A Música Colonial Mineira, elemento artístico e cultural da história de nosso estado, se impõe desde as suas origens até os nossos dias. Ela alcança seu apogeu, na segunda metade do século XVIII. Sua organização e profissionalização acontecem durante a formação de nossas primeiras vilas e arraiais, e no apogeu do Ciclo do Ouro.
Assim como a arquitetura e as artes plásticas têm um alto grau de bom gosto, as Igrejas Católicas mineiras possuem um grau de refinamento e sutileza, que fazem com que um excepcional acervo musical misturado às outras artes que se implantam e crescem, na época, tracem o perfil da Capitania de Minas Gerais.
A música religiosa dos tempos coloniais se fundamenta na riqueza dos textos litúrgicos, onde as frases, com seus sentidos específicos, são sugestivas e desafiadoras e despertam a inquietação, a imaginação e a criatividade do compositor, que sabe explorar os recursos musicais disponíveis para parafrasear os textos, com grande liberdade nas reexposições de temas e ideias musicais. Esbanja ornatos e contrastes, fazendo com que as peças se encham de beleza e harmonia.
É escrita fundamentalmente em Latim, e caracteriza-se pela hipérbole, elipses intratextuais, alterações de solos, duos, coros, intervenções orquestrais, contrastes de vozes, explorações, de rondós, excessos de acidentes e adornos. Ao possuir uma enorme variedade de elementos é de beleza incomparável e rica em expressão. Cada elemento é uma descoberta sutil do compositor que, evidente conhecedor das formas musicais, trata-as não como imposições rigorosas e esquemáticas, mas como sugestões para uma unidade na diversidade e uma diversidade na unidade.
A despeito de inúmeros agentes se esforçarem na busca do resgate da Música Colonial Mineira, bem como na reconstituição de suas partituras, boa parte da produção de todo este manancial de beleza ainda permanece inédito das gerações atuais, em manuscritos guardados em bibliotecas públicas e coleções particulares, ou circulando em cópias precárias de intérpretes. O que pôde ser salvo até agora representa apenas um reflexo de uma esplendorosa atividade criadora que alcançou, em diversas ocasiões, uma grande beleza.
Durante o Ciclo do Ouro, as instituições religiosas e civis mineiras disputavam entre si as melhores obras e os mais renomados artistas musicais. Na primeira metade do século 18, os gastos com música são elevados, chegando-se a remunerar os serviços da Semana Santa em diversas cidades históricas mineiras, com pesadas oitavas de ouro. Na segunda metade daquele século, entretanto, com o declínio do ouro e a crise nas minerações, os recursos se escassearam, fazendo com que se rompessem contratos da Igreja e do Senado Mineiro. Os artistas têm que se adaptar à nova realidade. Seus salários diminuem, e a música passa a ser executada pelo prazer da arte e para manter a tradição.
Em meados da década de 1960, com a substituição do Latim pelo vernáculo pela Igreja Católica, temeu-se pelo completo desaparecimento desta música. No entanto, nos dias atuais têm sido cada vez maiores o interesse e a apreciação da Música Colonial Mineira, o que justifica a iniciativa do Coral Cidade dos Profetas, da cidade histórica de Congonhas (MG), em divulgar este rico patrimônio imaterial de Minas Gerais.
Texto por Agência com edição de Carolina Berlato
Imagem Destacada por Eliane Gouvea