetros, passa por falésias e pedras de várias cores e formatos.
Praia do Tororão – Uma das paradas obrigatórias. Mais vistas de tirar o fôlego. Quando a maré baixa, formam-se piscinas naturais, onde as tartarugas vão se alimentar. Na falésia, há um bem estruturado bar e restaurante, com mesas espalhadas sob a sombra de coqueiros. Também dá para comer à beira do mar. Uma das atrações é a bica de água doce que desemboca na praia. A água jorrando, as falésias coloridas, os coqueiros e o mar tornam o lugar inacreditavelmente belo. Em 1992, com a mochila nas costas e já com sede, a bica d’água no meio do caminho parecia uma miragem. Não era! Depois, passei horas apreciando o lugar e adaptei uma conhecida cantiga. Escrevi com um galho seco, que o tempo e o vento apagaram da areia, mas não da memória: “Eu fui no Tororão beber água e encontrei. Tudo era tão bonito que no Tororão fiquei…” Lugar para passar o dia e esquecer da vida.
Praia das Ostras – Mais um cenário paradisíaco. Em uma das extremidades, o córrego das Ostras forma uma lagoa, que é separada da água do mar por uma fina faixa de areia.
Praia do Japara Grande – Do alto a vista é especial e permite que se perceba todo o rico ecossistema da região: dá para ver o mar, a areia, as falésias, o córrego, o mangue (terras baixas), e as árvores altas, médias da Floresta Atlântica. Tem também – não canso de dizer – falésias mágicas e coloridas. E há, ainda, um bar próximo à areia da praia. É um ótimo lugar para nadar e terminar o dia.
Cumuruxatiba – Vale a pena reservar um dia exclusivo para o destino, envolvendo também Barra do Cahy. Se não for possível, deve ser visitada na sequência de Japara Grande. Há ótimas pousadas nessa charmosa vila, a 32 quilômetros do centro de Prado, com muitas praias para escolher e lugares para beber e se deliciar com petiscos e pratos, como a barraca Porto Belo, na Praia do Píer. Os clientes destacam as Capifrozen, como de pitanga, graviola e jabuticaba; o Escondidinho de Abóbora com carne seca (R$ 27) e o Cuscuz Paulista (R$ 9). Também vale à pena visitar outros restaurantes.
O Catamarã, em cima de uma falésia, que tem um famoso Arroz de Polvo. Na beira da Praia do Píer está o Hermes, também especializado em frutos do mar. Na parte alta da vila, o Mama África tem ambiente acolhedor e levemente sofisticado, com os preços acessíveis. No Cocada da Dona Lucinha provamos os sabores de leite-condensado e de abacaxi, a R$ 3 cada. Vale pelos doces e pelo sorriso largo e simpático da proprietária.
A 3 quilômetros do centro, um pequeno rio divide uma linda praia, que recebe dois nomes: Rio do Peixe Pequeno e Rio do Peixe Grande. Na linguagem Pataxó, Cumuruxatiba significa “grande diferença entre a maré baixa e alta”. Isso se refere ao fenômeno da maré vazante. Pela manhã, o mar recua e é preciso andar mais de 50 metros para que a água chegue à cintura. Nas praias de mar aberto, geralmente a hora de entrar na água é quando a maré desce. Já em Cumuruxatiba, o ideal é se banhar na maré alta. E por falar em marés, na baixa é revitalizador caminhar para o norte, até a Praia do Moreira.
Barra do Cahy – Há várias emoções sobrepostas nesta que é a primeira praia do Brasil. Embora não sejam da época do descobrimento, é sempre impactante estar junto à cruz e à placa que marcam que ali aconteceu o primeiro contato dos portugueses com os povos indígenas. É onde celebramos o início da nossa história, mas lembramos que esse encontro marca também o início de uma tragédia para os povos que aqui estavam.
Novamente o cenário é belíssimo com as águas do mar, coqueiros sobre as falésias e no entorno do Rio Cahy. Banhar-se nas águas doces e salgadas, caminhar por esse trecho mágico ou simplesmente lagartear sobre a areia da praia será um dos grandes momentos da viagem. Como é bom descobrir que precisamos de tão pouco para ser feliz!
