Continente oferece experiências além dos roteiros tradicionais pelas capitais e pelas praias caribenhas
A maioria dos países da América Latina registrou nos últimos anos um crescimento do turismo entre pessoas do próprio continente – um fenômeno ocasionado pela diminuição dos preços das passagens aéreas, pelo aumento da taxa do dólar e do euro, que afetou as viagens aos Estados Unidos e à Europa, e uma maior atenção da indústria turística aos destinos latino-americanos.
A Bolívia, por exemplo, recebia mais visitantes estadunidenses do que de qualquer outra nacionalidade até 2008. Os dados de 2013 do governo, porém, já indicam que os brasileiros se tornaram, naquele ano, os principais viajantes ao país, chegando a representar 10% de todas as chegadas internacionais às fronteiras bolivianas. Os argentinos, outrora desinteressados na nação vizinha, tornaram-se os segundos da lista.
A Argentina, da mesma forma, tem no turismo continental uma fonte importante de divisas ao Estado. De acordo com os dados mais recentes do governo local, em 2011 foram 1,3 milhão de brasileiros nos aeroportos e portos de Buenos Aires, o principal destino do país. Apesar da queda dos números, os argentinos ainda recebem cerca de 900 mil visitantes do Brasil por ano. Depois deles, peruanos, colombianos e chilenos estão na lista dos turistas mais presentes em solo argentino.
Os dados do Ministério do Turismo peruano também oferecem a mesma perspectiva: em 2015, tirando estadunidenses (490 mil visitantes) – na segunda posição da lista de estrangeiros que entraram no país –, os vindos do Chile estão na primeira posição (951 mil), com Equador (187 mil), Colômbia (163 mil), Argentina (155 mil) e Brasil (145 mil) na sequência. Todos interessados nas cidades históricas do interior do país – sobretudo Cuzco – e nas ruínas de Macchu Picchu.
O crescimento é tão significativo que as agências de turismo ainda tateiam quais são os destinos que podem ser explorados no continente. “Acredito que o momento seja da Colômbia, que sempre esteve muito associada a problemas sociais, mas que agora abriu as portas para suas belezas naturais e históricas”, explica o diretor de marketing do ViajaNet, Gustavo Mariotto.
Para incrementar ainda mais as viagens pelo continente latino-americano, Qual Viagem indica quatro destinos alternativos – e pouco explorados – para você conhecer.
Baracoa – Cuba
A ilha caribenha se abriu completamente ao turismo nos anos 2000 como forma de receber mais investimentos e divisas internacionais e amenizar os efeitos do embargo promovido pelos EUA. No ano retrasado, foram 3,5 milhões de turistas estrangeiros, segundo o governo do país.
O turismo em Cuba se amparou sempre em alguns sensos comuns, como os carros antigos, as construções coloniais, as praias caribenhas e, claro, a Revolução Cubana. Pouco se sabe além disso. Assim, há pouco conhecimento sobre destinos como Baracoa, cidade a 1.000 km de Havana, na província de Guantánamo. Fundada em 1511 pelos espanhóis, ela é hoje uma pequena comunidade de pescadores e agricultores que vivem entre o mar e as montanhas do oriente cubano. Seu isolamento se deve principalmente à distância – cerca de 12 horas de carro saindo da capital do país.
Em Baracoa há um exemplar da cruz cristã que Cristóvão Colombo trouxe em uma de suas primeiras viagens à América, no século 14 – e, para não deixar de atrair mais viajantes, uma das praias mais bonitas da ilha, a de Maguana.
Mérida – Venezuela
Assim como Cuba, o imaginário brasileiro associa a Venezuela apenas à exportação de petróleo, ao governo de Hugo Chávez, morto em 2013, ou à crise política constante nos jornais nos últimos meses.
A Venezuela, porém, possui diversas praias caribenhas, cidades históricas ou locais para turismo alternativo. Um deles é Mérida, aos pés da Cordilheira dos Andes, que, por sua localização, possui clima frio quase o ano inteiro. Quase inexplorada, quem viaja para lá procura esquiar, passear nos bosques e visitar as montanhas geladas. Há também roteiros culturais voltados para conhecer tribos indígenas pré-colombianas e um grande teleférico – considerado o mais alto e mais longo do mundo, com 12 km de extensão a uma altura de 4 mil metros – no Pico Espejo. No primeiro trecho, a viagem é feita a 1.600 metros do solo.
Sucre – Bolívia
Capital boliviana, Sucre é conhecida no país como “cidade branca” por sua arquitetura toda pensada na mesma cor. Foi palco não apenas do início da exploração colonial no continente, mas também de um dos primeiros gritos por independência, em 1809. É considerada a primeira cidade da hoje Bolívia.
Boa parte das construções de Sucre é considerada Patrimônio Cultural da Humanidade na categoria Urbanismo e Arquitetura pela Unesco e, para além disso, é um terreno de exploração de paleontólogos interessados em ossadas de dinossauros – o que abastece os museus locais – e possui um mercado de frutas e carnes que abastece boa parte da região ao redor. Além disso, possui um roteiro religioso enorme, com igrejas, oratórios e conventos hoje abertos ao público.
Mar del Plata – Argentina
O balneário argentino preferido dos portenhos já fez parte de outra lista elaborada por Qual Viagem em julho, sobre os destinos alternativos a Buenos Aires para se conhecer no país. Destino comum da aristocracia argentina durante o início do século 20, hoje o local se destaca pelas mansões na beira da praia, pelos bangalôs na areia e pelas avenidas espaçadas.
Além da rambla e dos lobos-marinhos, que já foram citados anteriormente, Mar del Plata também aparece na cultura popular argentina por causa da poetisa Alfonsina Storni. Filha de família rica de San Juan, ela nasceu na Suíça durante uma viagem de verão em 1892. Na Argentina, ficou famosa por seus livros de poesia feminista e romântica. Diagnosticada com um câncer de mama, decidiu abandonar o tratamento e se suicidar nas águas de Mar del Plata. A versão mais comum diz que ela entrou no mar aos poucos até se afogar – e se tornou até canção na voz de Mercedes Sosa, que conta a história em Alfonsina y el Mar.
Texto por: Agência com edição Eliria Buso
Foto destaque por Istock/ x4wi