Ponta do Corumbau
Arqueólogos e historiadores ainda vão descobrir que a vida humana começou na Ponta do Corumbau, último distrito de Prado. Que mistério é esse que faz os turistas que chegam o local sempre exclamarem: “aqui é o Paraíso!” O Jardim do Éden só pode ter sido nesses 15 quilômetros de praias de areia branca e águas cristalinas, com tons que variam entre o verde e o azul, protegidas por extensos recifes de corais de cerca de 10 quilômetros de extensão. A ponta do Corumbau é aquele lugar onde dá vontade de não fazer nada e só contemplar a beleza do mundo e da vida. Mas também é magnífica para na – dar, pedalar ou simplesmente sair por aí…
Em direção ao sul, há praias margeadas por coloridas falésias. Para o norte, uma charmosa e ainda pacata vila, encostada no Rio Corumbau, com alguns bares, restaurantes, pousadas e casinhas. Vivem ali cerca de 700 habitantes, muitos deles pescadores. As embarcações que descansam ao longo da orla tornam tudo ainda mais, digamos assim, divino. Coqueiros, amendoeiras e manguezais ajudam a emoldurar o cenário.
A ponta da praia, que dá nome ao lugar, é o palco de um espetáculo. Quando a maré está alta, a faixa de areia tem pouco mais de cinco metros de comprimento (veja as fotos da placa!) Quando seca, surge uma faixa – a ponta! – que entra para dentro do oceano com tamanho que varia entre 500 e 1500 metros de extensão. Em alguns trechos, tem 100 metros de largura. A incrível faixa divide o mar em dois cenários distintos: à direita, águas calmas, com os já citados tons verdes e azuis, convidativas para o banho em piscinas naturais.
Do outro lado, onde acontece o encontro com o Rio Corumbau, as ondas permanecem agitadas. Dá para ver claramente as águas se separando. Como se fôssemos hebreus atravessando Mar Vermelho, colocamos os pés naquela faixa que, como um milagre diário, surge atravessando o mar azul!
Caraíva
Para quem dispõe de tempo, vale demais ir de barco até a outra margem do Rio Corumbau e seguir de bugue até a aldeia Barra Velha, dos índios Pataxós, em Caraíva. Se o leitor pudesse escolher entre deixar o tempo passar, no sul da Bahia, optaria por estar em frente a um marzão azul e com o horizonte a perder de vista ou às margens de um rio estreito, caudaloso e escuro?
Em Caraíva, distrito de Porto Seguro, de casinhas coloridas e ruas de areia, onde não entram carros, não é preciso optar entre um e outro. As pessoas descansam o corpo e a mente às vezes em frente ao Oceano Atlântico e em outras – a maioria do tempo – às margens do Rio Caraíva. Nesse cantinho do litoral baiano, situado a 12 quilômetros de Corumbau, a atração principal é o rio!
É bonito ver na Barra Velha as pessoas nas cadeirinhas com mesinhas e tendas instaladas às margens do rio e, também, em frente à praia, ainda que a taxa de consumação mínima seja um tanto exagerada (de R$ 50 a R$ 150).
Para quem não quer apenas o prazer de curtir o sol e entrar de quando em quando na água, uma das atividades preferidas é descer de boia o rio, sem fazer esforço, levados pela força da água, em direção ao mar. Algumas pessoas pegam barcos, mas é preciso se informar antes com os locais sobre a correnteza, já que muitas vezes é preciso gastar energia remando, o que nem sempre é gostoso.
Outro bom passeio é caminhar para o norte – sempre perguntando antes sobre as marés – até a Praia de Satu. Para iniciar o percurso, é necessário pegar um barco por R$ 5 por pessoa e atravessar o Rio Caraíva – é o mesmo preço da canoa que atravessa o Rio Corumbau. De ida e volta são cerca de 6 quilômetros. O trecho é lindo, com o mar variando em tons – mais azul à medida que se afasta do rio – em contraste com as falésias avermelhadas, até Satu, onde há uma encantadora lagoa.
A maioria dos barzinhos e restaurantes charmosos de Caraíva está às margens do rio. Vale a pena visitar, especialmente ao final da tarde, o Boteco do Pará e provar seus pasteis, com destaque para o de Arraia (R$ 12 e, com queijo cremoso, R$ 13). Para quem prefere o mar, ótima pedida é o Bar da Praia. À noite, boas dicas são, além dos já citados, o Bar do Porto (destaque para as pizzas e boa música), o Bar Lagoa, conhecido pelos sanduíches, e o restaurante Taioba, com pratos da gastronomia indígena.
Caraíva já não é tão tranquila quanto em nossa vi – sita em 1992, mas permanece sossegada, especial – mente se comparada a outras praias famosas de Porto Seguro, como Arraial D’Ajuda e Trancoso. O agito é mais em dias e pontos específicos e, claro, aumenta nas temporadas e feriados prolongados. Para quem gosta de dançar, os forrós mais famosos são o do Pelé e o do Ouriço.
Em Caraíva não há bancos e em alguns estabelecimentos não são aceitos cartões. Por isso, é sempre importante levar dinheiro em espécie. Para quem está de malas nas mãos e não quer caminhar até a pousada, há algumas carroças que servem de táxis na entrada da vila. Durante muitos anos, a vila foi conhecida por não ter luz elétrica. Isso mudou, mas com uma boa solução. Não há postes de luz. Toda a fiação está enterrada, o que ainda permite que seja possível ver a lua e as estrelas.
Fazenda São Francisco do Corumbau
Simplesmente perfeita! Este hotel é um exemplo de turismo. Mas também um case de negócios. De – veria ser estudado por aqueles tipos de empresários que constroem grandes empreendimentos no Norte e Nordeste do País e dizem, cheios de certezas, que para o negócio dar certo, é preciso trazer gente do Sul e Sudeste! Pura bobagem!
Na impressionante Fazenda São Francisco do Corumbau, com seus 167 hectares, manguezal próprio, atravessado por uma linda passarela de madeira; piscina cercada por coqueiros, construída com pedras escuras e tratada com sal, o que a mantem sempre aquecida; excelente gastronomia e dez espetaculares acomodações – das suítes na sede e em bangalôs de 40 m 2 aos bangalôs de 150 m 2 – com varandas que têm vistas para o mar e o jardim; um dos grandes diferenciais são os funcionários. Quem não gosta de ser bem tratado? Há toda espécie de mimos e mordomias possíveis. O hospede está deitado em uma espreguiçadeira à beira da praia?
Lá vai um funcionário com água de coco, que é à vontade vinda dos coqueiros da fazenda e uma toalhinha geladinha, com óleo essencial de capim limão, para colocar na testa e no pescoço. Alguém saiu para caminhar pela praia antes mesmo do café? É só se aproximar do ponto da praia em que o hotel está situado, que surge um funcionário com a bandeja que traz a água de coco e as toalhinhas.
Escolheu o cardápio para o almoço ou jantar? Olha lá o chef Teco se dirigindo à horta para escolher com calma e delicadeza os ingredientes que utilizará nos pratos! As receitas mesclam a cozinha da Bahia com a culinária internacional, sempre com produtos da região. Há também cardápios para veganos, vegetarianos, intolerantes à lactose e celíacos. A equipe é formada basicamente por pessoas da região, algumas delas índios pataxós. Adoram servir, mas não são servis.
São pessoas capacitadas, muitas vezes com cursos feitos em Porto Seguro e outros estados do País, orgulhosas de sua identidade e de sua formação. Algumas falam pataxó, português e inglês. Cerimônia da Fogueira – Um dos momentos mais mágicos da viagem! A cerimônia da fogueira, de inspiração indígena, geralmente exclusiva para casais, que a equipe prepara de presente para todos que se hospedam na Fazenda São Francisco. A fogueira enorme, em noite de lua cheia, com o som dos coqueiros balançando ao vento, dos estalando no fogo e das ondas do mar quebrando na areia, aquece o corpo e a alma.
A experiência na Fazenda São Francisco do Corumbau derrubou mais uma premissa: a de que uma das melhores coisas de uma viagem é voltar para casa. Foi a última etapa de uma longa viagem pelas praias do sul da Bahia. Com toda sinceridade: nós, repórter e fotógrafa, não queríamos ter voltado para casa não…
Conheça o Monte Pascoal
Os 14 quilômetros que separam a rodovia BR-101 do acesso principal ao Parque Nacional Monte Pascoal, permitem momentos intensos e incríveis. É fascinante ver cada vez mais de perto e de vários ângulos o monte de 536 metros de altura que os portugueses avistaram de longe ao descobrir o Brasil. Na entrada do parque está a aldeia Pé do Monte, de índios Pataxós. O Monte Pascoal fica no município de Porto Seguro, na Costa do Descobrimento, mas foi visto, como já destacamos, a partir da Barra do Cahy.
A trilha mais difícil só deve ser percorrida por quem estiver muito bem preparado. Os 1700 metros são bem íngremes, com obstáculos e terrenos muitas vezes escorregadios. A volta é ainda mais complicada, mesmo para quem está habituado a longas caminhadas. É bom levar muita água, fruta e frutas secas. No meio do caminho, o som da mata, com pássaros, répteis e macacos, como bugios e micos, remete a tempos imemoriais.
No início do passeio, surge um impactante monumento de Resistência dos Povos Indígenas, que escancara no mapa do País as diversas etnias indígenas exterminadas. O percurso, de cerca de 2h30, é sempre comandado por um guia Pataxó. Do alto, os mirantes não permitem uma visão clara das praias. Mesmo com o tempo perfeito, a vista alcança apenas uma faixa pequena de areia. Ainda assim a emoção é grande e dá vontade de gritar: “Mar à vista!”
O jeito certo de ver as baleias
Se o maior objetivo da viagem ao sul da Bahia é visitar o arquipélago de Abrolhos, mas, acima de tudo, ver no caminho o espetáculo das baleias Jubarte, que chegam à região para acasalar e procriar, os meses ideais são de julho a outubro.
Há quem fale também em novembro, mas se sempre as viagens de avistamento envolvem o risco dessas gigantes não aparecerem, no 11º mês do ano as chances de ver as baleias se reduzem drasticamente. O barco sai de Caravelas, a 50 quilômetros de Prado. Essa reportagem esteve na região em dezembro. Ficou para a próxima visita!
Para quem mergulha, o passeio é indicado o ano inteiro. É sempre instigante visitar o local que em 1832 encantou o jovem naturalista inglês Charles Darwin, em sua famosa viagem a bordo do veleiro HMS Beagle. A partir do Rio Jucuruçu, em percurso de cerca de 30 minutos de lancha e uma hora de catamarã, há o passeio para o Recife de Corais de Guaratiba. O mergulho, com snorkel, é em águas calmas, com muitos peixes coloridos, tartarugas marinhas e corais. Em Caravelas, existe o Centro de Visitantes Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. Há uma réplica da baleia Jubarte em tamanho natural, uma incrível experiência de visita virtual ao arquipélago, com avistamento, também virtual, das baleias; e painéis que trazem informações variadas sobre esse imenso animal marinho. Ainda que muito bonito, esse passeio só é indicado para quem passa muito tempo na região. Pode ser um bom programa para dias de chuva, especialmente para quem viaja com crianças.
Todo o charme da Pousada Casa de Maria
Com 24 apartamentos, standart e luxo (andar superior, cama queen size e enxoval diferenciado), a Pousada Casa de Maria, a 250 metros da Praia do Novo Prado, é charmosíssima.
Aberta em 1992, tem muitas flores, especialmente orquídeas, e peças de decoração trazidas de várias regiões do mundo pela proprietária Maria Eugenilde Venturelli, a Nildinha, mineira que vive há 35 anos em Prado e que adora viajar. Há outros diferenciais, como não aceitar grupos, nem menores de 12 anos.
A pousada também é dog friendly, desde que os cãezinhos sejam silenciosos e mansos. Certamente esses são motivos para atrair muitos casais. O café da manhã é variado e diferenciado! Mesmo com tantas praias na região, os hospedes dão um jeito de passar horas em torno à piscina, que tem a música no tom certo, convivendo harmonicamente com os sons da pequena cascata e os cantos dos passarinhos que se acomodam nas árvores e flores.
Como chegar
Prado – O jeito mais comum de chegar à região é através de voos para Porto Seguro (BA) e de lá pegar ônibus, taxi, transfer ou carro alugado. Quem chega em Porto Seguro à noite muitas vezes precisa se hospedar em um hotel e só partir na manhã seguinte. Geralmente se economiza no voo, mas gasta-se na hospedagem. Prado está a 207 quilômetros de Porto Seguro. Quem está de carro deve sair da BR101 em Itamaraju e pegar a BA-290 – 56 quilômetros até Prado. O tempo de viagem é de cerca de 3h. A distância entre este aeroporto regional de Teixeira de Freitas e Prado é de 78 quilômetros, aproximadamente 1h de carro.
Ponta do Corumbau – O percurso a partir de Porto Seguro, de carro com tração 4×4, demora cerca de 4h, o braço mais longo pela BR-101. Oito quilômetros após Itamaraju, à esquerda, em Guarani, começa uma estrada de terra de 60 quilômetros até o destino final. A Azul (voeazul.com.br) tem voos diretos a partir de algumas cidades para o aeroporto de Teixeira de Freitas, cidade que fica a cerca de 2h20.
Monte Pascoal – O melhor modo para se chegar é pela BR-101.
Porto Seguro – De várias capitais e cidades do interior saem ônibus para o destino baiano.
Texto por: Airton Gontow. Na viagem ao litoral sul da Bahia, o jornalista contou com o apoio da Catavento Tour e dos hotéis Fazenda de São Francisco do Corumbau e Pousada Casa de Maria.
Foto por: Istock/ Claudia Milandra